Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

sexta-feira, 15 de abril de 2011

GOLPE DA CRECHE - PF investiga deputados no ‘Golpe da Creche’

A Polícia Federal precisa de assinaturas mais antigas de Sandro Mabel e Raymundo Veloso para verificar se eles autorizaram ou não contratações de funcionários fantasmas num esquema que desviou R$ 2 milhões dos cofres da Câmara



Polícia pede assinaturas mais antigas de Sandro Mabel para saber se ele deu ou não autorizações para o golpe da creche


CONGRESSO EM FOCO Eduardo Militão

A Polícia Federal quer mais documentos com a assinatura do deputado Sandro Mabel (PR-GO) e do suplente de deputado Raymundo Veloso (PMDB-BA) para conferir se são mesmo deles as autorizações para a contratação de funcionários fantasmas pela Câmara. A partir dessas constratações, os salários e benefícios dos servidores, como o auxílio-creche, eram desviados para outras contas e terceiros. Ao menos parte do dinheiro pagou pessoas ligadas a Mabel. Mas, no ano passado, Mabel e Veloso disseram à Polícia Legislativa da Câmara que suas assinaturas foram falsificadas. Os investigadores pediram um exame grafotécnico ao Instituto Nacional de Criminalística (INC) da PF.

Em ofício à Polícia Legislativa, os peritos da PF dizem que o material colhido dos deputados é insuficiente para fazer comparações com os atos de nomeação dos funcionários fantasmas. Eles querem que os policiais da Câmara enviem documentos mais antigos, com as assinaturas de Mabel e Veloso feitas à época dos fatos. O que os peritos do Instituto Nacional de Criminalística (INC) da PF têm em mãos são autógrafos dos dois deputados colhidos especialmente para a elaboração do inquérito no Legislativo. Os peritos querem assinaturas mais antigas porque, ao longo do tempo, o deputado e o suplente podem ter modificado a forma como faziam suas firmas.


Assinatura de Mabel entregue à polícia


De acordo com o diretor da delegacia da Câmara, Antônio Mariano, a PF informou que o laudo, pela falta dessas assinaturas mais antigas, não ficou pronto. Por isso, já solicitaram aos órgãos administrativos da Câmara documentos com a assinatura dos dois deputados produzidos na mesma época em que foram contratados os funcionários fantasmas.

A assessoria da Polícia Federal foi procurada desde segunda-feira (11) pelo Congresso em Foco. Até o fechamento desta reportagem, não forneceu mais informações sobre o ofício enviado à Câmara e eventuais investigações sobre o caso na PF.

Mais de R$ 2 milhões

O desvio de dinheiro da Câmara por meio da contratação de fantasmas e outros métodos de fraudar a folha foi revelado pelo Congresso em Foco a partir de 2009. O caso ficou conhecido como o “golpe da creche”. Mais de R$ 2 milhões dos cofres públicos foram desviados.

O golpe consistia no seguinte. Um grupo de pessoas aliciava pessoas carentes no entorno do Distrito Federal e prometia a elas um benefício, como o Bolsa Família, proporcional à quantidade de filhos desses moradores. Em troca da promessa do benefício, as pessoas entregavam seus documentos à quadrilha, incluindo certidões de nascimento dos filhos. Sem que soubessem, eram transformadas em funcionárias da Câmara. Recebiam o benefício prometido, o restante (salários e outros benefícios) ficava com a quadrilha. Em outras variantes do golpe, funcionários que realmente existiam forjavam papéis para receberem um auxílio-creche maior e um vale-transporte mais polpudo. Havia ainda pessoas que conscientemente se tornavam fantasmas em troca de uma parcela da remuneração, como um cantor sertanejo de Taguatinga.

Mais de 90 pessoas foram indiciadas pela Polícia Legislativa da Câmara, mas nenhum parlamentar foi arrolado no rol de suspeitos. O exame grafotécnico da Polícia Federal, que poderia comprovar a participação de deputados na fraude, até hoje não ficou pronto. Os investigadores da Câmara consideram líderes da quadrilha um casal de servidores que trabalhava para Sandro Mabel e Raymundo Veloso.

O Congresso em Foco mostrou que Mabel chegou a ajudar a pagar um carro para o líder da quadrilha, o motorista Francisco José Feijão de Araújo, o Franzé. Da conta de uma das vítimas, saíram transferências para Franzé e para pessoas ligadas ao deputado Sandro Mabel, como aliados políticos, eleitores e funcionários do gabinete, além de seus familiares.

Em todos os episódios, o deputado Mabel negou participação nos desvios. “Não tenho nenhum compromisso com possíveis irregularidades que tenham sido cometidas por essas pessoas. Todos os que tiverem cometido alguma coisa errada serão demitidos, mas não vamos demitir com base em rumores”, disse ele em nota enviada ao Congresso em Foco em fevereiro do ano passado.

Veloso tentou a reeleição no ano passado e ficou apenas com a suplência. Ele disse ao site que não sabia da contratação de algumas servidoras em seu gabinete. Entretanto, acolheu o pedido feito pela mulher de Franzé, Abigail Pereira da Silva, acusada de liderar a quadrilha, de nomear pessoas carentes. “A Abigail falou comigo, disse que são pessoas amigas dela que estão passando necessidade. Se podia dar uma ajuda pelo gabinete, um salário mínimo para manter a família. Tinham filhos e gostaria de ajudá-las”, afirmou Veloso em entrevista ao site em novembro de 2009. As duas mulheres foram contratadas por ele.

Franzé e Abigail nunca retornaram os contatos do site para darem sua versão dos fatos. Diante da polícia, ficaram em silêncio.

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