Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

quinta-feira, 8 de março de 2012

DENGUE NO RIO - Doença era dengue e diagnóstico foi meningite


Exame que atestou verdadeira causa da morte de criança só foi feito no dia seguinte à internação em hospital, poucas horas antes do falecimento

POR Gardênia Cavalcanti

Rio - A morte do menino Rafael Wanderson de Castro Lourenço, 9 anos, entrou oficialmente para as estatísticas de vítimas fatais da dengue no município do Rio, como divulgou ontem a prefeitura. No atestado de óbito, porém, a causa da morte evidencia o erro de diagnóstico: meningite bacteriana. Os pais do garoto acusam o Hospital Estadual Rocha Faria, em Campo Grande, de erro, que acreditam que possa ter custado a vida do filho.

Edson e Maria acham que a demora no exame custou a vida do filho | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia

 O menino foi internado na unidade às 12h do dia 2 de fevereiro, passando mal. O exame de sangue (coleta de líquor) que diagnosticou a dengue, porém, só foi feito no dia seguinte, às 10h, cinco horas antes de ele morrer. “Não entendo por que só fizeram o exame que detectou dengue no dia seguinte. Em nenhum momento suspeitaram ser dengue. Desde o início achavam que era meningite bacteriana. Foi falta de procedimento correto. Os médicos deveriam ter pensado em outras possibilidades, e não focar o tratamento só em meningite”, desabafa Edson Ferreira de Castro Lourenço, 60, motorista, pai do garoto.

Ele conta que, dia 31 de janeiro, Rafael teve vômitos e queixou-se de dores de cabeça e na nuca. Ele foi levado à UPA de Campo Grande dia 1º, e exame de sangue não indicou dengue. No dia seguinte, ele foi levado ao Rocha Faria e internado na enfermaria pediátrica.

Rafael tinha apenas 9 anos | Foto: Divulgação

Sintomas parecidos

O infectologista da UFRJ Edimilson Migowski explica que algumas infecções por vírus, como a dengue, podem se agravar e evoluir para meningite viral (e não bacteriana). Mas casos assim são mais raros. Segundo ele, alguns sintomas da dengue e da meningite viral são semelhantes: dor de cabeça, febre, vômitos, dor na nuca, mal-estar. Já a meningite bacteriana apresenta sintomas parecidos, porém mais intensos. “Tratamento não adequado pode ter influenciado no quadro da criança. É importante enfatizar que, no verão, casos com sintomas típicos da dengue devem ser tratados como tal. É através da coleta de líquor que se identifica se uma doença é causada por vírus ou bactéria”.

Edson lembra que o filho chegou a ficar isolado no hospital. “Além disso, só deram remédios para tratar meningite. Uma enfermeira comentou com a gente que a demora no exame do líquor ia acabar piorando o estado do meu filho ”.

Estado alega que foi um ‘caso atípico’
A Secretaria Estadual de Saúde classificou a morte de Rafael como um ‘caso atípico’. Segundo o órgão, o vírus da dengue foi para o sistema nervoso central, por isso a criança apresentou sintomas de meningite. Ainda segundo a secretaria, ao ser internado no Hospital Rocha Faria, Rafael não tinha alteração indicativa de dengue.

“Os resultados dos hemogramas (feitos dias 2 e 3 de fevereiro) não mostraram alterações que indicassem o diagnóstico da doença. Por isso na certidão de óbito consta como causa da morte meningite bacteriana. Só quando o resultado da coleta de líquor ficou pronta, já após a morte do paciente, é que foi possível confirmar dengue e que este vírus acometeu o sistema nervoso central.”

Prefeito pede mais atenção
O prefeito Eduardo Paes disse, nesta quarta-feira, que médicos devem dar atenção aos sintomas que podem indicar dengue e ter este diagnóstico como primeira opção. “Não queremos que as pessoas morram por uma doença tão boba. Só posso lamentar a morte de uma criança, mas o que pedimos é que no caso de qualquer suspeita sejamos bem radicais e tomemos cuidado”.

Justamente para treinar os médicos no diagnóstico da dengue e no tratamento da doença, desde dezembro de 2011 médicos e enfermeiros de hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) passam por cursos de capacitação do Ministério da Saúde

A estratégia, diz a Secretaria Estadual de Saúde, reduziu óbitos. “De janeiro a março de 2011 houve 19 mortes, enquanto este ano houve uma (a de Rafael)”.
Fonte O Dia

Nenhum comentário: