POR AUGUSTO NUNES
Em julho, a Delta foi premiada pelo governo federal com um contrato sem licitação para a construção, no aeroporto de Guarulhos, de “um novo terminal remoto de passageiros” ─ bonito nome para o “puxadão” forjado pela repaginação dos antigos galpões de carga da Vasp e da Transbrasil, distantes dois quilômetros dos terminais de verdade. Escolhida para executar outro assombro do PAC, a empresa de Fernando Cavendish ─ que prospera com a ajuda dos garotos-propaganda José Dirceu e Sérgio Cabral ─ embolsou R$ 85,75 milhões. A quantia é 163% maior do que os R$ 32,5 milhões fixados originalmente pela Infraero.
Em compensação, explicou a presidente numa entrevista no Planalto, a obra ficaria pronta em seis meses. Para livrar Guarulhos do colapso previsto para o fim do ano, o governo resolvera que o terminal remoto seria inaugurado em 20 de dezembro. “Se a Delta não concluir, vai se tornar inidônea”, ameaçou em dilmês rústico. (Segundo o dicionário, inidôneo é quem não merece confiança, mente muito, não cumpre o que promete. Serve para empresas ou pessoas.) “O terminal tem de ficar pronto no dia combinado”, reiterou. Não vai ficar, informou nesta sexta-feira o desabamento de parte da estrutura do puxadão.
Se for considerada inidônea, a mina de ouro de Cavendish será impedida por cinco anos de fechar contratos com o governo federal. Para escapar do perigo, o amigo de Dirceu e Cabral pode exibir, em sua defesa, o vídeo reproduzido na seção História em Imagens, gravado em julho de 2007. Caprichando na pose de gerente de país, Dilma aparece anunciando o início das obras de ampliação de Guarulhos e Congonhas, e garantindo que o terceiro aeroporto de São Paulo havia enfim começado a sair do papel. Passados quatro anos e meio, o que há de novo na paisagem são puxadinhos e puxadões menos consistentes e confiáveis que uma explicação de Carlos Lupi.
A Delta e Dilma mentiram. A construtora está fazendo o que a presidente fez. Ambas são inidôneas
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