Fachada da Clissil Clínica São Silvestre, em São Gonçalo, onde a idosa teria sido atendida
Foto: Fabio Guimarães/ Extra
Por Carolina Heringer
No último dia 28, a correspondência que chegou à casa de Alex Inácio causou espanto: endereçada à sua mãe, a carta, enviada pelo Ministério da Saúde, pedia uma avaliação do atendimento recebido por ela na Clissil Clínica São Silvestre, em São Gonçalo, em novembro de 2011. A surpresa tem um bom motivo: Shirley Inácio de Oliveira morreu em 2009, dois anos antes da suposta internação.
Revoltado, Alex , de 33 anos, resolveu denunciar o caso para o ministério.
- Perdi a minha mãe há pouco tempo, e isso mexeu com as minhas lembranças. Abriu uma ferida que ainda não estava cicatrizada. E não me conformo com a possibilidade de o nome dela ter sido usado para uma fraude.
Explicações
Pelas informações da carta, Shirley teria ficado na clínica, que tem convênio com o Sistema Únicos de Saúde (SUS), entre os dias 16 e 17 de novembro de 2011, para tratar de doença do aparelho urinário. O custo do atendimento — R$ 218,68 — foi pago pelo SUS. De acordo com a família, a única passagem dela pela clínica foi há mais de 30 anos, quando deu à luz aos seus filhos. Segundo a família, Shirley nunca teve qualquer problema urinário.
A correspondência, enviada pelo Ministério da Saúde a partir dos dados que são fornecidos pelas unidades de saúde que fazem o atendimento, tem como objetivo avaliar o serviço prestado, além de identificar possíveis fraudes.
O advogado Eumano Magalhães, sócio da Clissil, alega que o erro foi da empresa terceirizada que faz o faturamento do hospital, a Ita Consultoria Engenharia Clínica. E complementa: outras 10 cobranças indevidas ao SUS, como no caso da mãe de Alex, foram feitas pela clínica. Magalhães alega, porém, que os equívocos foram constatados numa auditoria feita pelo hospital, e a quantia foi devolvida para o SUS. O Ministério da Saúde não confirmou a informação.
Um dos donos da Ita, Wanderley de Abreu, admite que o erro foi grave:
- Estou constrangido, mas já fizemos tudo que podíamos.
Uma carta com muitas interpretações
Família
O filho de Shirley conta que ela faleceu no Pronto Socorro Doutor Armando Gomes Sá Couto, em 2009, e só passou pela Clissil São Silvestre quando deu à luz aos seus filhos, o que aconteceu há 30 anos.
A clínica
A Clissil atribuiu a culpa à Ita Consultoria, que faz o faturamento do hospital. Na hora de preencher o nome do paciente, o sistema da empresa teria colocado um homônimo. Questionada sobre como a Ita teria os dados de Shirley, a clínica alegou que a empresa também faz o faturamento do pronto socorro onde ela morreu. A Secretaria de Saúde de São Gonçalo, porém, negou a informação.
A empresa
Um dos donos da Ita culpou seu funcionário que preencheu os dados pelo equívoco. "Infelizmente, faltou atenção dele", explicou Wanderley. Quando perguntado como teve acesso aos dados de Shirley, ele não soube informar.
Ministério da Saúde
A assessoria limitou-se a informar que o caso está sendo apurado e foi aberta auditoria pelo Denasus (Departamento Nacional de Auditoria do SUS).
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