Governo de SP pagou R$ 281 mi para Delta em 10 anos, diz jornal
TERRA
O governo do Estado de São Paulo pagou R$ 281 milhões entre 2003 a abril de 2012 à construtora Delta, investigada por envolvimento com o empresário Carlinhos Cachoeira. Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, o pico do gasto com a empresa foi no governo de José Serra (PSDB). Em 2008, ano de maior desembolso, foram pagos R$ 91 milhões. O maior contrato do governo paulista com a Delta foi assinado em 2009 para a ampliação da marginal Tietê. Um lote da obra foi vencido pelo consórcio integrado pela empresa. Na ocasião, a licitação foi vencida por R$ 287 milhões, mas o contrato foi aditado para R$ 358 milhões, 24,9% do valor inicial.
Na edição de sexta-feira, o jornal havia mostrado escutas telefônicas que indicam o contato direto entre Cachoeira e o diretor responsável pelos negócios da Delta em São Paulo, Heraldo Puccini Neto. Deputados estaduais do PT pediram anteontem ao Ministério Público Estadual "apuração de possível irregularidade, ilegalidade e improbidade" na conduta de Serra na obra. Ontem, o presidente da Assembleia Legislativa, Barros Munhoz (PSDB), disse não descartar a instalação de uma CPI para investigar contratos da Delta com o governo do Estado. Questionado, Serra se disse a favor de qualquer investigação, já a assessoria do governo disse que o aditivo na obra da marginal Tietê está dentro do limite legal e que "resultou de dificuldades climáticas e materiais imprevistas". O governo disse ter hoje três contratos com a Delta, no valor total de R$75,9 milhões.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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