DO VALOR
DE SÃO PAULO
Não há chance de o banco Cruzeiro do Sul voltar para as mãos do antigo controlador, afirmou nesta segunda-feira o Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
O diretor-executivo do FGC, Antonio Carlos Bueno, afirmou que será feito um trabalho para vender o Cruzeiro do Sul para outra instituição.
O fundo, entidade que protege depósitos bancários dos clientes, foi nomeado paraexecutar a gestão da instituição controlada pela família Indio da Costa após o Banco Central (BC) decretar Regime de Administração Especial Temporária (Raet). A ação da autoridade monetária havia sido antecipada pelo "Valor" no domingo.
Conforme a determinação anunciada nesta manhã pelo BC, o FGC foi instituído o administrador temporário e agora fará um balanço especial para apurar as condições econômico-financeiras do grupo. O prazo é de 180 dias.
Em caso de liquidação do Cruzeiro do Sul, o fundo informou que teria um desembolso de R$ 2,2 bilhões.
Desse valor, R$ 2,1 bilhões referem-se a Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE) e os R$ 100 milhões restantes a garantias de depositantes no montante de até R$ 70 mil por cliente, conforme estatuto da entidade.
Segundo Antonio Carlos Bueno, o fundo já aportou R$ 1,1 bilhão em um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) do Cruzeiro do Sul --de um total de R$ 4,2 bilhões--, mas vê "risco baixíssimo" de perda nesse caso.
INTERVENÇÃO
O BC anunciou a por problemas na contabilidade e descumprimento a normas do sistema financeiro. Foi detectado um rombo de R$ 1,3 bilhão decorrente de "insubsistência de crédito", o que significa que não há "evidências" de que operações nesse valor existam.
A intervenção não afeta o funcionamento do banco, que pode continuar a fazer operações nas áreas em que tem autorização para atuar. O prazo para pagamento de dívidas e as datas de vencimento de compromissos de terceiros com a instituição também seguem o cronograma original.
A BM&FBovespa suspendeu as negociações com as ações do Cruzeiro do Sul, listadas sob o código CZRS na Bolsa, aguardando esclarecimentos.
As ações do banco Cruzeiro do Sul, no entanto, poderão ficar até dois meses sem ser negociadas em Bolsa. O FGC quer que as ações só voltem a ser negociadas quando houver uma definição da situação patrimonial do banco.
BALANÇO
O Cruzeiro do Sul teve prejuízo de R$ 57 milhões no primeiro trimestre, ante lucros de R$ 32 milhões no quarto trimestre de 2011 e de R$ 41 milhões um ano antes.
O banco vendeu mais de US$ 300 milhões em títulos nos mercados internacionais no ano passado, mas essa fonte secou em decorrência da crise de dívida que atingiu países da Europa.
O Cruzeiro do Sul foi comprado em 1993 pela família Indio da Costa e no mesmo ano ingressou no mercado de crédito consignado. Segundo o site da instituição, atualmente, o banco é parte de 337 convênios de crédito consignado a funcionários públicos, aposentados e pensionistas no país.
Na semana passada, a instituição confirmou que estava em negociação para uma possível venda de suas operações. Segundo reportagem do jornal "Valor Econômico", o BTG Pactual seria um dos interessados no negócio. O banco de André Esteves afirmou, na época, que analisava constantemente oportunidades de mercado.
OUTROS BANCOS
Em outubro do ano passado, o BC decretou a liquidação extrajudicial do Banco Morada, com base em relatório de interventor que apontou situação de insolvência do banco e violação de regras legais.
A liquidação extrajudicial do Morada foi a primeira feita pelo BC desde o Banco Santos, em maio de 2005, e ocorreu depois que a autoridade monetária detectou em 2010 fraude bilionária em vendas de carteiras do Banco Panamericano, que acabou vendido ao BTG Pactual.
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