O Globo
O jogador Ronaldinho Gaúcho fechou sua passagem pelo Flamengo deixando espetada uma fatura de R$ 40 milhões, cobrados por ele na Justiça por supostos direitos pecuniários, e em aberto uma questão que ameaça o futebol brasileiro — a falta de profissionalismo que leva atletas e dirigentes a apostar na falta de punição.
Embora não desejável pelos torcedores rubro-negros, era previsível que a passagem do jogador pela Gávea desandasse. O contrato juntava duas partes com encontro marcado com o litígio.
De um lado, um jogador recebendo salários irreais para os padrões do mercado brasileiro, e, por isso mesmo, alvo de constantes — e justas — cobranças, da torcida e do clube, pelo viés do custo x benefício; de outro, dirigentes sempre prontos a passar a mão na cabeça do atleta a cada desvio de conduta, concedendo-lhe, implicitamente, salvo-conduto para um comportamento que afrontava não só seus companheiros de time, mas igualmente a instituição a quem devia respeito.
O fio a unir estas duas extremidades de uma mesma ruína esportiva e administrativa é conhecido. Não é outro senão o crônico amadorismo que marca a gestão do esporte no Brasil.
Casos como o de Ronaldinho não são os primeiros a macular a gestão dos clubes no país do futebol. Tampouco este deverá ser o último episódio do tipo. A tempestiva saída do jogador com uma liminar debaixo do braço, a princípio — até que a Justiça trabalhista dê a palavra final —, deixa o Flamengo como refém de uma reivindicação salarial.
Não é exclusividade rubro-negra: outros clubes já estiveram nesta situação.
A questão que o imbróglio Ronaldinho deixa em aberto — o amadorismo nos clubes de futebol — se assenta em duas vertentes. No lado dos jogadores, veja-se, por emblemática, a trajetória do agora ex-atleta rubro-negro até vestir o uniforme de candidato a ídolo: primeiro, deslumbrou o mundo quando efetivamente estava em forma; depois, com salários demais e futebol de menos, voltou-se para o mercado brasileiro, mantendo o padrão salarial, mas, por liberalismo da Gávea, sem a “indesejável” contrapartida que lhe era exigida na Europa — manter a forma física e jogar bola, ou seja, fazer jus aos salários com sua força de trabalho, como qualquer trabalhador.
Já no que diz respeito aos clubes, a falta de profissionalismo na gestão, principalmente pela inexistência de responsabilização cível dos dirigentes, é a porta pela qual entra no gerenciamento das agremiações toda sorte de espertezas, paternalismos e de temerários métodos administrativos.
Não é à toa que, mesmo afundados em impagáveis dívidas com órgãos públicos, os clubes preferem manter métodos cartoriais de gestão a renegociar seus débitos em troca de uma profunda revisão dos conceitos administrativos, ao menos nos departamentos de futebol.
Outros Ronaldinhos virão e outros clubes afundarão em novas dívidas enquanto o futebol brasileiro não discutir, a sério, a adoção de métodos de gestão empresariais, com seus diretores alcançáveis pela responsabilização cível, como qualquer executivo.
É o caminho para acabar com a farra dos atletas sem compromisso com seu trabalho e cartolas embevecidos pelas facilidades com que lidam com altas somas praticamente sem dever prestação de contas.
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