Cabral se recusa a dizer quem foram os clientes de sua consultoria
RUBENS VALENTE
ANDREZA MATAIS
FOLHA DE SÃO PAULO
BRASÍLIA -
O governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB-RJ), se recusou a informar à Folha a lista dos clientes de sua empresa de consultoria em publicidade, a SCF, sigla que remete às iniciais do nome do peemedebista.
A propriedade da empresa foi declarada pelo governador à Justiça Eleitoral em 2010, no valor de R$ 90 mil, mas estaria "inoperante" desde 2006, segundo a assessoria de imprensa de Cabral.
Indagado sobre os clientes da empresa anteriores a janeiro de 2007, o governador respondeu, por meio de sua assessoria: "Trata-se de um assunto privado. Mas posso garantir que nem a Delta nem qualquer empresa prestadora de serviços do Estado foi cliente da SCF".
A Delta Construtora será investigada pela CPI do Cachoeira do Congresso por supostas relações com as atividades do empresário de jogos ilícitos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Seu dono, Fernando Cavendish, e Cabral foram flagrados juntos em vídeos recentes divulgados pelo site do deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), adversário político do peemedebista, em viagens luxuosas à Europa.
Após a divulgação das imagens, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu informações a orgãos de controle sobre os contratos da Delta com o governo do Rio e dois requerimentos foram apresentados à CPI do Cachoeira solicitando a convocação do governador.
Um dos sócios de Cabral na empresa de consultoria, Carlos Emanuel de Carvalho Miranda, é citado no relatório final da Operação Castelo de Areia, desencadeada em 2008 pela Polícia Federal para investigar a empreiteira Camargo Corrêa. Miranda é casado com uma prima-irmã de Cabral, de quem é "amigo desde a adolescência", segundo a assessoria do governador.
Miranda também é sócio de um irmão do governador em outra empresa.
Segundo o relatório, Miranda foi citado pelo doleiro de São Paulo Kurt Pickel, um suposto operador financeiro clandestino da empreiteira, e teria recebido propina de pelo menos R$ 177 mil em espécie como parte de um acordo de R$ 40 milhões feito entre o governo do Rio, a CC e a operadora do Metrô, a Opportrans, em torno da concessão para exploração do metrô.
Na residência de Pietro Bianchi, um consultor da empreiteira, a PF apreendeu manuscritos e uma tabela que, segundo a PF, ligavam pagamentos de pelo menos R$ 843 mil ao secretário e braço direito de Cabral, Wilson Carlos de Carvalho.
Em outras oportunidades, o governo negou irregularidades no acordo financeiro com a Opportrans e a CC. Em 2010, após a Folha revelar as citações ao secretário Wilson Carlos, ele "negou veementemente" qualquer recebimento de valores. Miranda, procurado ontem, não foi localizado.
O outro sócio do governador na empresa de consultoria é Ricardo Rocha Cota, é subsecretário de Comunicação Social do governo Cabral. Procurado ontem para falar sobre as atividades da empresa de consultoria, ele não ligou de volta para a Folha.
Colaborou José Ernesto Credendio, de Brasília
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