FOLHA DE SÃO PAULO
RIO - Moradores do Edifício Hilton Santos, que fica em uma área nobre do Flamengo, na zona sul do Rio, protestaram ontem (6) contra a possível transformação do imóvel residencial em hotel.
O edifício, que pertence ao clube Flamengo, foi arrendado em março para a REX, empresa imobiliária do empresário Eike Batista. Há 20 dias, os moradores vêm recebendo comunicações extrajudiciais dando-lhes o prazo de um mês para deixarem os apartamentos.
Segundo o presidente da associação de moradores, Hilton Barredo, o prédio foi construído em área da União com a condição de abrigar a sede social do clube e 148 apartamentos para aluguel --hoje, só 46 estão ocupados. Assim, não poderia ser transformado em hotel.
O prédio fica na avenida Rui Barbosa, de frente para o Aterro do Flamengo e considerada residencial até 2009.
Em 2010, a Câmara Municipal aprovou que a avenida fosse incluída no pacote olímpico, permitindo a transformação de imóveis residenciais em hotéis. O projeto foi apresentado por um grupo de vereadores que inclui a presidente do Flamengo, Patrícia Amorim.
Barredo também acusa o clube de abandonar o edifício e de não repassar à prefeitura o IPTU que seria pago pelos inquilinos. "Meu apartamento tem três anos de dívida ativa, mas eu paguei", diz.
Advogado dos moradores, Vitor Lemos diz que todos pleiteiam permanecer no prédio, mas por razões distintas. "Há os locatários, que desejam que seus contratos sejam cumpridos; e os comodatários, como um casal de idosos que mora aqui há 20 anos. Eles são pais de ex-atleta e nunca pagaram nada, mas o Flamengo também não reclamou. Entendem que o apartamento ficou como pagamento pelos serviços."
A professora Maria Helena Andrade Guimarães, 64, mora no edifício há 32 anos. Incluindo IPTU, ela paga R$ 3.600 por mês por um apartamento de 180 metros quadrados, três quartos e vista para a baía de Guanabara. "[O aluguel] é baixo, mas o Flamengo nunca falou em reajustar", admite ela.
Para a vereadora Sonia Rabello (PV), que apoiou a manifestação, a prefeitura deveria executar a dívida de IPTU do Flamengo. "Caracteriza uma apropriação de recursos públicos que, se comprovada, representa enriquecimento ilícito."
OUTRO LADO
Acusado de defender interesses da Construtora Wrobel na negociação entre o clube e a REX, o vice-presidente de Patrimônio do Flamengo, Alexandre Wrobel, disse que a acusação é "leviana". O vice-presidente nega que o abandono do prédio seja proposital, afirma que as dívidas de IPTU do clube estão parceladas e que o projeto da REX foi aprovado pelo conselho deliberativo do Flamengo, não cabendo aos inquilinos questionar a destinação do imóvel.
"Virando hotel ou não, será desocupado porque precisa de uma reforma estrutural, elétrica e hidráulica", afirmou. Segundo ele, a obra custaria R$ 30 milhões e o clube não tem verba.
A REX nega que a Construtora Wrobel vá cuidar da reforma do prédio, na qual promete investir R$ 100 milhões. Afirma que o projeto do escritório de arquitetura Paulo Casé contempla um hotel com 454 quartos, áreas de lazer, lojas, restaurantes, piscina, salas de reunião e novos andares de garagem, modernizando fachada, elevadores, corredores, portaria e instalações prediais.
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