Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

sábado, 5 de maio de 2012

HELICÓPTEROS NO RIO - Vinte associações de moradores da Zona Sul farão na Lagoa protesto contra barulho de helicópteros


Polêmica que nem o girar das hélices consegue abafar

O Globo

Uma aeronave sobrevoa a Lagoa: um morador do Jardim Botânico contou uma média de 250 voos durante o carnaval
MÁRCIA FOLETTO / O GLOBO


RIO - Durma-se com um barulho desse: 250 voos de helicópteros sobre a sua casa por dia. Foi a esse total que chegou o administrador Jeffrey Brantly, morador do Jardim Botânico, quando resolveu contar quantos voos desses aparelhos passaram próximo à sua residência durante o carnaval passado, a maioria em rotas turísticas que incluíam uma visão bem de perto do Cristo Redentor. Uma sinfonia ensurdecedora, às vezes até de noite, que já o faz pensar em se mudar do lugar onde vive há 25 anos. E que incomoda milhares de moradores de vários bairros do Rio. Tanto que neste domingo, às 11h, acontecerá uma manifestação junto ao heliponto da Lagoa, contra o excesso de ruído provocado pelas aeronaves.

— Se não houver uma solução para tanto barulho, vou vender minha casa. Está um inferno. Quando os helicópteros passam, não conseguimos conversar, ver TV, nada. No dia 22 de janeiro, fiquei em casa e contei 122 voos. No carnaval, contabilizei em média 250 por dia. Quando cheguei, este era um dos bairros mais silenciosos do Rio. Agora, por causa do aumento do número de helicópteros, é dos mais barulhentos — afirma Brantly.

Abaixo-assinado vai ser entregue ao MP

Ele é um dos que farão neste domingo o protesto, organizado pelo movimento batizado de Rio Livre de Helicópteros Sem Lei. A manifestação contará com a participação de pelo menos 20 associações da Zona Sul. E reunirá moradores de bairros como Humaitá, Jardim Botânico, Botafogo, Urca, Lagoa, Ipanema e Santa Teresa. De acordo com Regina Chiaradia, presidente da Associação de Moradores de Botafogo, a intenção é chamar a atenção de órgãos como Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) e Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O heliponto da Lagoa foi escolhido por ser o principal lugar de partida dos voos turísticos do Rio.

— Botafogo, por exemplo, é rota das aeronaves que vão para o Cristo e o Pão de Açúcar. Nos fins de semana, às vezes é um helicóptero a cada cinco minutos. É preciso haver alguma regra. Fizemos um abaixo-assinado (com quase três mil nomes) e vamos entrar com uma representação no Ministério Público estadual para tentar alguma providência — diz Regina.

No caso do heliponto da Lagoa, o espaço é da prefeitura, mas está, em concessão, cedido às empresas Helisul e Helisight, do mesmo grupo, que exploram voos panorâmicos e táxi aéreo. Nesta sexta-feira, nenhum representante do grupo comentou a reclamação dos moradores.

A polêmica sobre uso do heliponto é antiga. Em maio de 2008, o lugar chegou a ser fechado pela prefeitura, por falta de segurança, mas logo foi reaberto. Em setembro, o MP ingressou com uma ação civil pública pedindo a interdição definitiva do local, alegando que o uso do heliponto feria o tombamento da Lagoa, cujo entorno deveria ser destinado apenas a lazer. A ação ainda está em curso.

Da Lagoa também partem helicópteros do governo do estado, como os da Polícia Civil. Em relação a esses, segundo representantes das associações da Zona Sul, já foram atendidos alguns pedidos dos moradores. A Polícia Civil, por exemplo, anunciou que a aproximação e a saída só poderão ser feitas sobre a água, evitando o sobrevoo, em baixa altura, de casas e prédios.

Mas a grande parte dos voos, dizem os moradores, é mesmo de passeios e táxi aéreo, cujas rotas e altitudes são regulamentados pelo Decea, vinculado ao Ministério da Defesa. Perguntado ontem sobre as principais rotas e o número de voos realizados na cidade do Rio, o órgão disse que seria preciso fazer um levantamento complexo, que demoraria alguns dias. Já a Anac informou somente o número de helicópteros registrados no Estado do Rio, 386 — a segunda maior frota do país (atrás de São Paulo, com 654).

Para os próximos dias, segundo o subsecretário executivo do Ambiente, Luiz Firmino, será convocada uma reunião com Decea, Anac, Inea, Instituto Chico Mendes (que administra o Parque Nacional da Floresta da Tijuca) e os principais operadores de helicópteros do Rio. No encontro, afirma ele, a secretaria discutirá regras para a operação dos voos, como horários e altitudes permitidas, além de rotas de aproximação e saída. Já o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, afirmou que, diante das constantes reclamações, a secretaria medirá o ruído provocado pelos helicópteros.

— Vamos medir os decibéis nos bairros, em horas diferentes. E vamos comparar os resultados com as leis existentes — disse ele.

Já a Secretaria municipal de Transportes informou que o contrato de concessão do heliponto da Lagoa não dá ao município mecanismos para reduzir o número de voos. Nem prefeitura, nem Decea, nem as operadoras do heliponto informaram o número de voos feitos no local.

Não é apenas na Zona Sul que os moradores sofrem com o ruído dos helicópteros

Na Barra da Tijuca e em Jacarepaguá, apesar de recentes mudanças de rotas definidas pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), os sobrevoos dos helicópteros continuam sendo uma dor de cabeça, principalmente para quem vive próximo ao Aeroporto de Jacarepaguá, que nos últimos anos vem registrando um crescente número de voos.

Representante da Associação de Moradores da Orla da Lagoa da Tijuca, Luci Augusta de Carvalho, por exemplo, diz que os helicópteros dão rasantes bem próximos aos prédios. E além do barulho, que incomoda moradores e assusta as aves da região, ela destaca que o grande número de aeronaves pode representar um risco de acidentes.

— E tenho certeza de que o número de clientes desses helicópteros é muito menor do que o da população afetada. É perigoso e barulhento. Fico imaginando um dia que houver um acidente. Nossa sugestão é a transferência desses voos para outras regiões menos habitadas, como Guaratiba — diz ela.

No caso do Aeroporto de Jacarepaguá, são voos particulares, táxis aéreos e operações ligadas às empresas off-shore, como a Petrobras. De acordo com a Infraero, em média, cerca de 75% dos pousos e decolagens do aeroporto são de helicópteros (4,59 mil dos, em média, 6,01 mil voos do aeroporto por mês). E, por ano, o número de voos vem crescendo. Segundo dados da Infraero, em 2010 um total de 51.447 helicópteros pousaram e decolaram do Aeroporto de Jacarepaguá. Em 2011, esse número passou para 52.337.

Dali, os voos partem para destinos como Angra dos Reis, Macaé e o Aeroporto Santos Dumont. Este último que também tem um grande movimento de helicópteros, com média cerca de 2.600 pousos, decolagens ou sobrevoos por mês.

Iniciativas de moradores forçaram mudanças na Barra

No caso do Aeroporto de Jacarepaguá, no início deste ano o Decea anunciou novas rotas de circulação aérea de aviões e helicópteros, depois de uma série de queixas de moradores do Condomínio Nova Ipanema e de outros da região. Uma das novas rotas passa pelo Quebra-Mar e sobre as lagoas da Tijuca, Camorim e Jacarepaguá. Em outra, a manobra de pouso acontece na altura da Avenida Ayrton Senna. Para os próximos meses, no entanto, espera-se que sejam anunciadas novas regras, com objetivo de afastar as rotas das zonas habitadas.

Além disso, a partir de 2015, a expectativa é de que reduza em até 10% o movimento de pousos e decolagens de helicópteros do aeroporto, com a transferência de voos da Petrobras para um aeródromo que está sendo construído em Itaguaí

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