sábado, 26 de maio de 2012

CPI DO CACHOEIRA - Para ter Perillo, PT já admite 'entregar' Agnello Queiroz. PMDB insiste em poupar Cabral


Governistas decidem convocar Perillo na CPI e, encurralado, PT pode rifar Agnelo
PMDB insiste em poupar Cabral e avisa que vai retaliar se o governador fluminense for convocado

Eugênia Lopes, de O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Os partidos aliados aceleraram o fechamento de um acordo para aprovar apenas a convocação do governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, na reunião administrativa prevista para terça-feira. Diante do mal-estar e de ameaças do PMDB, os petistas concordaram em manter a blindagem ao governador do Rio, Sérgio Cabral. Por ora, a estratégia é tentar poupar o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), mas setores do PT já admitem deixá-lo à própria sorte se a oposição ameaçar paralisar a CPI.

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A alegação para poupar os governadores de partidos da base aliada é de que eles não aparecem envolvidos diretamente com o esquema ilegal do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Mas os aliados já foram avisados de que essa ação cirúrgica para atingir apenas o tucano pode paralisar a CPI e forçar uma operação toma-lá-dá-cá, com o sacrifício do petista.

Para preservar Cabral, o PMDB ameaçou: se o governador fluminense for convocado, o PT ficará isolado na CPI. O “troco”, segundo um peemedebista, virá na aprovação de requerimentos com “alto teor de periculosidade para o governo”, como a convocação de Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit), e a quebra dos sigilos de todos os contratos da Delta com o governos federal e estaduais. A Delta é a maior empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O argumento dos aliados para restringir a convocação ao governador tucano é que Perillo está envolvido “até a alma” no esquema de Cachoeira. A situação do governador ficou ainda mais complicada depois do depoimento do ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez, que apresentou versão diferente da de Perillo para venda da casa do governador, onde Cachoeira foi preso.

A avaliação dos governistas é que tanto Agnelo quanto Cabral não aparecem envolvidos diretamente com o contraventor nas investigações deflagradas pelas operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. Daí serem desnecessárias as convocações.

“Qual foi o envolvimento do Agnelo?”, pergunta o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos integrantes da CPI. “O Sérgio Cabral nem foi citado em nenhum dos episódios”, defendeu o petista. O mesmo não ocorre, segundo avaliação dos aliados, em relação a Perillo, que a cada dia fica mais enredado com os negócios irregulares feitos pela quadrilha comandada pelo contraventor.

A estratégia montada pelos governistas é votar cada requerimento de convocação separadamente. O relator Odair Cunha (PT-MG) já avisou à oposição que não vai aceitar que os pedidos de convocação sejam votados em bloco na sessão de terça-feira. O argumento é que a CPI está analisando condutas individuais dos governadores e, por isso, não há motivos para fazer uma votação conjunta.

Suplente na CPI e aliado do governador Cabral, o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) apresentou requerimento para convocar o governador de Tocantins, o tucano Siqueira Campos. A ideia é acuar ainda mais a oposição, que já está obrigada a passar pelo desgaste de defender Perillo. O nome de Siqueira Campos surgiu em grampos na Operação Monte Carlo. Como a Delta tinha interesse em fechar contratos no Estado, Cachoeira teria oferecido benesses aos aliados do governador tucano.

Reação. A oposição promete espernear e não deixar apenas o governador tucano “ir para a forca”. Mas sabe, de antemão, que não dispõe de votos suficientes para barrar o trator do governo na CPI do Cachoeira. Dos 32 integrantes, os oposicionistas têm só sete votos na comissão. Os chamados parlamentares independentes deverão ficar ao lado do governo, diante dos fortes indícios de ligação de Perillo com o Carlos Cachoeira.

Os peemedebistas ainda estão irritados com o relator Odair Cunha, que defendeu a quebra do sigilo bancário da Delta Construções em nível nacional e de seu principal acionista, Fernando Cavendish. Além de a empreiteira ter contratos com o governo do Rio, Cavendish é amigo íntimo de Sérgio Cabral.

Na tentativa de acalmar o PMDB, o relator deu sinais de que vai recuar e desistir de apoiar o requerimento de abertura das contas da construtora. Esse requerimento também está previsto para ser votado na sessão de terça-feira junto com as convocações dos governadores.

Para voltar atrás, Cunha alegou que a Operação Saint-Michel (que deu continuidade à Monte Carlo) já abriu as contas da Delta.

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