Por Paulo Pacini
A colonização do Rio de Janeiro tem uma história rica em todo tipo de episódios, com páginas heróicas, outras tristes e algumas até mesmo cômicas. É normalmente aceito como origem da cidade o ano de 1567, após a expulsão dos franceses, ou a fundação da cidade velha no morro Cara de Cão em 1565, mas, se quisermos ser rigorosamente justos, temos de considerar a iniciativa dos franceses, que em 1555 aqui chegaram para ocupar uma terra até então abandonada, pois o esforço de Portugal se concentrava no norte do país, desde a capital da colônia, Salvador.
Visando fundar um núcleo protestante no hemisfério Sul, a "França Antártica", Villegagnon e seus homens iniciaram a povoação, a qual ocorreu com muitos conflitos, refletindo o contexto francês da época, com as guerras de religião. Villegagnon tinha apoio importante, o do almirante Coligny, de grande ascendência sobre o rei Carlos IX, mas que não conseguiu os recursos necessários para o projeto de Villegagnon. Algumas das razões para o fracasso desta iniciativa podem ser melhor compreendidas no filme A Rainha Margot, onde o próprio Coligny é assassinado na noite de São Bartolomeu, em 1572. Protestantes e católicos estavam ocupados demais se trucidando para dar alguma atenção a uma colônia perdida no sul do Atlântico.
Trilhos na antiga Casa do Trem, atual
Museu Histórico Nacional
(Revista Eu sei tudo, julho de 1919)
Expulsos da Guanabara, em 1567, os franceses deixaram construções e vestígios em alguns lugares, como na Praia do Flamengo, Ilha do Governador e no Forte Coligny, a Ilha de Villegagnon, onde está hoje a Escola Naval. Os portugueses, aproveitando o espólio do inimigo, incorporaram a fortificação da ilha, e, complementando a defesa, erigiram o Forte de São Sebastião, no alto do Morro do Castelo.
O governador Salvador Corrêa de Sá, considerando insuficiente as defesas, criou mais uma bateria de canhões na base do Morro do Castelo, obra que só terminaria em 1603, com Mem de Sá, e que recebeu o nome de Forte de São Tiago. Reconstruído em 1693, foi nesta época agregado um novo anexo, o Calabouço, e, em 1762, Gomes Freire inaugura a Casa do Trem, destinada à guarda dos equipamentos de artilharia. O nome "trem" deve-se aos trilhos sobre os quais corriam os canhões e outras peças de grande peso. A seguir, o vice-rei Conde da Cunha, instala, em 1764, o Arsenal de Guerra, aumentando dessa forma o complexo militar.
Mas, além das atividades bélicas, a Casa do Trem é célebre noutro sentido, pois lá fundiram-se as primeiras estátuas do Brasil, a Ninfa Eco e o Caçador Narciso, feitas por Mestre Valentim em 1785 e que adornavam uma de suas mais belas obras, o Chafariz das Marrecas, demolido em 1906. As obras foram salvas e estão há um século no Jardim Botânico.
Em 1897, no início do período republicano, o Arsenal foi palco de um acontecimento dramático, quando, em 5 de novembro, o presidente Prudente de Morais sofre atentado e é defendido pelo marechal Machado Bittencourt, que falece após ser ferido por Marcelino Bispo, um dos muitos florianistas fanáticos da época, que aspiravam a uma ditadura militar. Até hoje se encontra uma estátua no local do atentado, homenageando o falecido marechal, cujo sacrifício talvez tenha impedido uma crise política de maiores dimensões.
Em 1922, o Arsenal é transformado no Museu Histórico Nacional, iniciando suas atividades durante a Exposição do Centenário, atividade na qual continua até os dias atuais. É mais uma peça do patrimônio histórico que estava marcada para a destruição, sendo felizmente salva pela iniciativa responsável de alguns poucos
Fonte JBlog
Um comentário:
Fui ao MHN por duas vezes nos últimos 20 dias, mas não me lembro de ter visto o prédio da foto, nem vestígios dos trilhos. Terá mudado tanto assim? Já vi que terei de voltar lá para conferir.
Gostei do relato histórico, muito interessante.
Abraços!
José Luiz
@zlzjr
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