terça-feira, 13 de abril de 2010

ESPORTE/BASQUETE - Demissão do técnico e problemas fiscais instalam crise no basquete de Londrina

Eliminado do NBB, o clube paranaense está com repasse governamental retido e deve salários a jogadores que defenderam o time em 2009/2010

Mariana Kneipp Rio de Janeiro
Penúltimo lugar no Novo Basquete Brasil, demissão do técnico, jogador gravemente lesionado e nebulosidade na prestação de contas de 2009. A soma de todos esses fatores pode tirar o Londrina da terceira edição do NBB, caso a diretoria não consiga reerguer o clube após a temporada de perdas dentro e fora da quadra. A instituição deve salários aos jogadores, o treinador Ênio Vecchi saiu da equipe pela porta dos fundos e o ala-pivô Bernardo Alves aguarda na casa dos pais a solução financeira para poder operar o joelho lesionado na partida contra o Flamengo há mais de um mês. As explicações de dirigentes e atletas se confrontam, e a crise foi instalada nos corredores do ginásio Moringão.

Divulgação/Assessoria de Imprensa

Ênio Vecchi e os jogadores do Londrina durante o intervalo de uma partida da segunda edição do NBB

Com uma história de dedicação ao basquete de Londrina, Ênio Vecchi se diz magoado com o desrespeito apresentado pela diretoria da Associação Desportiva Londrinense (ADL). O técnico afirma que foi demitido enquanto esperava na fila de uma lotérica da cidade.

- O sistema estava fora do ar, então esperei na fila. Recebi uma ligação do Leitinho (diretor de esportes), que me perguntou onde eu estava e disse que precisava falar comigo. Eu não podia sair dali, então ele falou que viria ao meu encontro. E o fez. Quando chegou, disse que o presidente mandou me demitir. Questionei o motivo e ele disse que não sabia qual era. A minha sorte é que eu sou uma pessoa conhecida na cidade e outras pessoas assistiram a tudo aquilo. O presidente diz que não foi assim, que houve uma reunião. Se ele acha que me dispensar em um saguão de hotel é mais requintado, também não tem cabimento – afirmou Ênio.
A versão do técnico é contestada pelo presidente da ADL, Paulo Chanan. O dirigente o acusa de tentar sabotar a participação do Londrina na terceira edição do NBB.

- Ele foi demitido no saguão do hotel, sim, por um diretor da associação. Foi uma conversa tranquila e com muito respeito. Explicamos que não teríamos como pagar o salário que ele recebe, pois haverá uma reestruturação no clube. O que aconteceu realmente que o Ênio não conta é que descobrimos que ele estava montando uma associação para roubar a nossa vaga no NBB. Se mostrou esse interesse, é porque não queria trabalhar mais aqui. Agora se faz de vítima. Criou uma comoção na cidade. Eu nunca demitiria alguém assim, isso é um absurdo – garante Chanan.

Ênio nega a intenção de formar uma nova equipe em Londrina. Apesar disso, o técnico diz que todos os jogadores do time estão ao seu lado, caso precise, já que os atletas e a comissão técnica lutam juntos pelo direito de receber os salários atrasados.

- Não recebemos integralmente desde o início dessa edição do NBB (outubro). Tivemos muitos problemas de estrutura, faltou muita coisa. Mesmo assim, disputamos um campeonato digno. Isso tudo é uma falta de respeito com Londrina, que respira basquete. Agora, estou demitido. Não pedi, mas todos vieram me dizer que se solidarizam comigo e não querem mais jogar pela ADL de jeito nenhum – contou Ênio. Segundo Chanan, o clube deve apenas dois salários.

Clube também enfrenta problemas fiscais
  

Divulgação/Divulgação

Parecer da FEL para ADL, assinado por Pedro Lanaro e datado de 3 de dezembro de 2009

O repasse de verba da Fundação de Esportes de Londrina (FEL), um dos principais patrocinadores do time, para 2010 foi retido devido à instituição relatar “estranheza” à prestação de contas de 2009. A gerência financeira da FEL afirmou que o valor de R$ 210 mil, que seria entregue à Associação Desportiva Londrinense (ADL) por meio do Fundo Especial de Incentivo ao Esporte (Feipe), não chegará ao clube enquanto a diretoria não “explicar e apresentar documentos” para comprovar a veracidade dos dados fiscais apresentados. Entre os questionamentos, estão emissão e saque de cheques de 2010, que estariam, portanto, fora de vigência da verba de 2009, sendo uma única folha relacionada ao pagamento de 460 sanduíches, totalizando o valor de R$ 2,3 mil.

- O acordo não foi firmado devido a essas pendências que estão listadas no documento assinado pelo presidente da FEL, Sr. Paulo Roberto Oliveira. As notas precisam ser justificadas e documentos têm de ser recolhidos. Nosso próximo passo é enviar o que foi constatado à controladoria do município para que possam verificar o que é necessário ser sanado – relatou o diretor técnico da FEL, Pedro Lanaro.

O dirigente afirma que o convênio com a ADL, que após notificada do ocorrido não procurou a FEL, pode ser restabelecido assim que a situação for resolvida. Porém, o prazo final para os esclarecimentos será firmado apenas pela controladoria.

De acordo com Paulo Chanan, a demissão do técnico Ênio Vecchi também é responsável pelos problemas com a FEL. O presidente garante que a instituição já concedeu pareceres técnico, financeiro e fiscal para a liberação da verba de 2010 e, após a quarta parcela, decidiu rever a decisão e contestar notas do primeiro repasse do ano. O GLOBOESPORTE.COM teve acesso ao documento técnico, no entanto, ao procurar a FEL para tomar conhecimento da existência dos pareceres financeiro e fiscal, não encontrou o contador responsável.

- Não há irregularidade. Se tinha algum problema, por que aprovaram as quatro primeiras parcelas? Lembro que não receberíamos a seguinte se tudo não estivesse correto com a anterior. Posso explicar tudo o que alegam. Os cheques que foram emitidos e sacados são relacionados a movimentações de patrocinadores, que estão vinculados à mesma conta do convênio. O extrato é integral e por isso viram problema onde não existe. Os sanduíches foram comprados com um único cheque porque era uma conta mensal, que pagaria a alimentação de 40 dias. Além disso, citam que meu irmão trabalhou para o clube. Pois bem, em todas as modalidades de esporte de Londrina há a mesma situação. Ou seja, estão levantando suspeitas sem embasamento legal. Engenharia por conta da demissão do técnico. Todos ficaram comovidos – afirma Chanan.


 


 

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