Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Rio inaugura em março primeiro núcleo de apoio a jovens dependentes de jogos eletrônicos no Brasil

País tem 4,5 milhões de pessoas com sintomas de uso abusivo da rede e tendência é que número aumente nos próximos anos

Lucas Frasão, do R7

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Estudos apontam que cerca de 5% das pessoas desenvolvem algum tipo de dependência de jogos eletrônicos
Não são proibidos por legislação nem condenados pela sociedade. Mas jogos de videogame, computador ou internet podem causar dependência que, em alguns casos, desencadeia efeitos mais graves do que aqueles que envolvem o uso de drogas químicas. Segundo especialistas ouvidos pelo R7, esse tipo de dependência tende a crescer junto com a popularização do computador e do acesso à banda larga no país. A população de internautas no Brasil é de pelo menos 56 milhões de pessoas, segundo levantamento divulgado no início desta semana pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse número deverá crescer de forma acelerada com o Plano Nacional de Banda Larga, que promete aumentar o acesso à rede de computadores no país e recebe atenção especial em Brasília. A preocupação com a dependência eletrônica é proporcional ao número de computadores que existem no país. Estima-se que o Brasil tenha 4,5 milhões de pessoas com sintomas de uso abusivo da rede, um dos índices mais altos do mundo. Na China, segundo pesquisa publicada nesta quarta-feira (3) pela Associação Juvenil para o Desenvolvimento da Rede, o número de jovens entre 18 e 23 anos de idade dependentes da internet praticamente dobrou desde 2005. Agora, o país com a maior proporção de internautas do mundo tem pelo menos 24 milhões de pessoas com dificuldade para abandonar a web.
No Brasil, o problema vem crescendo sobretudo entre os adolescentes. A boa notícia é que o país deve inaugurar em março o primeiro ambulatório para tratar jovens de 6 a 16 anos que desenvolveram dependência de jogos eletrônicos. O centro de apoio será vinculado à Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e oferecerá tratamento gratuito. De acordo com o psiquiatra Gabriel Bronstein, médico do Programa de Dependência Química e Outros Transtornos do Impulso da Santa Casa (para adultos) e coordenador do novo centro para adolescentes, praticamente não há informação sobre o tratamento de dependência eletrônica no Brasil. Desde que começou a receber inscrições para a nova unidade de apoio, na segunda-feira (1), Bronstein já cadastrou pelo menos 30 pessoas interessadas no serviço, que deverá atender um grupo de 50, explica:
- A população mais jovem é mais suscetível a dependência eletrônica. Alguns estudos dizem que cerca de 5% das pessoas que se ocupam com jogos em videogame ou na internet podem desenvolver alguma dependência. Por isso, achamos uma boa ideia criar esse tipo de assistência para os mais jovens. Vamos realizar consultas periódicas, submeter os jovens à avaliação médica e a apoio psicoterápico. O encontro terapêutico com os parentes de cada um também será importante, porque o papel da família é fundamental em casos de dependência.

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Para o especialista, a relação de dependência que uma pessoa pode criar com jogos eletrônicos, de azar ou não, pode ser até pior do que o vício relacionado à alguma droga química, dependendo da situação. - A dependência com o jogo pode ser extrema. Já cheguei a atender pacientes que tentaram suicídio, tiveram depressão profunda, perderam grandes somas de dinheiro ou acabaram com vínculos familiares importantes. O critério de diagnóstico do dependente químico e do eletrônico é praticamente o mesmo.
O atendimento psiquiátrico a esse tipo de paciente também existe em pelo menos dois locais em São Paulo. Um deles é o Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que oferece tratamento gratuito a maiores de 18 anos. De acordo com o coordenador do núcleo, Aderbal Vieira Jr., é possível reconhecer a dependência a partir do momento em que a pessoa não escolhe mais se vai jogar ou não.
- O comportamento do paciente se torna disfuncional e o jogo começa a causar problemas na vida da pessoas. Não podemos dizer se existe um limite mínimo de horas que alguém tem que gastar com um jogo para ser considerado dependente, porque cada diagnóstico é muito pessoal. Além disso, o problema é relativamente recente e ainda são poucos os estudos envolvendo grandes populações. Ainda há poucos especialistas no Brasil para tratar esses pacientes.
Segundo o psiquiatra, outros sintomas podem estar relacionados a algum tipo de dificuldade social e a doenças psiquiátricas como depressão e síndrome do pânico.
- A pessoa fica dentro de casa e a janela para o mundo acaba sendo a internet e o videogame. São fatores que colaboram para a dependência, mas nenhum determina isso sozinho. A espinha dorsal do tratamento é a psicoterapia, que ajuda a pessoa a entender o que acontece com ela. Pode haver medicação como estratégia coadjuvante, mas isso geralmente não é recomendado em um primeiro momento.
Outro centro de referência para atender pacientes com este tipo de problema em São Paulo é o Dependentes em Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), cujo programa de tratamento consiste em reuniões semanais por mais de quatro meses. Em seu site, o centro elaborou uma série de perguntas que funcionam como teste para saber, de forma rápida, se existe ou não dependência com relação à internet (veja endereço abaixo).
Segundo o programa, o internauta deve começar a se preocupar sobre sua relação com a rede se obedecer a pelo menos cinco de oito critérios. São eles: preocupação excessiva com a internet; necessidade de aumentar o tempo conectado para ter a mesma satisfação; esforços repetidos para diminuir o tempo de uso da internet; apresentar irritabilidade e/ou depressão quando o uso da internet é restringido, usar a internet como forma de regulação emocional; permanecer mais conectado do que o programado; ter trabalho e relações familiares e sociais em risco pelo uso excessivo da internet; mentir aos outros a respeito da quantidade de horas conectadas.
Serviço
Faça um teste para saber se você é dependente de internet
Site: http://www.dependenciadeinternet.com.br/quiz.php
Dependentes em Internet do Hospital das Clínicas da USP:
Site: http://www.dependenciadeinternet.com.br/
Telefone: (0--11) 3069-6975
Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp, em São Paulo
Telefone: (0--11) 5579-1543
Site: www.proad.unifesp.br
Apoio ao jovem dependente de jogo eletrônico na Santa Casa do Rio de Janeiro
Telefone: (0--21) 2533-0113

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