Estadão - Segunda-Feira, 08 de Fevereiro de 2010
Quase 200 anos depois do surgimento dos primeiros bondes, em Nova York, e quase um século após a Light ver rejeitada a sua proposta de construção de três linhas de metrô em São Paulo, prefeitos de várias cidades brasileiras tentam agora reequilibrar a rede de transporte urbano de passageiros que, desde a década de 20, priorizou o sistema rodoviário. Prefeitos mostram-se dispostos a instalar mais de 700 quilômetros de trilhos em seus municípios, por onde circularão Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), trens urbanos, metrôs leves e pesados.
Hoje, a participação do transporte metroferroviário de passageiros nas cidades brasileiras não chega a 10%. Existem, em todo o País, 15 sistemas metroferroviários, que transportam 1,2 bilhão de passageiros anualmente. Os ônibus metropolitanos e urbanos transportam 20 bilhões de pessoas no ano. Nos últimos dez anos, no entanto, a demanda dos sistemas ferroviários urbanos aumentou em mais de 30%, enquanto os ônibus urbanos perderam esse mesmo porcentual de passageiros pagantes.
Ao anunciar o PAC da Mobilidade Urbana, composto por 47 projetos para melhorar a infraestrutura aeroportuária, de transporte e de hotelaria nas 12 cidades que sediarão os jogos da Copa do Mundo de 2014, o ministro das Cidades afirmou que 30% do investimento total será destinado aos projetos de transporte sobre trilhos. O governo federal destinará R$ 7,68 bilhões do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) aos novos sistemas de transporte, reforma de aeroportos e melhoria da rede hoteleira, o que, com as contrapartidas dos governos municipais e estaduais, somará R$ 11,48 bilhões.
Diante do alto custo de instalação do metrô e das dificuldades para adotar o Bus Rapid Transit (BRT) ? sistema de ônibus baseado em corredores exclusivos, livres de cruzamentos e outras interferências ?, a maior parte dos prefeitos voltou seus olhos para os VLTs. Levantamento realizado pela reportagem do Estado mostrou que 13 das 27 capitais brasileiras têm projetos de instalação desses bondes modernos, de 40 metros de comprimento e capacidade para transportar entre 15 mil e 35 mil passageiros por hora. Outras cidades menores, do sul ao norte do País, também estudam a adoção do modelo.
Especialistas em transporte urbano de passageiros alertam para a necessidade de planejar detalhadamente a instalação desses sistemas para que não acabem sucateados como ocorreu com a iniciativa pioneira ? e eleitoreira ? de Campinas, no interior paulista.
São projetos que, de fato, têm um grande apelo eleitoral, mas também exigem um alto investimento inicial. Assim, só devem ser aprovados quando, efetivamente, oferecerem uma boa relação custo-benefício, ou seja, quando melhoram indiscutivelmente a qualidade do serviço prestado à população. Nas cidades que sediarão jogos da Copa, há um fator extra a ser observado: é preciso concentrar investimentos em projetos que trarão benefícios aos passageiros, mesmo após a realização do campeonato.
Em São Paulo, por exemplo, será investido R$ 1,08 bilhão na Linha Ouro do monotrilho que ligará o Aeroporto de Congonhas ao Morumbi ? uma obra de óbvio impacto para o mundial. No entanto, é necessário que sejam planejadas obras complementares de integração da linha com outros modais para que esse meio de transporte seja plenamente utilizado pelos passageiros dos bairros próximos depois de 2014. Ou será mais um grande empreendimento público levando nada a lugar nenhum.
Bem planejados, os projetos de transporte urbano sobre trilhos podem produzir resultados socioeconômicos e ambientais que, em pouco tempo, garantam o retorno do investimento. Se eficazes no atendimento dos passageiros, permitem a redução do número de automóveis nas ruas e, consequentemente, do índice de acidentes, do gasto de combustível e da manutenção das vias, do tempo das viagens e da poluição atmosférica e sonora.
Evidentemente, os projetos existentes nas principais cidades não são suficientes para resolver a questão do transporte público urbano no País, mas representam um bom início.
VLT - O que é?
Light rail ou veículo leve sobre trilhos (VLT), ou Metrô Leve, ou ainda erroneamente de metrô de superfície, é uma espécie de trem ou comboio urbano e suburbano de passageiros, cujo equipamento e infra-estrutura é tipicamente mais "leve" que a usada normalmente em sistemas de metropolitano (metrô) ou de Ferrovias (caminhos-de-ferro) de longo curso.
Os sistemas de light rail são normalmente alimentados por electricidade, havendo, no entanto, alguns a diesel (ex. South Jersey Light Rail) e outros que usam um terceiro carril.
No Brasil, o primeiro sistema de veículos leve sobre trilhos foi o VLT de Campinas - atualmente desativado. O Metrô do Cariri é o mais novo sistema e foi recentemente inaugurado. Também pretendem implantar o sistema algumas capitais nordestinas, tais como Natal[1][2] e Maceió,[3] São Paulo[4] e as cidades do ABC paulista.
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Tentativa de definição de "light rail"
É muitas vezes complicado distinguir um sistema de light rail e um de carros-eléctricos (bonde). No caso dos eléctricos, estes veículos circulam geralmente pelas ruas e partilham o espaço com o restante tráfego. Existem paragens frequentes e estas tendem a ser elementares (somente um poste ou, no máximo, um coberto). O light rail, pelo contrário, tende a circular em espaço autónomo, o que evita qualquer interacção com outros veículos. As paragens são menos frequentes que no caso dos carros-eléctricos e aquelas podem ser simples plataformas ou até estações. Muitas redes de light rail combinam os dois sistemas, onde os veículos podem circular em espaços próprios e, noutros locais, também ter secções em ruas.
Vantagens do light rail
Os sistemas de light rail são geralmente mais baratos de construir que, por exemplo, os de metropolitano ou do tradicional trem suburbano ou comboio suburbano. Para além disso, aqueles têm maior flexibilidade em curvas apertadas.
Os carros eléctricos tradicionais e os veículos de light rail são usados em várias cidades pelo mundo, pois estes permitem transportar um maior número de pessoas que qualquer autocarro. A somar a isto ainda outras vantagens: produzem menos poluição e barulho, em muitos casos mais rápidos. E numa emergência são mais fáceis de evacuar do que das carruagens do metropolitano. Muitas linhas modernas de light rail aproveitam antigas linhas de comboios. Exemplos disso mesmo verificam-se no Porto, Londres ou Birmingham.
Desvantagens do light rail
Uma das desvantagens deste sistema é ele não ser completamente independente do tráfego e isso ocasionar acidentes. E partilhando o espaço com restante tráfego faz com que a velocidade comercial seja mais baixa que, por exemplo a do metropolitano típico. Mas a exemplo do que se pode verificar no projeto do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) ou Light Rail da Região Metropolitana da Baixada Santista, pode-se segregar completamente o espaço destinado aos trens do espaço urbano.
Light rail no Brasil
Veículo Leve sobre Trilhos (VLT)
É um pequeno trem urbano, geralmente movido a eletricidade. Seu tamanho permite que sua estrutura de trilhos se encaixe no meio urbano existente. O VLT é uma espécie de "bonde" moderno tornando-se alternativa de transportes em cidades como Campinas, Maceió e Recife ou entre cidades de médio porte como o Trem do Cariri entre Crato e Juazeiro do Norte. Natal possui um projeto de VLT para a Copa do Mundo de 2014, já que a cidade é uma das candidatas a sub-sede do evento. Salvador também possui um projeto de VLT, no qual o atual sistema de trens suburbanos seria adaptado e convertido num sistema de VLT, para futuramente se integrar com o sistema de metrô da cidade, Também João Pessoa possui um projeto para implantar um VLT. Todavia, a única cidade com projeto em fase execução até agora é Brasília (Distrito Federal). O governador da cidade (José Roberto Arruda) se encontrou com o presidente da França no dia 07 de setembro de 2009 para oficializar o acordo e iniciar a execução das obras. Diz-se que este será o primeiro VLT da América Latina. A primeira fase da obra promete ser entregue no dia 07 de setembro de 2010, enquanto que as demais fases deverão ser finalizadas até a copa de 2014.
VLT do Litoral Paulista
O projeto do VLT, veio para substituir o TIM (Trem Intermunicipal), um trem de subúrbio que ligava o centro da cidade de São Vicente ao subúrbio de Santos. Operou por alguns anos, até que em meados de 1999, o sistema teve seus serviços interrompidos pelo governo estadual pela situação lastimável em que se encontrava o sistema. Prometeu-se remodelar e modernizar o sistema substituindo o TIM pelo VLT. Foi criado um projeto aproveitando-se a linha do antigo TIM, ligando a área continental de São Vicente (subúrbios) ao porto de Santos e outras duas linhas, uma ligando Santos a Peruíbe e outra ligando Santos a Cubatão (COSIPA).
Este sistema seria a real integração de toda a metrópole de São Vicente e Santos, o troncalizador do sistema de transportes metropolitanos, onde as viagens entre as cidades da metrópole eram e ainda são feitas por ônibus. Foram realizados vários estudos e vários projetos e traçados alterados foram feitos e após várias seções públicas o projeto final ficou pronto e definiu-se sete trechos a serem implantados.
Passados vários anos de morosas conversações e estudos sobre o projeto, o governo estadual afirmou ser melhor a implantação de um sistema de VLP (Veículo Leve sobre Pneu) pois alegaram este ser de menor custo de implantação e de manutenção. Ainda assim, o VLT será implantando na Ilha de São Vicente,[5] onde ficam as cidades de Santos e São Vicente, e o VLP nas linhas integradoras às restante das cidades pertencentes a Região Metropolitana de Santos e São Vicente.[6]
VLT do ABC paulista
Anunciado pelas Prefeituras de São Bernardo do Campo, Santo André e São Caetano do Sul, o VLT do ABC é um projeto que interligará os municípios de São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul à linha 10 - Turquesa, na estação Tamanduateí, onde futuramente haverá uma estação da Linha 2 - Verde do Metrô de São Paulo.
Está em estudos, ainda, uma linha de VLT que ligaria o município de Diadema à capital, através das estações São Judas ou Jabaquara.[7]
VLT de São Paulo
Companhia do Metropolitano de São Paulo anunciou que vai passar a usar o VLT para complementar o metrô convencional.[4] Serão 3 linhas novas, mais uma extensão da Linha 2-verde:
- Linha 16-Prata: Ligará a Lapa, na zona oeste, a Cachoeirinha, na zona norte. É uma mudança no projeto original da Linha 6-Laranja, que deixaria de ter uma bifurcação.
- Linha 17-Ouro: Batizada de Metroleve Aeroporto, é uma linha que ligará as estações São Judas e Jabaquara do Metrô ao Aeroporto de Congonhas, passando pela área de influência da Avenida Jornalista Roberto Marinho e com integração às linhas 5 do Metrô, 10 da CPTM e corredor ABD da EMTU. Esta prevista para 2013.
- Extensão da Linha 2-Verde: Será construída no trecho inacabado do Fura-Fila, ligando Vila Prudente e Cidade Tiradentes. Quem estiver no trecho convencional da linha terá que sair e trocar de veículo para ir até o final.
VLT de Macaé/RJ
Em 30 de Julho, um dia depois que Macaé completou 196 anos, a cidade teve a confirmação oficial de que será a primeira do interior do Estado do Rio a ter um sistema de metrô. Em cerimônia realizada na Estação Central da Ferrovia Centro-Atlântica, o prefeito Riverton Mussi, o secretário municipal de Mobilidade Urbana, Jorge Siqueira Tavares, o secretário estadual de Transportes, Julio Lopes, e o diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Mario Rodrigues, assinaram o contrato operacional para implantação do novo sistema de transporte, que vai ligar um lado a outro da cidade, beneficiando mais de 6 mil pessoas por dia.A linha, de 23 km, ligará o bairro Lagomar, na região norte do município, a Imboassica, no lado sul, atravessando outros 13 bairros. Pelos cálculos da secretaria, o VLT vai beneficiar mais de 6 mil pessoas por dia, interligando todo o perímetro urbano da cidade. E o mesmo percurso que hoje leva em média 66 minutos para ser feito de ônibus, vai durar apenas 30 com o novo sistema. Pelos planos da prefeitura, já em 2012 a população poderá usufruir do novo meio de transportes.
O VLT que será usado em Macaé,irá ser construído no Ceará e em dois anos estará em funcionamento. "Mas, enquanto isso, já em parceria com o secretário, iremos à Espanha, já nos próximos dias, tentar, eu repito, iremos tentar, viabilizar o empréstimo de alguns vagões no mesmo estilo do VLT, para ser colocado imediatamente em uso pela população, até que o nosso legítimo e macaense trem, fique pronto" - concluiu o prefeito.A estação Central, da FCA foi restaurada,reformada, para a execução da cerimônia. Provavelmente será usada, como a estação central da linha.
VLT do Cariri/CE
Em 2006, foi anunciada a implantação de um veículo leve sobre trilhos para ligar os municípios de Juazeiro do Norte e Crato. Após sucessivos atrasos, a inauguração está prevista para 2009. O Metrô do Cariri, como foi batizado, terá duas composições climatizadas, capacidade para 330 passageiros cada e velocidade máxima de 60 km/h. Ao todo, serão nove estações ao longo do percurso de 13,6 km.
Referências
- ↑ Marcus Quintella - Presidente da CTBU visita Natal e se reune com governadora Wilma de Faria
- ↑ SEEC - Secretária de Estado da Educação e da Cultura
- ↑ Gazeta de Alagoas - Fatos & Notícias - VLT
- ↑ 4,0 4,1 O Globo: Governo de SP diz que trecho de nova linha na capital terá trem leve em vez de metrô
- ↑ EMTU - Plano de Expansão: SIM
- ↑ EMTU - Plano de Expansão: SIM - Mapa de Linhas Principais e Integradoras
- ↑ Estadão: ABC vai ganhar ligação por trilhos com São Paulo
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