Usuários de crack se reúnem para fumar a pedra num canteiro de obras da Transcarioca na Avenida Brasil Foto: Fabiano Rocha / EXTRA
Flávia Junqueira e Herculano Barreto Filho
EXTRA
Foram necessárias apenas duas horas para o canteiro de obras da Transcarioca na Avenida Brasil, na altura do Parque União, ficar lotado de usuários de crack novamente, após agentes da prefeitura terem recolhido, ontem de manhã, 58 dependentes químicos no local. Desde a ocupação de Manguinhos e Jacarezinho, no domingo, eles migram pela cidade. E, mesmo se quisessem se internar para se livrar do vício, não poderiam. As duas clínicas conveniadas com o estado do Rio para internar usuários estão de portas fechadas.
Desde o dia 19 de agosto, as unidades, que ofereciam 180 vagas para tratamento, estão sem contrato com a Secretaria estadual de Assistência Social. A denúncia foi publicada ontem no site da revista “Veja”. Além de não aceitarem novas internações, as clínicas deram alta a boa parte dos dependentes que estavam em tratamento.
Uma delas, a Ricardo Iberê Gilson, em Valença, mantém internados 18 pacientes usuários de crack por conta própria. Já a clínica de Recuperação Michele de Morais, em Santa Cruz, deu alta aos pacientes no fim de agosto.
Os usuários recolhidos nas ruas podem conseguir atendimento ambulatorial nos Centros de Atenção Psicossocial, unidades da rede municipal. Mas, segundo a assessoria da Secretaria municipal de Saúde, casos que precisam de internação são encaminhados às clínicas conveniadas ao estado. Atualmente, nenhuma.
Usuários de crack sob um viaduto, próximo à comunidade Nova Holanda
Foto: Fabiano Rocha / EXTRA
De acordo com o psiquiatra Jorge Jaber, em função do alto índice de recaídas, o tratamento preconizado a usuários de crack prevê internação prolongada.
Não foi por falta de verba que os convênios com as clínicas deixaram de ser renovados. Até outubro, o governo do estado havia empenhado apenas R$ 10 milhões dos R$ 29 milhões previstos no orçamento para enfrentar o crack, mostra o Sistema de Administração Financeira de Estados e Municípios.
De acordo com nota enviada pela Secretaria estadual de Assistência Social, o convênio anterior, feito emergencialmente em janeiro deste ano, com as duas clínicas era vigente até o dia 19 de agosto. Afirma ainda o texto: “o novo convênio já estava tramitando neste período e agora estamos aguardando a finalização deste processo, pois, sem isso, a SEASDH fica legalmente impossibilitada de repassar novos recursos para as instituições”. A nota ressalta que “as instituições já foram notificadas e informaram que estão providenciando a documentação que visa dar cumprimento a essas exigências”. A secretaria afirma que as atividades serão retomadas tão logo essas exigências sejam cumpridas.
“Operação enxugar gelo”
Em quatro dias de operações após a ocupação policial nas favelas do Jacarezinho e Manguinhos, na Zona Norte, 282 pessoas foram abrigadas e 134 voltaram às ruas — um índice de 47,5% de evasão. O efeito colateral da ocupação é o aumento do número de dependentes químicos no Parque União, amontoados no canteiro de obras.
Ontem à tarde, centenas de usuários de crack usavam a droga em plena luz do dia. Na Avenida dos Democráticos, em Manguinhos, ainda havia um grupo de usuários usando crack, à tarde. Eles consumiam a droga numa praça. A menos de 50 metros dali, havia quatro carros do 22º BPM (Maré).
O trabalho da Comlurb removeu cerca de 40 toneladas de resíduos, apenas ontem, em Manguinhos e no Jacarezinho. Desde o início da ação, no último domingo, foram contabilizadas 340 toneladas removidas.
Policiais militares do Batalhão de Choque prenderam um homem e apreenderam drogas, ontem, em Manguinhos. Wellington Alves de Almeida, de 24 anos, estava na Mandela II quando foi encontrado pelos PMs. Contra ele, havia dois mandados de prisão. Também na Mandela, foram encontrados 192 sacolés de maconha e 67 trouxinhas da mesma droga.
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