domingo, 12 de agosto de 2012

GOVERNO DILMA e o grande teste das GREVES dos Servidores Públicos

Governo endurece o jogo, corta ponto, mas onda de greve dos servidores se alastra e presidenta Dilma passa a negociar reajustes por categoria

Pedro Marcondes de Moura
ISTO É



TUMULTO
PMs usam gás de pimenta para conter servidores que tentavam chegar à rampa do Planalto 

A lua de mel entre o Palácio do Planalto e o movimento sindical parece ter chegado ao fim, após nove anos de governo do Partido dos Trabalhadores. Como num efeito dominó, a cada dia, nas últimas semanas, novas categorias de servidores federais cruzavam os braços ou entravam em operação-padrão por reajustes salariais. A greve do funcionalismo federal se alastrou pelo País, como não se via desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. Até a sexta-feira 10, cerca de 300 mil profissionais de 30 categorias, como agentes da PF, professores universitários e fiscais da Receita, integravam o movimento, que já provocou longas esperas nos aeroportos, filas de carros em rodovias e mercadorias presas nos portos. Numa demonstração que não pretende abrir mão da austeridade fiscal num ano de dificuldades econômicas, a presidenta Dilma Rousseff resolveu endurecer o jogo. Cortou o ponto de grevistas, ameaçou substituí-los por outros profissionais e ingressou na Justiça para a manutenção de serviços essenciais, conforme determina a legislação. “Não é normal parar de trabalhar e ganhar por isso”, disse a ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

As medidas acirraram ainda mais os ânimos dos sindicalistas. Um dos pilares tradicionais do PT, a Central Única dos Trabalhadores criticou a decisão do governo. “A CUT repudia veementemente a publicação do Decreto Governamental 7777 que prevê a substituição dos servidores públicos federais”, assinalou uma nota da entidade. “Reprimir manifestações legítimas é aplicar o projeto que nós derrotamos nas urnas”, acusou a CUT. Manifestações contrárias à presidenta e a ministros, declarações inflamadas de dirigentes sindicais e as sucessivas adesões à greve por parte de sindicatos filiados à CUT aumentam a preocupação do Planalto, que começou a acenar com uma mudança na linha de negociações. Na quinta-feira 9, por fim, o governo reconheceu a necessidade de abrir os cofres. Mas quer fazer isso com o menor impacto possível nas contas, oferecendo reajustes parcelados e por categoria. Desse modo, o Planalto acredita que pode desarticular o movimento grevista.

ANTIGOS PARCEIROS
Servidores ligados à CUT protestam contra o governo e garantem negociação

Dirigentes do PT dizem que o governo “perdeu o termômetro” do meio sindical por ter desarticulado um aparato que muito serviu ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mantendo-o sempre informado sobre os humores dos trabalhadores e os riscos das paralisações. Com sua larga experiência nas organizações dos trabalhadores, Lula havia nomeado uma série de ex-dirigentes da Central Única dos Trabalhadores para cargos comissionados. Com contracheques do Poder Executivo, esses novos funcionários tinham por função trabalhar junto a sindicatos estratégicos, como de petroleiros, de funcionários das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de servidores públicos. Os olheiros de Lula tratavam de diagnosticar eventuais decisões contrárias aos interesses do governo federal e tentavam contorná-las junto às bases. Para isso, tinham trânsito facilitado nas principais salas do Executivo federal. Quando assumiu a presidência, Dilma dispensou essa gente.

Um certo distanciamento das representações de funcionários públicos federais ligados à CUT e da própria central em relação ao governo federal também atende a uma necessidade política do meio sindical. Desde a chegada do PT ao Palácio do Planalto, a Central Única dos Trabalhadores, a maior da América Latina, acumula sucessiva perda de representatividade entre os servidores nacionais. Por ser uma espécie de braço do Partido dos Trabalhadores, a sua autonomia em defesa da categoria passou a ser questionada pelas bases que, em muitos casos, migraram para a Central Sindical e Popular – Coordenação Nacional de Lutas (CSP-Conlutas), ligada a legendas de espectro mais à esquerda, como PSTU e PSOL. Na greve atual, por exemplo, os sindicatos que representam os profissionais de educação, com maior adesão na paralisação, são filiados à CSP-Conlutas. Em um cenário como esse, marcar uma posição para a CUT trata-se de uma questão de sobrevivência. Para Dilma, trata-se de manter o governo funcionando, sem estourar, no entanto, as contas públicas.







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