sábado, 18 de agosto de 2012

DEVENDO NA PRAÇA - Empresa de filho de LULA deve R$ 6,1 mi . [Uma história desde o início bem estranha]

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DE SÃO PAULO
ANDREZA MATAIS
DE BRASÍLIA

A Gamecorp, empresa criada por um dos filhos do ex-presidente Lula, Fábio Luís Lula da Silva, e alvo de diversas polêmicas durante o mandato do petista, vive uma situação de "incerteza" sobre sua sobrevivência.

A avaliação é da Peppe Associados, uma firma de auditoria contratada pela própria Gamecorp para verificar suas contas em 2011.

A Peppe fez um diagnóstico pouco favorável para o futuro da empresa de Lulinha, como Fábio é conhecido, e ainda lançou dúvidas sobre a confiabilidade dos números do balanço da empresa.

Segundo o relatório da auditoria, a administração da Gamecorp não divulgou "de forma adequada" a razão de números possivelmente incompatíveis nas contas. Também não foi possível, escreve a Peppe, ter idéia do valor dos bens da empresa.

A Gamecorp surgiu em 2004, recebeu um aporte de R$ 5 milhões da Telemar (hoje Oi). Como a empresa de telefonia tem participação do BNDES, o aporte passou a ser investigado pelo Ministério Público por suspeita de tráfico de influência.

Em 2006, quando a associação com a Telemar tornou-se pública, o então presidente Lula disse à Folha que seu filho era o "Ronaldinho" dos negócios, em alusão ao jogador de futebol, tido como um dos melhores em atividade no Brasil naquela época.

Desde então, a empresa acumulou sucessivos prejuízos. Apesar do lucro de R$ 384 mil no ano passado, as perdas acumuladas chegam a R$ 8,6 milhões.

Além disso, há uma diferença de R$ 2,2 milhões entre a soma dos bens e dos valores que a empresa tem a receber e as obrigações que contraiu, o que pode configurar risco de insolvência. O único alívio é a retaguarda da multinacional.

A dívida de curto prazo, de até 12 meses, subiu de R$ 2,03 milhões, em 2010, para R$ 2,89 milhões no fim do ano passado. A de longo prazo, acima de um ano, saltou de R$ 3 milhões para R$ 3,3 milhões. O total dessas obrigações atinge R$ 6,1 milhões.

A avaliação da empresa de Lulinha só foi possível porque hoje, como subsidiária da Oi, a Gamecorp adota critérios internacionais de contabilidade. A Oi não quis comentar os resultados.

DINHEIRO PÚBLICO

No início, segundo o próprio Lulinha, a Gamecorp evitava receber dinheiro de fontes públicas para não gerar eventuais dúvidas sobre favorecimento político. No fim do ano passado, porém, a postura mudou: a empresa recebeu R$ 190 mil por anúncios do Banco do Brasil.

De acordo com um diretor do banco que pediu para não ter o nome publicado, o pedido partiu do pecuarista José Carlos Bumlai, que é amigo de Lula. A reportagem tentou ouvir de Bumlai a razão do empenho pela Gamecorp, mas não conseguiu contato.

Lulinha também não respondeu ao e-mail encaminhado, nem ao recado deixado na Gamecorp.

Na sede da empresa, a informação é que ele aparece por lá duas vezes na semana e que não tem secretária ou alguém designado para dar informações à imprensa.

A assessoria de imprensa do Banco do Brasil informou que o diretor de marketing da instituição na época do repasse à Gamecorp era Armando Medeiros, que não está mais no banco.

Segundo a instituição, em 2011, o BB veiculou filmes da campanha publicitária "BB Universitários/Fies", destinada ao público jovem na PlayTV, uma emissora da Gamecorp.

Foram seis meses de veiculações na PlayTV e em alguns outros canais de TV fechada e aberta, como MTV, Multishow, VH1, Universal, MixTV e Woohoo.

O BB disse que não poderia dar informações sobre o valor repassado. O banco negou que tenha havia ingerência política.

"Todas as campanhas publicitárias do Banco do Brasil envolvem planejamentos de mídia realizados pelas agências de publicidade. Os veículos e canais selecionados atendem a critérios como target (público a que se destina a campanha), aderência da programação aos objetivos da campanha, circulação, audiência e outros", diz a assessoria de imprensa do BB.

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