Empresa de fachada recebeu R$ 13 milhões da empreiteira e saldou despesas de eleição
O GLOBO
BRASÍLIA - A quebra dos sigilos bancários de uma das empresas fantasmas abastecidas pela Delta Construções traz indícios contundentes de que recursos da empreiteira foram usados com finalidade eleitoral. ACPI do Cachoeira analisa os repasses feitos pela Brava Construções, empreendimento montado pelo grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira e irrigado com R$ 13 milhões da Delta. Entre os beneficiários da Brava, estão dois institutos de pesquisas eleitorais, doadores de campanha, gráficas e posto de gasolina contratados por candidatos, lideranças partidárias regionais e a mulher de um deputado estadual de Goiás. Todos os repasses foram feitos em maio, julho e agosto de 2010, véspera de eleição. Integrantes da CPI só passaram a conhecer esses dados com o envio dos últimos relatórios pelos bancos, semana passada.
A mulher do deputado estadual Cláudio Meirelles (PR-GO), Cristina de Oliveira Borges Meirelles, recebeu R$ 100 mil da Brava, por meio de uma transferência bancária efetuada em 22 de julho de 2010, segundo relatórios enviados à CPI. Cristina tentou se eleger vereadora em Goiânia em 2008, sem sucesso. O marido conquistou o segundo mandato de deputado estadual em 2010.
— Minha mulher vai pedir um extrato do banco, para saber do que se trata. Ela não se lembra de quem eram esses R$ 100 mil. No movimento da conta bancária, há depósitos todos os dias — disse o deputado.
Ex-presidente do Detran teria usado dinheiro
Segundo ele, Cristina é funcionária pública de carreira em Goiás e empresária do ramo gráfico, mas a empresa não estaria nos nomes dos dois.
Em maio de 2010, a Brava fez repasses de dinheiro a institutos de pesquisas eleitorais de Goiás: Ana Cardoso de Lorenzo, diretora do Serpes, recebeu R$ 70 mil; a conta bancária do instituto Fortiori Pesquisa, Diagnóstico e Marketing recebeu outros R$ 18 mil. Os dois beneficiários confirmam os depósitos.
— O contratante das pesquisas foi Edivaldo Cardoso (ex-presidente do Detran em Goiás, citado em 500 conversas telefônicas na Operação Monte Carlo), presidente do PTdoB em Goiás. E houve um único depósito, de R$ 35 mil — afirmou o advogado do Serpes, Sebastião Ferreira Leite.
O dono do Fortiori, Jean Carlo Carvalho, sustenta que o contratante da pesquisa eleitoral foi uma emissora de TV de Anápolis (GO), cidade de Cachoeira.
A Barramares Gráfica e Editora, de Goiânia, recebeu R$ 50 mil da Brava às vésperas das eleições. A gráfica prestou serviços à campanha do ex-senador Demóstenes Torres naquele ano e fez uma doação eleitoral ao candidato. Demóstenes foi cassado em julho por colocar o mandato a serviço de Cachoeira. Os donos da Barramares dizem que só se manifestam após notificação da CPI.
Outra empresa beneficiada, a Meireles Alimentos, com sede em Anápolis, recebeu R$ 50 mil em 12 de maio de 2010. Em setembro e outubro do mesmo ano, a firma fez duas doações de campanha a um candidato a deputado estadual do PTB em Goiás, Valdair de Jesus Costa, o Frei Valdair, que não se elegeu. O dono da Meireles Alimentos, Leonardo Meireles, nega qualquer relação entre o repasse da Brava e a doação de campanha registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
— Fiz a doação a Valdair porque ele é meu amigo, não há qualquer relação. Só descobri que recebi esse dinheiro ontem, porque o Senado me ligou. O que fiz foi trocar um cheque de R$ 50 mil na Libra Factoring, com um irmão do Cachoeira. Não dava para saber a origem do depósito bancário — disse Leonardo.
Na lista de beneficiários da Brava aparecem ainda lideranças políticas do interior de Goiás. Mas o maior depósito bancário feito pela Brava, segundo os documentos encaminhados à CPI, foi para a Viação Anapolina: R$ 515 mil, em 15 de julho de 2010. A assessoria jurídica da empresa diz que prestará um “esclarecimento formal” ao Congresso e não quis confirmar ou negar o recebimento do dinheiro.
Na terça-feira, a CPI aprovou requerimento para que a Viação Anapolina apresente informações sobre o depósito de R$ 515 mil. Os mesmos esclarecimentos foram solicitados pela comissão ao instituto Fortiori, à gráfica Barramares e à Meireles Alimentos.
Mãe de Andressa recebeu R$ 200 mil
Um outro repasse da Brava, de R$ 200 mil, foi para Meire Alves Mendonça. Esse é o nome da mãe de Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira. O depósito ocorreu em 17 de maio de 2010. Naquele ano, Andressa estava casada com o empresário da construção civil Wilder Pedro de Morais (DEM-GO), que hoje exerce o mandato de senador antes pertencente a Demóstenes. Wilder era o primeiro suplente. O pai de Andressa, Lair Mendonça, disse não ter conhecimento sobre o repasse do dinheiro. Segundo ele, a mulher deve responder pela transferência bancária. Meire e Andressa não deram retorno à reportagem.
Até agora, a CPI do Cachoeira obteve a quebra dos sigilos bancários de cinco empresas de fachada citadas nas investigações da Polícia Federal (PF) que resultaram na Operação Monte Carlo. Os dados de quatro empreendimentos já chegaram à CPI, dos quais dois receberam depósitos da Delta, de quase R$ 40 milhões. Apesar disso, o comando governista da CPI resiste em aprofundar a investigação sobre a relação da empreiteira com Cachoeira.
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