segunda-feira, 13 de agosto de 2012

CACHOEIRODUTO - Gravações inéditas que mostram como Cachoeira dirigia seus negócios.C





Fantástico Rede Globo


Gravações inéditas que mostram como Cachoeira dirigia seus negócios.Cachoeira é acusado de comandar o jogo ilegal na região de Brasília. São denúncias de pagamento de propina para policiais e até de sequestro.


Exclusivo: o Fantástico apresenta gravações inéditas que mostram como Carlinhos Cachoeira dirigia seus negócios. Pivô de um escândalo político que derrubou um senador da República, cachoeira é acusado de comandar o jogo ilegal na região de Brasília. São denúncias de pagamento de propina para policiais e até de sequestro. A reportagem especial é de Vladimir Netto e Wálter Nunes. 

Para os comparsas, promessas de proteção.

Comparsa - Eu tô com medo demais. Esse cara vai me matar. 

Cachoeira - Ele não vai fazer nada com você, não. Sabe que você é meu. 

Já para os inimigos...
Cachoeira - Ladrão, família de rato. Malandro. Tinha que arrumar na orelha mesmo. 

A polícia diz que essa afirmação de Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi feita durante um suposto sequestro comandado por ele. 

“O Carlinhos Cachoeira é o membro, o chefe de uma organização criminosa de perfil mafioso. Uma pessoa extremamente ousada, inteligente, que não respeita as autoridades constituídas”, declara Léa Batista de Oliveira, procuradora da República. 

Como Carlinhos Cachoeira conseguiu construir um império do jogo ilegal e se tornar um homem poderoso e influente? Escutas telefônicas e vídeos - que ainda não tinham sido mostrados - ajudam a entender a origem do enriquecimento.

Cachoeira - Tá com 100 mil (reais) na pendência. Atraso de 100 mil. Eu precisava que você regularizasse isso aí, pô. Nós combinamos aí. 

Comparsa - Pode deixar. 

São gravações que revelam um lado pouco conhecido de Carlinhos Cachoeira. 
Cachoeira - Malandro cai uma hora, né? Pilantra.

Carlinhos Cachoeira e a máfia do jogo

De acordo com as investigações, Cachoeira controlava a máfia dos jogos - casas de bingo e caça níqueis - em Brasília e em cidades do entorno da Capital Federal, como Valparaíso e Luziânia. Quem tinha um ponto de jogatina era obrigado a pagar, em média, 30% do faturamento para a quadrilha.

As investigações mostram que o gerente de Cachoeira era um primo dele: Lenine Araújo de Souza. Ao cobrar um desses pagamentos, Lenine revela que a quadrilha agia há muito tempo. 

Lenine - Há 17 anos, essa área do entorno nos pertence. 

- Eu não sou dono da área aí, não. Dono da área aí chama-se Carlinhos Cachoeira e Lenine. Os bicheiros é vocês. É por isso que eu pago e pago com prazer. 

Como Carlinhos Cachoeira conseguiu controlar o jogo ilegal por tanto tempo? De acordo com as investigações, foi graças ao pagamento de propina para, pelo menos, 38 policiais. Um dos acusados de receber dinheiro da quadrilha é da própria Polícia federal. 

Anderson Aguiar Drumond - que foi filmado tendo dois encontros com Lenine - tinha cargo de chefia na divisão de serviços gerais da Polícia federal de Brasília. Esse setor fornece carros e caminhões usados em operações policiais. Lenine pergunta a Carlinhos Cachoeira se pode dar dinheiro para Anderson. 

Lenine - Pode passar alguma coisa pra ele? 

Cachoeira - É o dos carros. né? 
- Exatamente. 
- Tá bom. Passa lá. 

Ao saber de uma operação para fechar uma casa de jogos, Anderson avisa Idalberto de Araújo, o Dadá: sargento aposentado da aeronáutica, acusado de ser o informante, o araponga, de Cachoeira. 

Na sequência, Dadá se encontra com Lenine.E Lenine dá o alerta para os comparsas: os bingos têm que ser fechados antes da chegada da polícia. 

Lenine - Fecha tá. Não precisa nem questionar, não. 
- Tá ok. 

O funcionário da Polícia Federal - que tinha um cargo administrativo - foi flagrado em escutas telefônicas pedindo dinheiro pra Dadá. 

Anderson - Tem jeito de você creditar aquela parcela pra mim amanhã, não? 
Dadá - Pego o número da conta e deposito. O nome é Anderson, né? 
Anderson - Anderson Aguiar Drumond. 

A Polícia federal encontrou parte da contabilidade da quadrilha. 

Entre fevereiro e agosto de 2001, constam 8 pagamentos para "and" e "ander". Segundo as investigações, trata-se de Anderson. O total chega a R$24 mil. 

Em nota, o advogado dele disse que as provas são ilícitas, estão fora de contexto e não representam a realidade.

Outras gravações inéditas mostram denúncias de corrupção envolvendo policiais civis, que também deveriam combater o jogo ilegal no entorno de Brasília. 

O delegado José Luis Martins de Araújo. E esta é Regina de Melo. Ele era chefe da 5ª Delegacia Regional de Luziânia, Goiás, onde o grupo de Cachoeira tinha casas de bingo. 

Regina trabalhava na delegacia. De acordo com as investigações, ela fazia os contatos com a quadrilha quando o assunto era propina. 

Por telefone, ela marca um encontro na casa dela com Lenine - o acusado de ser o gerente do bando.

Regina - O negócio que você for trazer pra mim, você põe tudo numa sacola, pra não ver nada, tá? Que eu já sei o que é. 

Lenine - Fica tranquila. 

Na sequência, Lenine liga para um comparsa. "Assistência" significa propina, segundo a polícia federal.
- Tem que separar as assistências. Inclusive, o Zezão tá me esperando lá. 
- Tá bom, então. 

No mesmo dia, o delegado José Luís, o Zezão, chega de caminhonete à casa de Regina. 

Meia hora depois, Lenine aparece. E repare no vídeo: ele traz uma sacola, como sugeriu a funcionária da delegacia. Para a polícia federal, é onde estaria a propina. 

Cerca de 40 minutos se passam e Lenine vai embora sem a sacola. Na contabilidade da quadrilha do acusado Cachoeira, existe o termo "assistência social".

Para RG - que segundo a Polícia federal - é Regina, a funcionária da delegacia, foram encontrados 3 pagamentos de R$600 cada.

E para ZL - que seria o delegado José Luis - há 3 pagamentos que somam R$9 mil. 

E olha até que ponto chegava a relação entre Lenine e Regina. Ela pede ao gerente do grupo de Cachoeira que ajude na reforma da delegacia. 

Regina - Estamos precisando de 670 reais. Pra pagar o pedreiro e botar soleiras na porta e os portais. 

Lenine - Eu vou ajudar. 

Procurada pelo Fantástico, Regina disse que não tem nada a declarar. Já o delegado José Luís não retornou nossas ligações.

Como a quadrilha tinha informações privilegiadas, as operações para fechar as casas de jogos não davam resultado. Caça níqueis, cartelas de bingo, tudo era retirado antes. 

Também é acusado de ajudar a quadrilha o inspetor da Policial rodoviário federal Alex Sandro Fonseca. De acordo com a polícia federal, os apelidos dele são Gaúcho e Tchê. 

As escutas telefônicas indicam - segundo as investigações - que Lenine, homem de confiança de Cachoeira, coordenava a entrega do dinheiro para o policial. 

Lenine - Separa quatro mil (reais) do Tchê que ele vai pegar ali no posto. Separa pra mim e já põe num envelopinho aí pra mim. 
- Tá bom, então. 

Cerca de vinte minutos depois dessa conversa, Lenine vai ao local marcado e se encontra com o policial rodoviário Alex Sandro Fonseca. 

Não dá pra ver se houve entrega de propina. 

Mas no item assistência social da contabilidade do bando, consta - nesse dia - a entrega de R$4 mil para Gaúcho.

Depois - de fevereiro a agosto de 2011 - existem mais 7 pagamentos que, segundo a investigação, também foram parar no bolso do policial rodoviário. Só nesse período, o total chega a R$31 mil.

Alex Sandro Fonseca está afastado do serviço. Por telefone, negou recebimento de propina. E disse que R$4 mil se referem ao pagamento de um jantar no restaurante Tchê, do primo dele.

“Essa quadrilha era um verdadeiro poder paralelo, deixando a sociedade à mercê dos policiais civis, militares e federais que eram pagos para protegê-los, em prol da manutenção dos jogos no entorno de Brasília e em outros locais”, declara Matheus Rodrigues, delegado da Polícia federal, responsável pela Operação Monte Carlo. 

Segundo o Ministério Público federal, Carlinhos Cachoeira ainda criou uma espécie de tropa de choque, formada por policiais militares do entorno de Brasília. 

“Ele mandava os PMs fecharem as casas dos concorrentes ou dos membros desleais”, Léa Batista de Oliveira, procuradora da República.

O Fantástico localizou este homem, que frequentava as casas de jogos de Carlinhos Cachoeira. Segundo ele, alguns PMs tinham ainda outra função na quadrilha. “Todos os seguranças dos bingos sempre foram policiais militares". Ele conta que os PMs eram violentos.

Que tipo de violência você já presenciou dentro de uma casa de bingo? 
- De espancamento a tiro. 

E Carlinhos Cachoeira? Ele sabia da violência nos bingos? 
Numa investigação de 2009, anterior à Operação Monte Carlo, ele é suspeito de comandar um sequestro.

Carlinhos Cachoeira e o seqüestro

Foi em abril de 2009. Carlinhos Cachoeira desconfiava que alguém estava fraudando os caça-níqueis e retirando dinheiro. O informante Idalberto de Araújo, o Dadá, foi averiguar e ligou para o chefe.

Dadá – Eu falei: "bicho, é o seguinte: todo material que tá aqui apreendido, vai ser entregado para o Carlinhos. 

Carlinhos - Excelente! Faz isso aí. Manda brasa, desbarata esses malandros, aí. 

Segundo a Polícia federal, as conversam indicam que Elion Alves Moreira foi feito refém e que Cachoeira queria que ele confessasse a fraude. 

Dadá - O celular dele tá aqui com a gente, entendeu? Então, ele tá sem comunicação com o time dele lá. 

Cachoeira - Pega ele e leva ele pra outro canto. Até ele contar. 

Dadá - Tá bom, então. 

Aparentemente, Elion chegou a ser agredido, com a aprovação de Carlinhos Cachoeira.

Dadá - Era melhor ele ter baixado a bola e não ter levado o pescoção. 

Cachoeira - Exatamente. Malandro. Tinha que arrumar na orelha dele mesmo. Vigarista. 

O advogado de Elion disse que não houve sequestro e classificou a suspeita da Polícia federal como uma interpretação equivocada dos fatos. 

Idalberto de Araújo, o Dadá, disse que prefere ficar calado sobre as denúncias mostradas nessa reportagem.

Carlinhos Cachoeira está preso na Penitenciária da Papuda. O Ministério Público quer que ele continue preso até o fim do julgamento e que ele seja condenado a 20 anos de prisão por vários crimes, como corrupção ativa e formação de quadrilha. 

“O chefe da organização criminosa está preso, mas a organização criminosa não foi totalmente desarticulada. A organização está trabalhando, movimentando, ameaçando, chantageando, mandando recado”, declara Lea Batista de Oliveira, procuradora da República.

Carlinhos Cachoeira, 49 anos, está sem advogado no momento. Um dos irmãos dele disse que Cachoeira nega que tenha praticado crimes de corrupção, formação de quadrilha e sequestro. Alega que as provas são ilegais e que vai provar sua inocência.

Em nota, o advogado de Lenine Araújo de Souza disse que as interceptações telefônicas não têm valor jurídico e que a Operação Monte Carlo extrapolou o seu objeto de exploração do jogo, que é mera contravenção penal.

Lenine e outros 32 presos na Operação Monte Carlo respondem em liberdade. 

Geovani Pereira da Silva, acusado de ser o contador da quadrilha, teve a prisão decretada em fevereiro e está foragido. 

Além do senador cassado Demóstenes Torres, outros políticos ainda estão sendo investigados. A mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, é suspeita de chantagear o juiz do caso, mas ela nega.

Para o Ministério Público federal, ainda há muito trabalho a ser feito para acabar com essa quadrilha. “Outras investigações estão sendo desenvolvidas, como lavagem de dinheiro, fraude em licitação. Indícios de que a quadrilha estaria atuando, inclusive, em âmbito internacional”, afirma Léa Batista de Oliveira, procuradora da República. 

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