POR ANGÉLICA FERNANDES
O Dia
Rio - Os instrumentos cirúrgicos são comprados pelos médicos numa unidade de saúde que sequer tem aparelhos de esterilização. São sintomas de que o Hospital Municipal da Piedade agoniza. Lá, o centro de esterilização não funciona há dois meses, quando foi interditado pela Vigilância Sanitária devido às más condições de máquinas com até 30 anos de uso.
“Trabalhamos na corda bamba, sabendo que há risco de vida para os pacientes porque não temos o básico”, desabafa o clínico-geral Mário Costa. Por conta da precariedade, as cirurgias foram reduzidas em 30% este ano. Os atendimentos ambulatoriais também sofreram queda. Os dois mil atendimentos mensais da Ginecologia em 2011 caíram à metade.
No Hospital Municipal da Piedade, aparelho que acelera os batimentos cardíacos, fundamental no setor de Cardiologia, não funciona há 3 meses | Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
“Fiz um rateio com outros médicos para comprar tesouras e afastadores cirúrgicos porque não tinha material suficiente para operar os pacientes mais graves”, conta o ginecologista Roberto Carvalhosa, que gastou no mês passado R$ 2 mil nas compras.
Sessenta pacientes aguardam na fila desde março para operações de incontinência urinária porque falta uma fita especial que custa, em média, mil reais.
Defeitos nos aparelhos clínicos são frequentes e atormentam o trabalho dos médicos. Na Cardiologia, o gerador de marcapasso, usado para acelerar batimentos cardíacos, está inutilizado há três meses. “O gerador não funciona mais. Qualquer paciente em um centro cirúrgico pode precisar do equipamento”, explica o cardiologista Robson Ayala.
Desde 2009, com a desativação do centro cirúrgico da Oftalmologia — que já foi considerado um serviço de referência —, há somente quatro salas de cirurgia. “Fazemos revezamento e operamos primeiro os mais graves”, conta Ayala. O centro cirúrgico foi fechado após apresentar mofo e infiltrações nas paredes.
Melhorias previstas em dois meses
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde esclareceu que a central de material esterilizado deve ficar pronta em dois meses, com a reforma das estruturas e a compra de uma nova autoclave, que promete dobrar a capacidade de esterilização.
A promessa é que o centro cirúrgico da Oftalmologia será reativado e ampliado para espaço com oito salas. O orçamento das obras já foi aprovado, mas o órgão alega que falta definir detalhes para o começo das obras.
Depósito de macas do desativado centro cirúrgico da oftalmologia | Foto: Divulgação / Sinmedrj
Quanto à fita para operações de incontinência urinária, a secretaria informou que o produto foi comprado. O gerador de marcapasso da cardiologia estaria em processo de aquisição.
Iaserj: ambulância até sexta
Após a visita do Ministério Público (MP) ao Instituto de Assistência aos Servidores do Estado do Rio (Iaserj) ontem, a Secretaria Estadual de Saúde decidiu manter, até sexta-feira, um leito de estabilização (para casos de emergência)e uma ambulância na unidade.
A medida é para garantir o atendimento àqueles pacientes que ainda buscam o ambulatório.
O MP solicitou, ainda, criação de comissão mista, com funcionários do Iaserj e membros da secretaria para acompanhar a transferência dos serviços para unidade do Maracanã.
“Deve ser elaborado plano de contingência para dar aos funcionários condições de trabalho e para não prejudicar um único paciente”, aponta a nota do MP. A secretaria acatará o pedido.
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