segunda-feira, 23 de julho de 2012

#ELEIÇÕES2012 #RJ - Voto do eleitor de Tanguá vale R$ 229


Aspirantes à prefeitura de Nova Friburgo, na Serra, planejam gastos superiores aos recursos federais vindos após a tragédia

O GLOBO



Em Tanguá não há água encanada nem esgoto, mas os candidatos que disputam a prefeitura preveem despesas milionárias nas campanhasMARCOS TRISTÃO / O GLOBO


RIO - O município de Tanguá, na região metropolitana do Rio, está a pouco mais de uma hora da capital, mas tem o décimo pior Índice de Desenvolvimento Humano do estado. Lá, menos da metade das ruas tem pavimentação e 9% da população acima dos 15 anos sequer sabem ler ou escrever, segundo dados do Censo 2010. Com apenas 22,8 mil eleitores, a cidade viu os sete aspirantes ao cargo de prefeito estimarem os gastos da campanha em R$ 5,25 milhões. Uma previsão de despesas de R$ 229,84 por eleitor, a maior entre as localidades com os mais baixos indicadores do estado.


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— É um número bem elevado — disse, com certo espanto, o autônomo Alexandre da Costa, de 39 anos. — Alguns bairros têm que ser olhados com mais carinho. Transporte aqui, para quem não tem carro, é uma única linha de ônibus.

Localizada no norte fluminense, a cidade de Cardoso Moreira pode até ficar fisicamente longe de Tanguá no mapa, mas está bem próxima quando o assunto é a previsão de gastos por eleitor. O município de 11 mil eleitores terá apenas três candidatos a prefeito, mas viu os políticos que disputam o cargo planejarem despesas que somam R$ 2,5 milhões, o mesmo valor estimado por Marcelo Freixo (PSOL), que concorre à prefeitura da capital. Isso faz com que a cidade, o terceiro pior IDH e detentora da segunda maior taxa de analfabetismo do estado, veja seus candidatos projetarem o desembolso de R$ 225,44 por eleitor.

Em São Francisco de Itabapoana, cidade com o segundo pior IDH e a maior taxa de analfabetismo do estado, dois candidatos a prefeito estimam juntos despesas de R$ 3,2 milhões, numa tentativa de atrair o voto de 35,6 mil eleitores. No município, metade das pessoas acima dos 10 anos vive com uma renda mensal de apenas R$ 200. Além dos baixos índices socioeconômicos, a cidade se acostumou com o burburinho dos escândalos políticos. O último deles ocorreu recentemente, quando o prefeito Beto Azevedo (PMDB) foi cassado. Ele chegou a ser preso este ano pela Polícia Federal, suspeito de desviar com empresários R$ 2,5 milhões do Sistema Único de Saúde.

As cidades da Região Serrana, onde cerca de 900 pessoas morreram durante as chuvas de janeiro de 2011, também terão campanhas milionárias. Em Nova Friburgo, seis aspirantes ao cargo de prefeito planejam gastos que somam R$ 11,2 milhões. É mais do que a cidade recebeu em recursos do governo federal após a tragédia (R$ 10 milhões). Até hoje, o município não se recuperou por inteiro. Há, inclusive, estradas ainda não recuperadas na área rural.

Assim como São Francisco do Itabapoana, Friburgo viu a política local ir parar nas páginas policiais. O Ministério Público Federal (MPF) do município pediu recentemente a condenação do vice-prefeito afastado Dermeval Barbosa Moreira Neto, prefeito em exercício da cidade durante a tragédia, acusado de desviar recursos públicos enviados para socorrer os moradores.

Em Petrópolis, a estimativa de gastos dos cinco candidatos soma R$ 6 milhões e, em Teresópolis, esse valor é de R$ 8,7 milhões, para oito candidatos. Nesta última, a eleição de outubro acontece poucos meses depois de a cidade eleger um novo prefeito. O antigo ocupante do cargo, Jorge Mário Sedlacek (PT), foi cassado após denúncias de desvios de verbas destinadas à recuperação dos bairros afetados pelas enxurradas.


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