domingo, 22 de julho de 2012

CPI DO CACHOEIRA - Contador é peça que falta nas investigações sobre o esquema Cachoeira


Agência Estado



Anápolis - Há 145 dias a Polícia Federal procura Geovani Pereira da Silva. O contador de 45 anos, dono de um patrimônio declarado inferior a R$ 200 mil, é a peça que falta para as investigações da Monte Carlo - a operação que levou à prisão Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em 29 de fevereiro, além de outras 79 pessoas.

Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Geovani era responsável por receber o dinheiro arrecadado do jogo ilegal e fazer pagamentos da organização criminosa. Calcula-se que a movimentação da quadrilha chegou aos bilhões de reais.

"Homem-bomba é o Carlinhos Cachoeira. Não é o Geovani", responde o advogado Calisto Abdalla Neto, responsável pela defesa do contador, às pressões de parlamentares da CPI para que seu cliente deponha.
Desaparecido, surgiram boatos de que ele estaria negociando uma delação premiada. O advogado nega: "Se ele fala, acorda morto. Ou morre antes mesmo de falar". Dados remetidos à CPI mostram que os rendimentos declarados de Geovani não combinam com sua elevada movimentação financeira.

"Ressalta-se que os rendimentos foram recebidos de pessoa física", diz a nota técnica da Receita Federal sobre o funcionário de Cachoeira, que tinha trânsito livre no Laboratório Vitapan e no escritório da Delta em Goiânia. Os valores não passam de R$ 21,3 mil e seu maior patrimônio teria sido registrado em 2009, quando declarou R$ 197,5 mil em bens e R$ 110 mil em dívidas. Naquele ano, Geovani teria comprado cinco carros. Em compensação, teria movimentado R$ 3,1 milhões. No ano seguinte, R$ 4,3 milhões.

Extratos do Banco Itaú também obtidos pela CPI descrevem a passagem milionária de valores pelas contas do contador. Os registros mostram, por exemplo, transferências de R$ 2 milhões em um único dia. O dinheiro tem destino certo: outras contas de Geovani, integrantes da quadrilha ou laranjas.

Rapidez

Nas mais de 250 mil horas de gravação da Monte Carlo, as conversas de Cachoeira com Geovani são rápidas e tratam exclusivamente de ordens de pagamento. "Mandou 23? Não. Manda 33 e põe 10 mil de crédito para mim", diz o contraventor ao contador que, além de livros-caixa online, tinha uma grande quantidade de registros em papel. Parte foi apreendida pela PF e parte está sendo periciada.

Em 3 de março de 2011, durante a negociação da venda da casa do governador Marconi Perillo, Cachoeira liga para o contador e pede "600, 500 e 400. O Cláudio sabe". Dias antes era Geovani que confirmava ao chefe o pagamento do arquiteto Alexandre Milhomem, responsável pela reforma e decoração na casa de Alphaville. Em outra conversa, depois de uma briga com a namorada, Cachoeira pede para Geovani depositar R$ 35 mil na conta de Andressa (Mendonça).

Técnico em contabilidade, Geovani morava em um bairro de classe média em Anápolis (GO). Em um dos áudios da operação, é questionado sobre como é trabalhar 18 anos com Cachoeira. "Toda vida ele foi assim (difícil de bater papo), mas entende tudo que você está falando", responde ao presidente do PT do B municipal, Sérgio Morais. Morais tinha planos de levar Geovani para a vida pública ainda neste ano. Na mesma ligação, os dois falam sobre a disputa pela prefeitura ou por uma possível vaga na Câmara Municipal de Anápolis.

O presidente do PT do B também diz que Geovani deveria tomar cuidado: "Com tantas ligações do poderoso, a PF já deve estar atrás de você". Em outra conversa é Cach0eira que pede precaução a Geovani, pois temia estar sendo grampeado.

Jantar

Em 28 de fevereiro, véspera da Monte Carlo, integrantes do grupo, entre eles Cachoeira, conversavam sobre uma possível operação da PF. O último registro telefônico entre ele e Cachoeira é mais uma ordem de pagamento, às 14h56. Geovani desapareceu naquela noite. Saiu para jantar com a namorada, deixou-a em casa e não voltou mais. Todos os outros denunciados foram presos.

Mãe de Geovani, Dalila disse que não poderia falar por orientação do filho - mesma resposta da namorada. "É muito difícil. Tem que ter muita tranquilidade para lidar com a situação", afirmou Dalila ao jornal O Estado de S. Paulo.

Conhecido na cidade, moradores de Anápolis dizem que Geovani ficou "proibido" depois que sumiu. "Todo mundo tem medo de a polícia achar que ele está escondido aqui. Ninguém nem toca no nome dele", avisa um morador do bairro onde o contador cresceu.

A defesa de Geovani diz que "ele está escondido, esperando que a Justiça lhe conceda a liberdade para poder se defender". O contador estaria em Goiás, mudando de endereço vez ou outra para evitar a prisão, mas mandando recados para a família sempre que possível.

Em 10 de junho, data do seu aniversário, teria cogitado um encontro com a mulher e os filhos. Com o advogado, Geovani esteve duas vezes. "Hoje não tenho mais contato. Não posso prejudicar o meu cliente. Por isso, nossa defesa é técnica. Não tenho como conversar com ele", diz o advogado Abdalla Neto. 

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