Andressa Mendonça teria dito que documento foi elaborado por jornalista da Veja
O GLOBO
Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira, ao deixar a Justiça Federal de Goiás, no último dia 24
GIVALDO BARBOSA / O GLOBO
GOIÂNIA - O juiz Rocha Santos, da 11ª Vara Federal de Goiânia, afirmou na tarde desta segunda-feira que Andressa Mendonça, mulher do contraventor Carlinhos Cachoeira, tentou chantageá-lo com ameaça de divulgar um dossiê que teria informações e fotos dele com dois políticos e dois empresários. Andressa teria dito, segundo o magistrado, que o levantamento foi feito pelo diretor da sucursal da “Veja” em Brasília, Policarpo Júnior, a pedido de Cachoeira. O conteúdo seria divulgado caso o juiz não adotasse medidas favoráveis ao bicheiro. Ela exigia absolvição do processo em que Cachoeira é acusado de corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha.
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- Ela insistiu para que eu aceitasse a proposta de liberar o Carlos (Cachoeira) em troca da não divulgação do dossiê. Foi quando eu perdi a paciência, abria porta e pedi para ela sair – disse o juiz ao GLOBO.
Procurada, a direção da revista afirmou que a acusação é absurda e mentirosa:
"A direção da VEJA afirmou que seu Departamento Jurídico está tomando providências para processar o autor da calúnia que tenta envolver de maneira criminosa a revista e seu jornalista com uma acusação absurda, falsa e agressivamente contrária aos nossos padrões éticos."
O objetivo de Andressa era obter uma decisão favorável para seu marido. O juiz reagiu e fez um relato do caso ao Ministério Público Federal. Depois de analisar o caso, o MP pediu a prisão dela, que pode acontecer a partir de quarta-feira, caso ela não pague R$ 100 mil de fiança.
- Ela teve a desfaçatez de ir à Justiça Federal tentar chantagear o juiz. Ele deve ter ficado perplexo. Foi muita ousadia da parte dela - disse uma autoridade que está acompanhando caso de perto.
Santos é o juiz que está conduzindo o processo contra o bicheiro e mais sete réus, por corrupção e formação de quadrilha armada, aberto após investigações da Operação Monte Carlo.
De acordo com informações da Polícia Federal concedidas nesta segunda-feira, Andressa já foi liberada e terá um prazo maior para pagar a fiança. Além disso, a PF definiu que ela não poderá ter qualquer contato com envolvidos na operação Monte Carlo, que levou à prisão de Cachoeira, inclusive com o marido. Mais cedo, Andressa foi levada para prestar esclarecimentos à Polícia Federal. Os agentes da PF cumpriram mandado de busca e apreensão em sua casa, antes de encaminhá-la ao depoimento.
Na última quarta-feira, o Ministério Público Federal pediu à Polícia Federal que abra inquérito para apurar o suposto uso de Andressa como laranja de Cachoeira. Documentos apreendidos na Operação Monte Carlo indicam que Cachoeira negociou a compra de uma fazenda de R$ 20 milhões entre Luziânia e Santa Maria, a cem quilômetros de Brasília, e passou para o nome da namorada.
A CPI do Cachoeira também já marcou a data para o depoimento da atual mulher do bicheiro Carlinhos Cachoeira e da ex-esposa do contraventor, Andréa Aprígio, na comissão que investiga as relações de Carlos Augusto Ramos com políticos e empresários. Ambas vão se apresentar à CPI, Andressa no dia 7 de agosto e Andréa no dia seguinte.
A assessoria do presidente da CPI do Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PSDB-PB), já se manifestou em relação à tentativa de chantagem e garantiu que a mulher do bicheiro será interrogada sobre o delito.
Ajufe apoia atitude de juiz
A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) divulgou nesta segunda-feira nota elogiando a conduta de Rocha Santos. A entidade manifestou "irrestrito apoio" ao magistrado:
"O juiz, corretamente, comunicou o fato ao Ministério Público Federal, que, por sua vez, tomou as medidas cabíveis ao caso. A atitude do juiz federal demonstra transparência e que a Magistratura Federal não se intimida por esse tipo de conduta. A impensada atitude da Sra. Andressa Mendonça não interferirá no andamento do processo criminal conduzido pelo juiz federal Alderico Rocha Santos. A sociedade brasileira tem total confiança na Justiça Federal", afirmou a entidade, em nota.
Andressa seria “mensageira” do grupo criminoso, diz MP
O Ministério Público Federal em Goiás (MPF - GO) classifica o comportamento de Andressa como o de “mensageira do grupo criminoso” de Cachoeira. Para os procuradores da República Léa Batista, Marcelo Ribeiro e Daniel de Resende Salgado, que participaram da operação Monte Carlo, que resultou na prisão de Cachoeira, Andressa agiu com “ousadia” ao ter supostamente tentado corromper o juiz.
“A gravidade do fato é latente, uma vez que a chantagem a um magistrado, no exercício de suas atribuições, com o escopo de pressioná-lo a decidir conforme os interesses do preso, é uma afronta ao próprio Estado Democrático de Direito. É fato inadmissível e que deve ser neutralizado, de forma rigorosa, pelas agências formais de controle”, avaliam os procuradores da República, segundo nota divulgada nesta segunda pelo MP.
Para o MPF, a investigação feita pelo grupo criminoso sobre a vida do juiz só vem a demonstrar que o grupo continua ativo, continuando a desenvolver ações de enfrentamento ao próprio Estado. “É mais um método utilizado por organizações criminosas para tentar garantir a impunidade de seus membros”, esclarecem.
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