terça-feira, 26 de junho de 2012

PLANOS DE SAÚDE - Clientes de planos de saúde enfrentam fila de espera em hospitais


Nos últimos anos, milhões de brasileiros contrataram plano de saúde e passaram a pagar mensalidade para receber um atendimento melhor em hospitais particulares.

Rodrigo Alvarez São Paulo, SP


Nos últimos anos, milhões de brasileiros contrataram plano de saúde e passaram a pagar mensalidade para receber um atendimento melhor em hospitais particulares. Em São Paulo, a equipe do Jornal Nacional visitou as áreas de pronto-socorro de quatro desses hospitais.

O paciente caiu, sofreu uma convulsão bem na entrada do hospital particular e finalmente recebeu atendimento. Antes disso, passou 50 minutos sentado na sala de espera da emergência do Hospital San Paolo, na Zona Norte de São Paulo, sem atenção pra pancada forte que levou na nuca num acidente doméstico.

O dono de uma loja de sucos também viveu um dia de angústia, em outro hospital particular. Teve que insistir pra passar a frente na longa fila de triagem do Santa Marcelina.

“E olha que é convênio. Paga para usar desse jeito”, disse o dono da loja de sucos.

Ele achava que, pagando R$ 400 por mês pelo novo plano da família, jamais passaria pelo aperto dos tempos em que só ia a hospitais públicos. Jamais ficaria uma hora e meia com dores fortes na cabeça, sem ver um médico.

“Estou com mal-estar, falta de ar, aí ela vai lá, vê a pulsação, fala que está bem.”, contou o comerciante.

No Hospital Nipo-Brasileiro, mais um lugar que realmente merece o nome de "sala de espera". O cartaz avisa que "o atendimento em horários de pico pode demorar três horas". Mas se esses hospitais particulares vivem lotados, quando é horário de pico?

Pra Agência Nacional de Saúde, quatro horas à espera de um médico é mau-atendimento em qualquer lugar. Mas, aos olhos da autoridade que regula os planos, nada tão grave quanto pacientes sem avaliação de risco por mais de uma hora, como a gente viu no Hospital de Clínicas em Caieiras, grande São Paulo.

“Estou esperando para chamar para medir a pressão. Estou morrendo de dor. Tem uma hora e não passei nem pela triagem”, ressaltou uma paciente do Hospital de Clínicas de Caieiras.

Nos últimos oito anos, mais de 15 milhões de brasileiros passaram a ter planos de saúde. Agora são 47 milhões de pessoas usando hospitais particulares.

“Os planos continuam vendendo. Esse é o problema. E nós é que levamos a fama de que ‘não atendemos’, ‘demora duas horas’. Eu sei que demora mesmo. Como é que vamos fazer? Pra aumentar a estrutura, pra fazer um investimento em um hospital privado, você vai pegar dinheiro aonde? Bndes não dá pra hospital privado. Vai pegar em banco? É inviável”, destacou o presidente do Sindhosp-SP Dante Montagnana.

A Agência Nacional de Saúde diz que os hospitais também têm responsabilidade nessa situação, por não adequarem a quantidade de planos conveniados à capacidade que eles têm de garantir um bom atendimento.

Desde abril, as reclamações dos usuários dos planos de saúde são monitoradas e agora a agência considera a possibilidade de suspender a venda de planos onde existe superlotação.

“Uma vez contratado o plano de saúde, você tem que ter acesso àquilo que contratou. Se isso não é possível, a Agência vai entrar nesse circuito impedindo que haja a comercialização de planos sem a devida entrega dos serviços”, ressaltou o diretor-presidente da ANS Mauricio Ceschin.

A Fenasaúde, que representa uma grande parte das operadoras de planos, diz que as reclamações recebidas pela ANS são poucas em relação ao número de atendimentos. E afirma que "qualquer tentativa de suspender a comercialização dos planos seria prejudicial à população".

O problema é quando uma parte da população que resolveu pagar um plano pra ter um atendimento melhor que no hospital público, quase não percebe a diferença.

“Você paga um convênio para ser atendido, não é?”, questionou uma paciente.

Em nota, os hospitais de Caieiras e Santa Marcelina declararam que priorizam o atendimento a pacientes conforme a gravidade do caso.

O Nipo-Brasileiro afirmou que adota critérios aceitos pelo Ministério da Saúde para a classificação de risco dos pacientes.

O San Paolo, onde o paciente teve uma convulsão, disse que o tempo de espera de 50 minutos não é comum no pronto-socorro.

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