quinta-feira, 31 de maio de 2012

SAÚDE NO RJ - Morte de pai de ator revela descaso no Rio que tem 200 denúncias por dia sobre serviços de saúde


Reclamações contra redes pública e privada são recebidas por serviço da Alerj

Gabriela Pacheco, do R7 | 31/05/2012 às 06h00

Ator quer pedir explicações na Justiça ao plano de saúde e à clínica que prestou atendimento ao pai dele

Denúncias como a do ator do filme Tropa de Elite Sandro Rocha de que seu pai não recebeu tratamento médico adequado e morreu em razão de demora de atendimento são recebidas pelo Alô Saúde, serviço da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro). O canal recebe até 200 ligações por dia, segundo o deputado Bruno Correia (PDT), presidente da comissão de Saúde. 

— A longa espera para conseguir realizar um exame deixou de afetar apenas quem depende do SUS (Sistema Único de Saúde) e passou a atingir quem confiava na excelência dos planos de saúde. Na Baixada Fluminense, há falta de vagas até nas clínicas particulares.

O pai de Sandro deu entrada na clínica Teresinha de Jesus, em São João de Meriti, na baixada, no dia 16 de maio com um quadro de infarto e o cateterismo – exame que confirma a gravidade da lesão – só foi agendado para o dia 24.

Logo após a chegada à unidade, médicos informaram que, para fazer o procedimento, era necessário passar por um processo burocrático com o plano de saúde e não havia vaga em outro hospital. O funcionário público aposentado Evandro Pereira Rocha, de 71 anos, acabou morrendo na madrugada do dia 26.

Para o ator, se feito rapidamente, o exame poderia ter salvo a vida do pai ao identificar a gravidade do problema. Além disso, Evandro deixou a sala sem ter feito a cirurgia necessária por não haver autorização do plano de saúde. Procurado, o convênio disse que, em 24 horas, liberaria o procedimento.

Empréstimo para cateterismo

As dificuldades enfrentadas por Evandro com plano de saúde, repetem-se na saúde pública. A acompanhante de idosos Sueli de Oliveira Benzaquem, de 66 anos, enfrenta obstáculos para conseguir tratamento de saúde desde agosto passado.

Ela afirma que passou 11 vezes por uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), onde foi identificada a necessidade de ela se submeter a cateterismo. Cansada de esperar, ela resolveu pegar um empréstimo de R$ 2.000 para pagar pelo exame.

Com duas artérias entupidas, Sueli ainda precisa fazer outros dois exames para, no dia 15 de junho, ser avaliada por uma equipe médica do SUS (Sistema Único de Saúde) no Instituto Nacional de Cardiologia, em Laranjeiras, na zona sul do Rio. Só então, ela saberá que tipo de cirurgia é necessário. Moradora de Queimados, na Baixada Fluminense, ela precisa de ajuda de toda a família para conseguir receber o tratamento no Rio.

— Cheguei a um ponto que penso: 'Se tivesse que morrer, já tinha morrido'. Mas acho que falta pouco [para o começo do tratamento]. Mesmo com toda essa dificuldade, não sei se um plano de saúde resolveria. A melhor opção é o particular, mas não tenho dinheiro para isso. 

Climério da Silva Rangel Junior, de 62 anos, funcionário do hospital federal do Andaraí, ficou seis dias à espera do exame de cateterismo após ter sido internado na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) de uma clínica particular, já com o quadro de infarto confirmado. Quando conseguiu realizar o exame, estava com 50% da capacidade de bombeamento do coração comprometida.

— Acredito que os melhores médicos são do SUS, mas o sistema não comporta toda a população. Então recorremos aos planos de saúde. Demorou o atendimento, mas tenho que admitir que ter a opção do plano foi o que me salvou. 

Prazos dos planos e denúncias

De acordo com a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), que regula os planos de saúde, o convênio não pode deixar de oferecer uma solução para o cliente, caso um exame autorizado não seja realizado no prazo previsto.

É importante guardar o número do protocolo do exame, pois servirá para a denúncia à ANS. Os canais de atendimento da agência são o Disque ANS (0800 701 9656), central de relacionamento no site ou diretamente em um dos 12 núcleos da ANS nas principais capitais.

A realização do cateterismo varia caso a caso e, por isso, se enquadra em diferentes faixas de prazo para liberação pelo plano de saúde. Quando for um serviço de diagnóstico, o exame poderá ser feito em dez dias. Se for compreendido como procedimento de alta complexidade, tem prazo de 21 dias. Entretanto, o médico também pode caracterizá-lo como urgência e emergência, em que o exame deve ser realizado de imediato.

Com as denúncias recebidas pelo telefone 0800-0220-008, a comissão de Saúde da Alerj analisa e repassa os problemas para a Secretaria Estadual de Saúde e até para o Ministério Público ou Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro), se necessário. Além de demora do atendimento, o serviço recebe denúncias sobre erro e negligência médica e reclamações de profissionais da área médica sobre a gestão das unidades de saúde.

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