Se MP tiver dúvidas quanto a despesas de comitiva de governador, viajante vai ser chamado
POR ADRIANA CRUZ
Rio - A conta do governo do estado com viagens ao exterior vai ter que fechar. O fiel da balança para sacramentar o valor é o Ministério Público (MP). Mas, para a contabilidade deixar de ser alvo de polêmicas, nos bastidores, procuradores e promotores prometem ‘passar a régua’. A maior preocupação é não deixar dúvidas sobre a investigação e impedir que a instituição fique com a pecha de protetora do governador Sérgio Cabral (PMDB). Para isso, informações sobre as viagens, como voos, pagamentos de diárias de secretários e servidores serão vasculhadas e eles podem ainda ser convocados a prestar depoimento.
Cavendish está abaixado ao lado do governador Sérgio Cabral | Foto: Reprodução
Na quarta-feira, o governo enviou a resposta do pedido de explicações do procurador-geral de Justiça, Cláudio Lopes. Os documentos estão nas mãos de seis procuradores e promotores da Subprocuradoria-Geral de Justiça de Atribuição Originária Institucional e Judicial, chefiados pelo procurador Antonio José Campos Moreira. O grupo atua em apuração que envolve quem tem foro privilegiado, como é o caso do governador Sérgio Cabral.
Os secretários de Saúde, Sérgio Cortes, e o de Governo, Wilson Carlos, são candidatos potenciais a prestar esclarecimentos ao MP. Além de Cabral, eles aparecem em imagens feitas em Paris, em 2009, com o empresário Fernando Cavendish, na época dono da Delta, e suspeito de ligação com o bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, Carlinhos Cachoeira. As fotos foram divulgadas pelo deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ), em seu blog.
Ainda em Paris, Sérgio Cortes (esquerda) e Cavendish (centro) brincam com guardanapos | Foto: Reprodução
O resultado do cruzamento de dados com a prestação de contas do governo sobre as viagens será encaminhado ao procurador-geral, Cláudio Lopes. Ele pode sugerir novas investigações ou até arquivar. Nesse caso, o arquivamento é submetido ao Conselho Superior do Ministério Público.
Despesas com comida e hotéis no foco
Tanto secretários de estado quanto servidores que forem convocados a prestar depoimento no Ministério Público (MP) vão ter que informar os valores que receberam de diária e prestar contas sobre os gastos.
O foco da investigação são as despesas com alimentação, transporte e diárias de hotéis. Os recursos destinados aos integrantes das comitivas são diferentes. Um secretário de estado, por exemplo, não recebe o mesmo valor de diária que um servidor.
Para montar o quebra-cabeça dos gastos, o MP vai ainda mapear o número de pessoas que viajaram para o exterior com os recursos do governo. A análise dos documentos está restrita a uma equipe de sete procuradores e promotores. Eles têm autonomia para pedir informações complementares e ainda tomar os depoimentos dos convocados.
Procurado por O DIA, o procurador-geral do estado, Cláudio Lopes, informou, por sua assessoria de imprensa, que o trabalho começou quarta-feira e está sob sigilo.
Justiça autoriza quebra de sigilos bancário e fiscal
A 5ª Vara do Tribunal de Justiça do Distrito Federal bloqueou os bens do bicheiro Carlinhos Cachoeira, do ex-diretor da construtora Delta Claudio Abreu e de mais seis pessoas denunciadas por formação de quadrilha e tráfico de influência. A Justiça autorizou ainda a quebra dos sigilos bancários e fiscal dos oito envolvidos e da Delta. O grupo é acusado de tentar fraudar licitação da bilhetagem eletrônica no transporte público do DF.
A quebra de sigilo abrange as contas correntes e declarações de renda dos investigados de janeiro de 2009 até agora. Em relação à Delta, a determinação inclui contas da empresa em todo o País. A decisão consta de processo decorrente da Operação Saint-Michel, deflagrada dia 25 pelo Ministério Público e pela Polícia Civil do DF, desdobramento da Monte Carlo, em que Cachoeira foi preso em fevereiro por exploração de jogo ilegal. Cláudio Abreu foi preso mês passado. Ele estava afastado do cargo na construtora desde a revelação de elo com Cachoeira.
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