Tráfico ordena fechamento do comércio em comunidades com UPP
POR Bruno Menezes
Maria Inez Magalhaes
Rio - Comércio fechado e ruas vazias. Os moradores e comerciantes da Cidade de Deus e Mangueira vivem, desde segunda-feira, a rotina de comunidades dominadas pelo tráfico, apesar da instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
A ordem para os lojistas baixarem as portas foi dada por bandidos após a morte de dois de seus comparsas e levou o Comando de Polícia Pacificadora a investigar de onde partiram as ameaças e a reforçar o policiamento nas duas áreas, patrulhadas por 750 PMs — 350 na Cidade de Deus e 400 na Mangueira.
Cidade de Deus tem seu comércio fechado | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
As regiões eram dominadas pelo Comando Vermelho e ações criminosas indicam que o tráfico não saiu com a chegada das UPPs. Homens em motos e bicicletas circularam nas comunidades ordenando o luto forçado. Com medo, moradores evitaram comentários. Na Mangueira, por volta das 20h de segunda-feira, traficantes souberam da morte de Wagner da Silva Assunção, o WG, no Jacarezinho.
Até no Largo do Pedregulho, em São Cristóvão, comerciantes que fecham mais tarde encerraram o trabalho. As ruas ficaram desertas e uma escola não funcionou. Ontem, só por volta das 17h, alguns estabelecimentos voltaram a funcionar e moradores a circular nas ruas e vielas.
“São resquícios do tráfico que mandou na comunidade por 50 anos. Estamos na Mangueira há cinco meses. Não considero uma afronta à UPP”, minimizou o comandante da UPP da Mangueira, capitão Leonardo Nogueira.
Na Cidade de Deus, o comércio foi fechado ontem às 14h. As ruas ficaram vazias. A ordem do tráfico foi passada segunda-feira, após a morte de Paulinho da Bazuca, em ação da PM no Morro do Juramento, Vicente de Carvalho.
Mangueira também tem suas lojas fechadas | Foto: Marcelo Regua / Agência O Dia
Segundo o comandante da UPP das Quadras, na Cidade de Deus, major Felipe Romeu, houve empate entre a polícia e o tráfico. “Empatamos, foi meio a meio. De manhã, tudo funcionou. Na parte da tarde, nem todas as lojas permaneceram abertas, principalmente após a repercussão do fechamento do comércio na Mangueira, onde bandidos também ordenaram o fechamento das lojas”, afirmou.
Um depósito de gás, na Estrada Miguel Sallazar, foi assaltado às 8h30. À noite, uma funcionária registrou o roubo na 32ª DP. Bandidos levaram mais R$ 10 mil. À tarde, três pessoas foram presas na Cidade de Deus e três na Mangueira.
Mensalão, ataques e invasões
Problemas com o tráfico em áreas pacificadas têm sido um desafio para a Segurança Pública do estado. O episódio mais recente aconteceu na Mangueira. Traficantes teriam invadido a quadra da escola de samba durante o processo de eleição para presidente. A ação teria acontecido sem reação de PMs da UPP.
Em fevereiro, o ex-comandante da UPP do Morro de São Carlos, capitão Adjaldo Luiz Piedade, e um ex-soldado foram presos pela Polícia Federal acusados de receberem propina do traficante Sandro Luiz de Paula Amorim, o Peixe, preso pouco antes da ocupação da Favela da Rocinha.
Em setembro, O DIA denunciou esquema de ‘mensalão’ na UPP da Coroa, Fallet e Fogueteiro. Comandante e subcomandante foram afastados e 28 agentes são investigados. No local,soldado Alexander de Oliveira perdeu perna atingido por granada em emboscada. Ano passado, favelas da Tijuca, Vila Isabel, Andaraí, Catumbi e Copacabana registraram homicídios. Três PMs da Cidade de Deus foram presos por homicídio.
‘Movimento muito menor’
Para o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, a ordem dos traficantes foi um ‘movimento menor’. “As UPPs garantem a abertura do comércio. Alguns grupos ditadores se achavam no direito de mandar isso acontecer, e isso não tem acontecido mais. É um movimento muito menor. Essas coisas não vão deixar de acontecer num piscar de olhos”.
Ex-secretário Nacional de Segurança Pública, o coronel José Vicente da Silva Filho analisou que as UPPs não são solução para todos os problemas das favelas. Segundo o especialista, o Estado não entra nas comunidades na mesma velocidade que a polícia para oferecer ações sociais. “O tráfico continua compensando a falta de atenção do estado. Só deixou de fazer pressão ostensiva, mas mantém terror psicológico e domínio de moradores”.
Fonte O Dia
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