terça-feira, 20 de março de 2012

RECICLAGEM NO RIO - O passo a passo da coleta de lixo que ainda engatinha

De Santa Teresa a Benfica, caminhão percorre 27km e chega ao destino final com apenas 25% de sua capacidade
Emanuel Alencar
Rogério Daflon
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O gari Luiz Carlos dos Santos, de 55 anos, recolhe embalagens de plástico e vidro numa rua de Santa Teresa e as deposita no caminhão da coleta seletiva
Pedro Kirilos / O Globo
RIO - O carioca que quiser participar da coleta seletiva de lixo precisa de zelo e disciplina. Em primeiro lugar, o caminhão só passa uma vez por semana em cada rua. E só recolhe os recicláveis — plásticos, papéis/papelão, alumínio e vidro — depositados em sacos transparentes, medida que visa a garantir que restos de comida não estão misturados ao material que vai virar insumo para indústrias.
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Ao acompanharem a coleta seletiva no dia 2 de março, repórteres do GLOBO observaram apenas alguns poucos desses sacos dispostos nas ruas de Santa Teresa. Às 8h30m, o caminhão saiu da gerência da Comlurb em Botafogo. Já na Rua Progresso, o gari Luiz Carlos dos Santos, de 55 anos, recebeu um caloroso abraço da aposentada Miriam Fontenele, de 74.

— Faço a separação do material com muito cuidado. Desde cedo espero a turma da Comlurb — conta a moradora.

Depois de oferecer água gelada aos garis, Miriam se despede. A viagem segue pelas ruas Monte Alegre, Riachuelo, Almirante Alexandrino e Dr. Júlio Otoni. Às 11h, o caminhão, com cerca de 2 toneladas de recicláveis (um quarto da capacidade) entra na Usina do Caju, para pesar.

— O caminhão está vazio. Na Tijuca, por exemplo, a quantidade de material que a gente pega é bem maior — diz o motorista do caminhão, Marcelo Bonomeddi, de 39 anos.

Depois de 150 minutos e 27 quilômetros, a máquina despeja o material num galpão da Associação Beneficente Padre Navarro, em Benfica. Lá funciona uma cooperativa, com 25 pessoas. Célia Ferreira Godinho, de 54 anos, é uma delas. Ela conta que construiu a casa dos filhos, na Penha, com o dinheiro do trabalho. Todos os dias, chega ao galpão às 7h e só vai embora às 17h. Ela recebe de R$ 400 a R$ 600 por mês.

— Agora estou fazendo um quarto para mim na Mangueira. Só saio daqui no dia que isso acabar — afirma.

Se do lado de fora os termômetros marcavam quase 40 graus, dentro do galpão o calor parecia ainda maior. Alheia ao desconforto causado pelo telhado de amianto, Deise Silva, de 45 anos, moradora do Caju, comentou, um tanto sem jeito, que prefere ser catadora a ficar em casa.

— Tenho dois filhos e um neto para criar. Aqui a gente ganha por produção: quem separa mais, ganha mais — explica. — Não vou ficar em casa recebendo ordem de marido.

Do galpão da Associação Padre Navarro, imóvel que pertence à Marinha, os recicláveis são vendidos a empresas. O quilo de papel vale 70 centavos; o de garrafas PET, R$ 1,60 e o de alumínio, R$ 2,20. O destino final é bem longe dali, em usinas de Minais Gerais, São Paulo e Paraná.

— Já houve fila aqui na porta em busca de emprego. Hoje há mais dificuldade de se conseguir mão de obra. As pessoas estão atrás de melhores oportunidades — afirma o encarregado da cooperativa, José Divaldo de Metos.

Apesar dos poucos avanços, a legislação é severa com os moradores e comerciantes que ignoram a separação do lixo: A lei 3.273/2001 diz que depositar resíduos diferentes daqueles a que se destinam os recipientes de coleta seletiva constitui infração punida com multa inicial de R$ 50. Mas, até hoje, a penalidade nunca foi aplicada a pessoas físicas ou jurídicas.



Fonte O Globo Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/o-passo-passo-da-coleta-de-lixo-que-ainda-engatinha-4340746#ixzz1pejhlFEU

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