sábado, 21 de janeiro de 2012

TRÁFICO NO PAC - Líder comunitário colocava nomes em lista de sorteio de apartamentos

Polícia diz que acusado se uniu ao tráfico para tomar apartamentos e repassá-los por até R$ 20 mil

POR FRANCISCO EDSON ALVES


Rio - Das grades que criavam área privê para apartamentos de traficantes em condomínio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para as grades da cadeia. A polícia prendeu na noite de quinta-feira, Leonardo Januário da Silva, 34 anos, presidente da Associação de Moradores da Favela Mandela de Pedra, no Complexo de Manguinhos. Ele é acusado de se associar com traficantes em um esquema lucrativo de invasão e venda dos imóveis por até R$ 20 mil. O problema foi revelado por O DIA no domingo passado.

Leonardo, ou ‘Léo da Embratel’ — em referência ao nome do condomínio onde atuava — cobrava a partir de R$ 15 mil por um apartamento do PAC. Os imóveis eram distribuídos de acordo com censo realizado por moradores da favela. Ele lucrava também com aluguel social: inventava cadastro de beneficiados e embolsava o valor.

Leonardo Januário da Silva foi preso na noite desta quinta-feira | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
O líder comunitário começou a ser investigado há quatro meses, quando um de seus telefonemas foi ouvido, por acaso, por policiais da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo. Eles investigavam o tráfico de drogas em São Gonçalo, que culminou na Operação Dezembro Negro. A prisão contou com apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.

“Constatamos que Leonardo comandava duas fraudes: o recebimento indevido de aluguel social e a inserção de nomes em listas para sorteio de apartamentos, que eram entregues mediante pagamentos de R$ 15 mil a R$ 20 mil”, afirmou o delegado Alan Luxardo. Os lucros eram divididos com os bandidos.

Grades nos corredores do PAC de Manguinhos: instaladas por moradores com medo e por traficante para isolar seus apartamentos | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia

Segundo ele, Leonardo enriqueceu: “Ele tem um caminhão e quatro carros de luxo (um Audi, uma Zafira, uma Ranger e uma Blazer) e negociava a compra de uma mansão em Arraial do Cabo por R$ 350 mil”. Os veículos ainda não foram apreendidos.

Fraude incluía marcar barracos com letra L

Para receber o aluguel social de forma fraudulenta, Leonardo chegou a construir barracos para obter o benefício. Eles eram marcados com a letra L — inicial de seu nome. Leonardo então inventava moradores para esses locais e os cadastrava. Para retirá-los das moradias precárias, o estado pagava até R$ 500 de aluguel social por família. O valor pago ia para o bolso de Léo.

“As escutas mostraram o estreito ligamento desse líder comunitário com o traficante Marcelo Piloto (Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, do Comando Vermelho, chefe do tráfico no Complexo de Manguinhos). Tanto que parentes de Piloto já tinham ocupado no mínimo 12 unidades no condomínio”, contou Luxardo.

O acusado confirmou que conhece o traficante, mas negou os crimes. “Nascemos e nos criamos na mesma comunidade. Se dissesse que não o conheço, estaria mentindo, mas ele nunca se intrometeu no meu trabalho e nem eu em suas atividades”.

Leonardo admitiu que parentes também foram sorteados com imóveis do PAC: “Porque parente meu não pode morar lá? Tenho 11 irmãos, entre eles uma deficiente mental, e nunca tivemos oportunidade de nada”. Ele vai responder por associação para o tráfico, falsificação de documentos e crimes contra a administração pública.

Bandidos cobram R$ 150 de taxa
Reportagens de O DIA mostraram que Leonardo encabeçava o esquema de venda de imóveis do PAC desde 2009, quando as obras do Governo Federal foram inauguradas.

Influente entre políticos, Leonardo chegou a ser fotografado com o ex-presidente Lula, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes em pelo menos duas ocasiões, no início das obras e na entrega dos apartamentos, em 2010.
No período em que O DIA frequentou o condomínio, foi possível constatar que imóveis foram transformados em lojas, igrejas e até em bares com máquinas caça-níqueis. Alguns servem de esconderijo para armas e drogas.
Para manter as irregularidades, os traficantes cobram R$ 150 de taxa. Bailes funk são promovidos na área comum do conjunto para reforçar a receita com a venda de drogas.

Com medo, moradores também estão alugando ou vendendo os imóveis, o que é proibido. Alguns instalaram grades nos corredores dos prédios para se protegerem. Em alguns casos, o isolamento foi erguido pelos traficantes, para criar área exclusiva de seus imóveis

Fonte O Dia http://odia.ig.com.br/portal/rio/html/2012/1/lider_comunitario_colocava_nomes_em_lista_de_sorteio_de_apartamentos_219858.html

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