Via foi aterrada no século XVIII; Teatro Municipal tem estacas profundas nas fundações
O Globo
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A foto de coleção particular mostra a Cinelândia na época da remodelação da cidade por Pereira PassosAcervo George Ermakoff
RIO - Por baixo do solo aparentemente estável da Cinelândia corre a história de uma cidade repleta de opções erradas de ocupação, com aterros que engoliram ossadas de gados inteiros e, no caso do Teatro Municipal, até vestígios de barcos. A Avenida Treze de Maio é uma das que escondem um passeio mais úmido. Parte dela era uma estreita faixa de terra que ligava o Centro à Lapa. Outra fração estava embaixo d’água e atendia por Lagoa de Santo Antônio.
O desabamento dos três edifícios da avenida, na noite de quarta-feira, pode não ter relação alguma com suas bases. Ainda assim, para o historiador Nireu Cavalcanti, professor da pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFF, serve como reflexão de como se deu a expansão da cidade.
— Seria mais lógico que o Rio, localizado numa região muito baixa, fosse uma cidade de canais, como Amsterdã — compara. — Em vez disso, optamos por cobrir todas as lagoas e mangues, o que ocorreu, por exemplo, na Cinelândia.
Na década de 1970, durante a construção do metrô, os engenheiros responsáveis pela obra encontraram carcaças de barcos que seriam do século XVII, quando as chuvas faziam os lagos da região receberem água e objetos da Baía de Guanabara. Sob a estação da Glória, outra descoberta digna de nota: a ossada completa de uma baleia. O regime militar, porém, proibiu a divulgação dos achados, sob o temor de que o empreendimento fosse convertido em sítio arqueológico.
Heranças do tempo em que o Centro era um complexo lacustre, de solo frágil e pantanoso. A região coberta por escombros hoje, há três séculos margeava a Lagoa de Santo Antônio. Seguir aquele caminho levava até uma outra lagoa, a do Boqueirão, que se esparramava por uma região hoje dividida entre o Passeio Público e a Praça dos Arcos da Lapa.
— O Boqueirão recebia água da chuva que escoava dos morros de Santo Antônio e do Castelo, enchendo até se unir à Lagoa de Santo Antônio — lembra Nireu.
Na região surgiu a expressão "Cidade Maravilhosa"
No século XVIII, as lagoas foram aterradas e sua água escoada para a Rua da Uruguaiana — cujo nome original, muito apropriadamente, era Rua da Vala. Surgiam, assim, dois largos, o da Carioca e a atual Cinelândia. A estrada responsável por sua ligação é, hoje, a Treze de Maio.
A primeira edificação de grande porte construída nos arredores foi o Teatro Municipal. Para sustentar uma estrutura tão pesada, foi necessário o uso de estacas de madeiras, que afundavam além do aterro e da lama, até encontrarem um terreno firme.
Arranha-céus como o Edifício Liberdade, de 20 andares, vieram na primeira metade do século passado. Mesma época em que as escavações do metrô descobriram, entre resquícios de barcos e baleias, bois mortos, jogados ali pelo antigo matadouro da cidade, instalado na Rua Santa Luzia até por volta de 1740.
A herança arqueológica e seu mau cheiro, porém, não foram o principal legado daquela região do Centro. Vale lembrar que foi por ali que nasceu o apelido Cidade Maravilhosa. Quando, exatamente, ninguém arrisca dizer. Mas foi provocado pelas reformas de Pereira Passos, cuja vitrine foi a criação da Avenida Central — hoje Rio Branco — e o ápice, a demolição do Morro do Castelo, encerrada em 1922.
Fonte O Globo Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/avenida-treze-de-maio-regiao-de-lagoas-mangues-no-passado-3773680#ixzz1kfhT1AEr
RIO - Por baixo do solo aparentemente estável da Cinelândia corre a história de uma cidade repleta de opções erradas de ocupação, com aterros que engoliram ossadas de gados inteiros e, no caso do Teatro Municipal, até vestígios de barcos. A Avenida Treze de Maio é uma das que escondem um passeio mais úmido. Parte dela era uma estreita faixa de terra que ligava o Centro à Lapa. Outra fração estava embaixo d’água e atendia por Lagoa de Santo Antônio.
O desabamento dos três edifícios da avenida, na noite de quarta-feira, pode não ter relação alguma com suas bases. Ainda assim, para o historiador Nireu Cavalcanti, professor da pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFF, serve como reflexão de como se deu a expansão da cidade.
— Seria mais lógico que o Rio, localizado numa região muito baixa, fosse uma cidade de canais, como Amsterdã — compara. — Em vez disso, optamos por cobrir todas as lagoas e mangues, o que ocorreu, por exemplo, na Cinelândia.
Na década de 1970, durante a construção do metrô, os engenheiros responsáveis pela obra encontraram carcaças de barcos que seriam do século XVII, quando as chuvas faziam os lagos da região receberem água e objetos da Baía de Guanabara. Sob a estação da Glória, outra descoberta digna de nota: a ossada completa de uma baleia. O regime militar, porém, proibiu a divulgação dos achados, sob o temor de que o empreendimento fosse convertido em sítio arqueológico.
Heranças do tempo em que o Centro era um complexo lacustre, de solo frágil e pantanoso. A região coberta por escombros hoje, há três séculos margeava a Lagoa de Santo Antônio. Seguir aquele caminho levava até uma outra lagoa, a do Boqueirão, que se esparramava por uma região hoje dividida entre o Passeio Público e a Praça dos Arcos da Lapa.
— O Boqueirão recebia água da chuva que escoava dos morros de Santo Antônio e do Castelo, enchendo até se unir à Lagoa de Santo Antônio — lembra Nireu.
Na região surgiu a expressão "Cidade Maravilhosa"
No século XVIII, as lagoas foram aterradas e sua água escoada para a Rua da Uruguaiana — cujo nome original, muito apropriadamente, era Rua da Vala. Surgiam, assim, dois largos, o da Carioca e a atual Cinelândia. A estrada responsável por sua ligação é, hoje, a Treze de Maio.
A primeira edificação de grande porte construída nos arredores foi o Teatro Municipal. Para sustentar uma estrutura tão pesada, foi necessário o uso de estacas de madeiras, que afundavam além do aterro e da lama, até encontrarem um terreno firme.
Arranha-céus como o Edifício Liberdade, de 20 andares, vieram na primeira metade do século passado. Mesma época em que as escavações do metrô descobriram, entre resquícios de barcos e baleias, bois mortos, jogados ali pelo antigo matadouro da cidade, instalado na Rua Santa Luzia até por volta de 1740.
A herança arqueológica e seu mau cheiro, porém, não foram o principal legado daquela região do Centro. Vale lembrar que foi por ali que nasceu o apelido Cidade Maravilhosa. Quando, exatamente, ninguém arrisca dizer. Mas foi provocado pelas reformas de Pereira Passos, cuja vitrine foi a criação da Avenida Central — hoje Rio Branco — e o ápice, a demolição do Morro do Castelo, encerrada em 1922.
Fonte O Globo Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/avenida-treze-de-maio-regiao-de-lagoas-mangues-no-passado-3773680#ixzz1kfhT1AEr
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