segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

DILMA EM CUBA - Visita dá oxigênio para a Ditadura de Castro

Governo Dilma e republicanos são anacrônicos sobre Cuba
Por Caio Blinder


A lenga-lenga do Raúl - Foto Ismael Francisco/AFP

A presidente Dilma Rousseff está para começar viagem oficial a Cuba Não deveria fazer esta visita. O porta-voz do Itamaraty Tovar Nunes justifica em burocratês que o objetivo da viagem é “sistematizar o relacionamento econômico” entre Brasil e Cuba e que interesses mútuos não são movidos por solidariedade política. Claro que são. No mundo não dá para ignorar realpolitik ou interesses econômicos. Mas também não dá para ignorar a camaradagem do Brasil com a ditadura cubana.
Como ignorar uma China a caminho de ser superpotência governada pela ditadura comunista? É chato ver como os EUA “sistematizam” uma relação estratégica com a ditadura saudita, mas é um constrangimento necessário. No caso do Brasil, não só existe solidariedade política em relação a Cuba, mas um orgulho do PT governante com os irmãos (no sentido literal e figurativo) que governam a ilha-presídio. Falta constrangimento.

A visita da presidente Dilma Rousseff, portanto, é um oxigênio para o regime cubano. Exceto para os cubanos na ilha-presídio, cubanos na Flórida e correligionários continentais, Cuba não tem maior importância. É basicamente uma mancha na consciência mundial. Cuba está lá embaixo na lista global de opressão. Começa a perder o bonde da história até para Mianmar, o país da briosa dissidente Aung San Suu Kyi, que finalmente empreende reformas políticas. A prêmio Nobel da Paz, que passou 15 dos últimos 23 anos em prisão domiciliar, está agora fazendo campanha por uma cadeira no Parlamento. Dá para imaginar quando a dissidente cubana Yoani Sánchez poderá fazer o mesmo?


Raúl Castro tem um projeto de reformas econômicas e administrativas. Empreende passos cautelosos para Cuba se converter em Vietnã do Norte e não acabar na história como uma Coreia do Norte. O projeto é liberalizar a economia e separar o aparato partidário da gestão governamental, ao estilo norte-vietnamita.. Claro que isto, em nenhuma hipótese, significa afrouxar o monopólio do poder político.

É aquela coisa atroz do artigo 5 da Constituição cubana, que “sistematiza” a ditadura: “O Partido Comunista de Cuba é vanguar­da organizada da nação cubana, é a força dirigente superior da sociedade e do Estado, que orga­niza e orienta os esforços co­muns na direção dos altos fins da construção do socialismo do progresso na direção da sociedade comunista”. Numa reunião do PC no fim de semana, Raúl Castro reiteirou o plano de mandatos limitados para os dirigentes, mas nada de limites para a ditadura, pois fez mais uma ode ao sistema de partido único.
Existe resistência a estas reformas econômicas de Raúl Castro nos bastiões stalinistas do partido e da parte do ”big brother” Fidel. Neste anacronismo, cubanos, na ilha estão irmanados a bastiões da comunidade anticastrista na Flórida. Candidatos republicanos à presidência em campanha no estado – devido às primárias desta terça-feira – têm uma linguagem durona na questão cubana. Prometem reviver o embargo total e acusam o presidente democrata Barack Obama de “apaziguamento”" em sua política cubana (também de ser frouxo sobre a Venezuela de Hugo Chávez). Mas esta “frouxidão” em Washington reflete uma suavização da própria comunidade cubana na Flórida.

A linha dura republicana destoa dos novos tempos. Ironicamente, os republicanos americanos e petistas brasileiros estão irmanados em uma visão atrasada de Cuba. O argumento desta linha dura americana é que suavizar o embargo – medidas como permitir visitas familiares ilimitadas a Cuba e transferência de dinheiro para parentes - dá sobrevida à ditadura cubana. Mas e o contra-argumento? Meio século de embargo é munição para a lenga-lenga castrista contra o imperialismo ianque (expressão tão surrada como a ditadura de Havana).

Cubanos da Flórida querem investir em Cuba (tirando proveito de estímulos a pequenos negócios privados e liberalização no mercado imobiliário). Evidentemente, muito mais estará em jogo caso haja descoberta generosa de petróleo na fatia cubana do golfo do México. Aí, gigantes empresariais americanos deverão fazer um lobby da pesada contra o embargo econômico, o que exige aprovação do Congresso. O fim do embargo seria também uma farra para a “nomenklatura” no poder em Havana, abrindo espaço para corrupção ao estilo Rússia pós-comunismo.

Pesquisas mostram esta suavização das atitudes dos cubano-americanos, como a que foi feita pela empresa Bendixen & Associated, a mais respeitada na radiografia da comunidade hispânica nos EUA. Os cubano-americanos estão divididos sobre o embargo: 41% contra e 40% a favor. Na avaliação da Bendixen, existe uma “evolução do pensamento” na comunidade anticastrista. A divisão de hoje contrasta com o consenso de anos atrás e reflete um conflito de gerações, com os mais jovens da comunidade cubana da Flórida favoráveis a maiores laços com a ilha, ainda uma ilha-presídio.

O eleitor cubano-americano é mais conservador do que os demais latinos nos EUA, mas ele conta cada vez menos na Flórida devido à crescente diversidade da minoria no estado (quase 1/4 da população). Em 2008, Obama derrotou o republicano John McCain entre os eleitores latinos na Flórida (57% a 42%) e teve uma avanço expressivo entre os cubano-americanos (McCain obteve 53% e o presidente ficou com 47%).

São novos tempos. Washington também precisa “sistematizar” suas relações com Havana de um modo diferente, mas não ao estilo de Brasília. O desafio é manter laços com Cuba, sem manter a camaradagem com a ditadura Castro e lhe conferir uma sobrevida.


     Fonte VEJA

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