Por Thamyres Dias
Jussara dos Santos Figueiredo, de 57 anos, mora na Rua Nunes Machado, em Sepetiba, na Zona Oeste do Rio. Mais do que um endereço, a informação acima é uma condenação: Jussara e todos os moradores da região atendida pelo Posto de Saúde da Família (PSF) Alagados — desde setembro, sem equipe médica, apenas de enfermagem — não podem se consultar com médicos em outras unidades públicas do bairro.
De acordo com a Estratégia de Saúde da Família, adotada pela Secretaria municipal de Saúde, os moradores cadastrados ali não podem ser atendidos na segunda Clínica da Família do bairro (CF Valéria Gomes Esteves), que só está autorizada a receber quem mora do outro lado de Sepetiba. A divisão serve para organizar o atendimento — cada equipe de cada uma das unidades fica responsável por cerca de 4.500 pessoas — mas, quando faltam médicos, os moradores ficam sem ter a quem recorrer.
Há ainda o Posto de Saúde Waldemar Berardinelli, que também não atende quem está sob os “cuidados” do PSF Alagados. A ironia, nesse caso, é ainda maior: as duas unidades funcionam no mesmo prédio.
— Nós moramos em Sepetiba, mas parece que estamos isolados em uma ilha. Vejo meu neto e meu bisneto doentes e não consigo pediatra. Enquanto isso, vou cuidando com chazinho, à moda da roça — desabafou Jussara.
Na quinta-feira, o EXTRA acompanhou a dona de casa em uma visita ao PSF Alagados. Jussara buscava atendimento para o bisneto, de 4 meses, que está com uma doença de pele. O pequeno foi consultado por um enfermeiro, que o encaminhou a um pediatra.
— Mas procura em outro lugar porque aqui não tem nem previsão de vir médico — alertou o profissional.
Na recepção ao lado, do PS Waldemar Berardinelli, uma placa registrava a presença de dois pediatras.
— Desse lado tem médico, mas como eu moro na área do Alagados, disseram que não podem atender o menino. Estou desesperada — disse ela.
Sem consulta, nada de remédio
A impossibilidade de atendimento médico também prejudica quem toma remédios de uso contínuo. Sem clínicos gerais tanto no PSF Alagados quanto no Posto de Saúde Waldemar Berardinelli, os moradores não podem renovar suas receitas. Agentes de saúde estão avisando, de casa em casa, que quem já estiver com o medicamento acabando deve tentar a sorte em outros bairros.
— Quase não consigo andar e, para mim, fica impossível ir até Santa Cruz ou Campo Grande. Estou dependendo da ajuda de amigos para comprar meus remédios — reclamou a aposentada Helena Maria Damico, de 56 anos, que concluiu: — Esse lugar aqui virou um depósito de gente. Não temos acesso nem mesmo ao básico.
Questionada sobre a situação em Sepetiba, a Secretaria municipal de Saúde não informou o motivo da falta de médicos nas unidades. Em nota, a secretaria disse apenas que está em fase de contratação de pessoal, sem estabelecer prazo para a regularização do atendimento.
A secretaria informou ainda que está construindo uma UPA na região. A unidade deve ficar pronta até o final do ano.
Quanto à Clínica da Família Valéria Gomes Esteves, a nota explicou que, por fazer parte da Estratégia de Saúde da Família, a unidade continuará sem atender os moradores que não façam parte de sua área de atuação.
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