terça-feira, 27 de setembro de 2011

SAÚDE IN RIO - Fechamento da UPA da Maré gera reflexos em outras unidades

POR ROBERTA TRINDADE
Rio - O número de pacientes no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) já aumentou, após o fechamento da Unidade de Pronto Atendimento da Maré, nesta segunda-feira. A informação é da assessoria de imprensa do hospital, que não especificou o percentual de aumento. A unidade, que passa por obras, está recebendo mais pacientes especialmente na pediatria. Pacientes contaram que aguardaram mais de sete horas.

Movimento de pacientes aumentou no Hospital Federal de Bonsucesso após fechamento da UPA da Maré | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Moradora da Maré, Maria de Macedo, 44, estava com a pressão alta. “Estou aqui há sete horas e não fui atendida. Espero não ter nada grave. Vou para casa”.

Médicos do hospital questionaram a decisão de a unidade ter sido indicada como opção após o fechamento da UPA. “Isso é um hospital para atender casos graves, com risco de vida. É um perfil diferente da UPA e vamos ficar sobrecarregados”, lamentou um médico, que pediu para não ser identificado.

Na UPA da Ilha, os pacientes estavam com medo de que a unidade ficasse sobrecarregada. “Hoje (segunda-feira) o atendimento é bom, mas com mais pacientes vai complicar”, avaliou a aposentada Vânia Gomes, 60. O aparelho de Raio X e o de exames de sangue estavam quebrados. “Podiam pegar os equipamentos da Maré e colocar aqui”, sugeriu Vânia.

290 pacientes por dia
Primeira Unidade de Pronto Atendimento inaugurada no Estado do Rio, em 2007, a UPA da Maré foi fechada por tempo indeterminado. A decisão foi da Secretaria de Estado de Saúde, após recomendação do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio de Brito Duarte. A unidade atendia em média 290 pacientes por dia. O investimento para a abertura de uma UPA é em torno de R$ 1 milhão e o custeio mensal, de R$ 400 mil a 500 mil.

A medida, segundo a PM, foi tomada para preservar moradores e funcionários da unidade, devido a seguidas operações das polícias Civil e Militar, que começaram no dia 19. Em sete dias, 13 pessoas acusadas de tráfico foram presas.

Sem aviso, pacientes perdem a viagem até a UPA da Maré. Vigias avisam sobre fechamento e indicam as alternativas | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
O governador Sérgio Cabral lamentou o fechamento. Segundo ele, se há uma recomendação da segurança, é melhor reabrir depois. “Dói muito o coração porque foi a primeira UPA a ser aberta por mim. Eu lamento, mas chegará o momento em que a Maré estará pacificada e que esse tipo de situação tensa não acontecerá mais”, disse.

 O comandante do 22º BPM (Benfica), coronel Cláudio Oliveira (que foi preso nessa manhã), revelou que grande quantidade de drogas e armas tem sido apreendida.

A violência já tinha afastado alguns moradores da unidade. A dona de casa Rosângela Medeiros, 34 anos, conta que já dormiu na UPA. “Levei minha mãe, com pressão alta, e começou tiroteio. Não pude sair”. Domingo, quando o filho sentiu taquicardia, ela foi para a UPA da Penha. “Se ele ouvisse tiro, ia piorar”.

Sem aviso O fechamento, que completa uma semana hoje, pegou de surpresa moradores que procuraram atendimento. A diarista Mariana Gomes, 37, levou um susto. “Agora vou ter que ir até a Penha”, lamentou, logo após ser informada pelos três vigias na unidade fechada. Ela estava com tonteiras.

O aposentado Ismael Magalhães, 84 anos, que mora há sete anos na Vila do João, resolveu voltar para casa, apesar da forte dor de cabeça. “Depois vou até o Hospital Federal de Bonsucesso”, disse. No HFB, o número de pacientes já subiu com fechamento da UPA.

Forte esquema de segurança em 2007
Com consultórios de pediatria, ortopedia, clínica médica e odontologia, a UPA da Maré — a primeira do estado — foi inaugurada em maio de 2007 com forte esquema de segurança. Policiais armados ocupavam as vias de acesso à Vila do João e contêineres, enquanto, dentro da UPA, crianças cantavam e comemoravam o lançamento do que chegou a ser chamado de “UPA D’Or” pelos moradores da região.

Segundo o estado, a UPA fazia 290 atendimentos diários. “O fechamento da UPA é o reconhecimento da inoperância e ineficiência da administração pública na garantia dos direitos constitucionais”, disse o presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze.

O vereador Paulo Pinheiro afirma que a falta de segurança nas unidades de saúde localizadas em comunidades é um problema que afasta os profissionais.

“A bala não desvia do médico porque ele é médico. Os enfermeiros, técnicos e médicos enfrentam os mesmos problemas dos moradores da região. A rotatividade nestes locais é alta porque o médico enfrenta um tiroteio, uma invasão e acaba desistindo. A população não tem esta opção”.

'UPP fora dos planos'
O comando da PM emitiu nota nesta segunda-feira explicando que a decisão de fechar a UPA foi tomada devido a informações do setor de Inteligência sobre a existência de bandidos com armamento perto da unidade. Segundo a nota, ‘as operações têm sido diárias’.

Na sexta-feira, por exemplo, em localidade próxima à UPA, nove traficantes foram presos pela polícia, que apreendeu três fuzis, duas metralhadoras, duas pistolas, duas granadas e drogas. A nota ressalta que ‘as ações não têm nada a ver com a instalação de UPP na área’.

Ainda segundo a nota, a Maré terá em breve um Comando de Operações Especiais (COE), no quartel do antigo Batalhão de Infantaria Blindada (BIB). O COE será sede do Bope, do Canil da PM e do Grupamento Aéreo-Marítimo. “Como o atendimento nas UPAs é 24 horas, foi necessário evitar o fluxo de pessoas ao local para que ninguém ficasse sob risco”.

O complexo tem 132 mil moradores, segundo a ONG Redes de Desenvolvimento da Maré (Redes). É composto por 15 favelas, divididas entre o domínio da milícia e das facções criminosas Terceiro Comando Puro (TCP) e Comando Vermelho (CV).

FOnte O Dia http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2011/9/fechamento_da_upa_da_mare_gera_reflexos_em_outras_unidades_195114.html
 

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