sexta-feira, 23 de setembro de 2011

'Enquanto a Bola Rola' por Nélson Motta

23/09/2011 às 20:49 \ Feira Livre
‘Enquanto a bola rola’, um artigo de Nelson Motta


TEXTO PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA SEXTA-FEIRA



Para quem ama futebol não existe nada melhor do que ir a uma Copa do Mundo e assistir a todos os jogos, com o seu time terminando campeão. Mas nada pode ser pior para um torcedor apaixonado do que ir a uma Copa e não conseguir ver os jogos. Para assistir pela televisão, é mais barato e confortável ficar em casa, ou no bar com os amigos, tomando sua cervejinha no ar-condicionado. Ver um jogo no estádio é muito diferente, é uma sensação insuperável para quem ama o futebol, que nem a melhor TV em 3D consegue dar.

Quem vai viajar milhares de milhas e gastar milhares de dólares para ir a uma Copa do Mundo e não ver os jogos? Pelas contas oficiais, muita gente: 600 mil turistas são esperados para a Copa de 2014. Como entre brasileiros e estrangeiros só 80 mil vão ver a final no Maracanã, vai sobrar muito turista fora do estádio, assistindo pela TV, como se estivesse em sua própria casa. Nas semifinais, serão só 130 mil ingressos para nativos e gringos e, nas quartas, só 260 mil privilegiados vão assistir aos quatro jogos ao vivo. Os cidadãos que pagaram a conta da festa vão ver na TV.

Otimista, o Ministério do Turismo também espera 3,7 milhões de brasileiros viajando pelo País durante a Copa, mas a grande maioria não tem chance de ver os jogos além das oitavas de final. O que essa multidão de turistas – que adora futebol e gasta muito dinheiro para viajar – vai fazer aqui se não puder ver os jogos? Só se for turismo sexual. Para turistas não futebolísticos, viajar para o Brasil no inverno é uma roubada. O pior é gastar uma grana para ver seu país ser eliminado logo no início e ficar zanzando como um zumbi futebolístico, fingindo que ainda está interessado na Copa.

Mas a ministra do Planejamento já planejou: como os projetos de mobilidade urbana não vão ficar prontos para a Copa, para diminuir o número de pessoas na rua e a demanda por transporte público, pode ser decretado feriado nos dias de jogos. Enquanto 70 mil, que é menos da metade do público do Rock in Rio, vão ao estádio, o resto da “turistama” fica de bobeira, com o comércio fechado e a cidade parada, vendo a Copa pela TV

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