quinta-feira, 27 de maio de 2010

TECNOLOGIA - Facebook muda mas não o suficiente, dizem críticos



Zuckerberg garantiu que o site se preocupa com a privacidade de 
seus usuários Foto: AP Mark Zuckerberg: "A grande lição que extraímos é a de que não podemos voltar a mexer nas questões de privacidade por muito tempo"
Foto: AP


Miguel Helft e Jenna Wortham
Desde que o Facebook foi fundado, em 2004, Mark Zuckerberg, o presidente-executivo da empresa, vem pressionando os usuários a divulgar mais informações a seu respeito para o público geral da internet. Os usuários costumam reagir a essas tentativas, com queixas de que algum novo recurso ou controle do site representa uma violação de seu direito à privacidade.
Mas as reações raramente foram tão fortes quanto nas últimas semanas, quando usuários, defensores do direito à privacidade e funcionários dos governos de diversos países passaram a disparar queixas cada vez mais ferozes contra a companhia. Na quarta-feira, Zuckerberg respondeu, revelando uma série de mudanças nos controles que, segundo ele, ajudariam as pessoas a compreender melhor que informações estavam divulgando online, e para quem.
"As últimas semanas foram bastante intensas para nós", disse Zuckerberg, que acrescentou ter realizado muitas reuniões com os demais executivos da empresa, nas últimas duas semanas, para ajudar a definir a resposta do Facebook.
A disputa entre o Facebook e seus usuários quanto a questões de proteção de privacidade vem ganhando importância, à medida que o crescimento da companhia prossegue sem pausa. O serviço agora conta com 500 milhões de usuários em todo o mundo, e suas normas, mais que as de qualquer outra companhia, estão ajudando a definir os padrões de defesa da privacidade na era da internet.
Os novos comandos simplificariam um sistema que até agora requer que os usuários selecionem suas preferências entre mais de 150 opções.
"O Facebook está tentando mudar as normas de privacidade usuais da internet, e os usuários estão resistindo a essa pressão", disse Marc Rotenberg, diretor executivo do Centro de Informações sobre Privacidade Eletrônica, que recentemente apresentou à Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC) uma queixa quanto às práticas de privacidade do Facebook. "Estamos falando sobre quem controla a divulgação de dados pessoais. Não cabe ao Facebook tomar essa decisão em nome dos usuários".
Rotenberg e outros defensores da privacidade dizem que as mudanças anunciadas pelo Facebook na quarta-feira eram em geral positivas, mas disseram esperar mudanças adicionais e por mais fiscalização sobre a empresa da parte do Congresso e das autoridades regulatórias.
Zuckerberg anunciou as mudanças durante uma entrevista coletiva na sede do Facebook, em Palo Alto. Ele parecia contrito e reconheceu que a empresa cometeu erros, mas não pediu desculpas aos usuários.
O executivo disse que os novos controles de privacidade, que passarão a estar disponíveis nas páginas de perfis dos usuários dentro de uma ou duas semanas, tornarão mais fácil para os usuários compreender que parte de suas informações pessoais estarão acessíveis para o público em geral. "Os controles haviam se tornado complexos demais, e era difícil para as pessoas usá-los de modo efetivo", disse.
O Facebook anunciou que ofereceria aos usuários controles simples para determinar se sua informação deveria estar disponível apenas para amigos, amigos de amigos ou todos os usuários da internet. Os controles serão aplicados retroativamente a todo o conteúdo que um usuário já tenha publicado no Facebook.
Além disso, a empresa anunciou que alteraria sua lista e guia de usuários de forma a que exibam apenas o mínimo de informações quando pessoas estiverem buscando por usuários ¿ por exemplo, nome, a foto usado no perfil e o sexo. Anteriormente, o serviço exigia que seus usuários divulgassem mais informações pessoais para o público geral.
O Facebook também passará a oferecer um método fácil para que os usuários desativem o novo controvertido recurso de "personalização instantânea", que permite que sites parceiros da companhia, como o Yelp e o Pandora, ganhem acesso a seus dados pessoais.
A crise
A mais recente crise para o Facebook começou a se desenrolar pouco depois de uma conferência organizada pela empresa para programadores de aplicativos, no final de abril, quando revelou novos recursos e um plano para estender as funções do Facebook a diversos outros sites da web.
A companhia argumentava, como já vem fazendo há algum tempo, que compartilhar mais informações, e com maior número de pessoas, torna o site melhor para todo mundo. Embora obter mais informação sobre seus usuários também ajude o Facebook a criar recursos de personalização da publicidade que veicula, Zuckerberg disse que nenhuma das mudanças relacionadas ao controle de privacidade havia sido adotada por motivos financeiros.
Alguns críticos argumentam que a empresa demorou demais a responder às críticas quanto à sua decisão. Mas havia um debate fervilhando entre os dirigentes da companhia, e alguns executivos argumentavam que o Facebook poderia escapar sem ter de realizar quaisquer alterações no site, de acordo com pessoas informadas obre as discussões.
As rebeliões anteriores de usuários terminaram por se dissipar, e a despeito de algumas deserções divulgadas pelos blogs de tecnologia, os usuários do Facebook não estavam cancelando contas em ritmo mais acelerado do que no passado.
No entanto, o volume de publicidade adversa para a empresa se tornou impossível de ignorar. "Ninguém gosta de ver um volume de retornos adversos como o que estávamos recebendo", disse Zuckerberg em entrevista. "Muitos dos blogs e a reação geral da audiência eram bem negativos".
Assim que ele decidiu promover as mudanças nos controle de privacidade, Zuckerberg e alguns outros dos principais dirigentes da empresa, acompanhados por gerentes de produtos e pelos engenheiros, se reuniram por quase duas semanas. Trabalhando virtualmente sem descanso nem mesmo nos dois finais de semana, o grupo desenvolveu o novo conjunto de controles anunciado na quarta-feira. Zuckerberg também conversou pessoalmente com alguns de seus mais ásperos críticos.
"Estamos trabalhando sem parar com isso há algumas semanas", ele disse. "Muita gente ficou sem comer, dormir ou mudar de roupas em muitos momentos das últimas duas semanas".
Erro
Zuckerberg disse que o maior erro do Facebook foi não ter percebido que os novos recursos adicionados e os novos e complicados controles de segurança adotados haviam se tornado impossíveis de usar, na prática, para muitos dos assinantes. "Provavelmente deveríamos ter demonstrado mais sensibilidade com relação a essa questão antes que surgissem problemas".
Zuckerberg, 26, disse que a crise era um desafio, mas não tão severo quanto rejeitar, aos 22 anos de idade, ofertas de aquisições de US$ 1 bilhão apresentadas por companhias como o Yahoo e a Viacom. "Aquela foi certamente a situação mais desgastante que enfrentei na companhia", ele afirmou.
Kurt Opshl, advogado na Electronic Frontier Foundation, uma das organizações que pressionou o Facebook devido a questão dA privacidade, declarou que os novos controles eram um passo adiante. Mas disse que o Facebook não deveria pressionar os usuários a adotar o recurso de personalização instantânea sem consentimento prévio. "Trata-se de mudança na forma pela qual os dados são usados, de um modo diferente das expectativas que as pessoas tinham ao fornecer seus dados ao site", disse.
Opsahl disse também que o Facebook não parece oferecer uma boa maneira de administrar os controles que permitem a aplicativos operados por terceiros, como o jogo online FarmVille, acesso a informações pessoais. Os usuários estão limitados a escolher entre abrir informações a todos os aplicativos ou a nenhum deles.
A mais recente disputa entre o Facebook e seus usuários pode afetar as normas de privacidade de outras empresas de tecnologia, disse Ray Valdes, analista do Gartner. "O Facebook está servindo como caso teste", disse. "Os concorrentes estão acompanhando para determinar o que o Facebook consegue implementar e que limites serão considerados aceitáveis pelo governo e pelos usuários".
Durante a entrevista coletiva, Zuckerberg declarou que essa seria a última reformulação nos controles de privacidade planejada pela empresa, por um bom tempo. Ele diz que as preferências expressas pelo usuário por meio dos novos controles se aplicariam a todos os futuros produtos e mudanças no site. "A grande lição que extraímos é a de que não podemos voltar a mexer nas questões de privacidade por muito tempo".
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times
The New York Times

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