quarta-feira, 19 de maio de 2010

PERSONAGENS POLÍTICOS / RIO DE JANEIRO - CARLOS LACERDA

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Folha Imagem
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Carlos Frederico Werneck de Lacerda (Rio de Janeiro, 30 de abril de 1914 — Rio de Janeiro, 21 de maio de 1977) foi um jornalista e político brasileiro. Foi membro da União Democrática Nacional (UDN), vereador (1945), deputado federal (1947–55) e governador do estado da Guanabara (1960–65). Fundador em 1949 e proprietário do jornal Tribuna da Imprensa e criador, em 1965, da editora Nova Fronteira.

Índice

Origens

Filho do político, tribuno e escritor Maurício de Lacerda (18881959) e de Olga Caminhoá Werneck (18921979), era neto paterno do ministro do Supremo Tribunal Federal Sebastião Lacerda. Pela família materna, era bisneto do botânico Joaquim Monteiro Caminhoá e descendente direto do barão do Ribeirão e de Inácio de Sousa Vernek, cuja família tinha importante influência política e econômica na região. Seus pais eram primos, descendentes em linhas afastadas de Francisco Rodrigues Alves, o primeiro sesmeiro da cidade de Vassouras. Por outro lado, embora tivesse sobrenome parecido como o do barão de Pati do Alferes, o seu sobrenome Lacerda origina-se de seu bisavô, um pobre confeiteiro português que se estabeleceu em Vassouras[1] e se casou com uma descendente de Francisco Rodrigues Alves (estes serão os pais de seu avô paterno, Sebastião Lacerda).
Nasceu no Rio de Janeiro, mas foi registrado como tendo nascido em Vassouras, cidade onde seu avô residia e seu pai tinha grandes interesses políticos[1]. Recebeu o nome de Carlos Frederico como homenagem aos pensadores políticos Karl Marx e Friedrich Engels.
Ingressou em 1929 no curso de Ciências Jurídicas e Sociais da então Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Durante seu período acadêmico, destacou-se como orador e participou ativamente do movimento estudantil de esquerda no Centro Acadêmico Cândido de Oliveira. Devido ao grande envolvimento em atividades políticas, abandonou o curso em 1932.
Tornou-se militante comunista, seguindo os passos de seu pai, Maurício de Lacerda, e do seu tio Paulo Lacerda, antigos militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Sua primeira ação contra o governo de Getúlio Vargas implantado com a revolução de 1930, deu-se em janeiro de 1931, quando planejou, junto com outros comunistas, incentivar marchas de desempregados no Rio de Janeiro e em Santos durante as quais ocorreriam ataques a lojas comerciais . A conspiração comunista foi descoberta e desbaratada pela polícia liderada por João Batista Luzardo, o que até virou notícia no jornal americano The New York Times.
Em março de 1934, leu o manifesto de lançamento oficial da Aliança Nacional Libertadora (ANL) em uma solenidade no Rio de Janeiro à qual compareceram milhares de pessoas.
Capa do livro "O Quilombo de Manuel Congo" escrito por Carlos Lacerda usando o pseudônimo Marcos (ano 1935).
 
No ano seguinte, publicou com o pseudônimo de Marcos, um livreto contando a história do quilombo de Manuel Congo. Apesar do seu viés de propaganda comunista juvenil, o livreto resultou da primeira pesquisa histórica feita sobre um assunto que tinha sido quase esquecido.
Quando ocorreu o fracasso da Intentona Comunista de 1935, teve que se esconder na velha chácara da família em Comércio (atual Sebastião Lacerda, Vassouras) e ser protegido pela família influente.
Rompeu com o movimento comunista em 1939 dizendo considerar que tal doutrina "levaria a uma ditadura, pior do que as outras, porque muito mais organizada, e, portanto, muito mais difícil de derrubar". A partir de então, como político e escritor, consagrou-se como um dos maiores porta-vozes das ideologias conservadora e direitista no país, e grande adversário de Getúlio Vargas, e dos movimentos políticos Trabalhista e Comunista.

O anti-Getúlio

Inimigo político de Getúlio Vargas, Carlos Lacerda foi o grande coordenador da oposição à campanha de Getúlio à presidência em 1950, e durante todo o mandato constitucional do presidente, até agosto de 1954. Uniu-se a militares golpistas e aos partidos oposicionistas (principalmente a UDN) num esforço conjunto para derrubar o presidente Vargas, através de acusações que publicava em seu jornal, Tribuna da Imprensa.
Lacerda foi vítima de atentado a bala na porta do prédio onde residia, em 5 de agosto de 1954, quando voltava de uma palestra no Colégio São José, no bairro da Tijuca. No atentado morreu o major da Aeronáutica Rubens Vaz, membro de um grupo de jovens oficiais que se dispuseram a acompanhá-lo e protegê-lo das ameaças que vinha sofrendo. Atingido de raspão em um dos pés, Lacerda foi socorrido e medicado em um hospital. Lá mesmo acusou os homens do Palácio do Catete como mandantes do crime.


A pressão midiática e a comoção pública com a morte do major Rubens Vaz obrigaram o governo a instaurar um IPM (Inquérito Policial Militar) para investigar o atentado. Rapidamente, os militares ligados a Lacerda fizeram do inquérito o palco perfeito para fomentar ainda mais a crise. Uma série de investigações levou à prisão dos autores do crime, que confessaram o envolvimento do chefe da guarda pessoal de Vargas, Gregório Fortunato e do irmão do presidente, Benjamim Vargas.
Com a conclusão do IPM (chamado na imprensa de "República do Galeão"), instaurado pelo Brigadeiro Nero Moura, Ministro da Aeronáutica, o presidente do Inquérito, indicado pelo Ministro, Coronel João Adil de Oliveira, informou, em audiência com o presidente Vargas, que havia a existência de indícios sólidos sobre a participação de membros da Guarda no atentado.
Dezenove dias depois, com o agravamento da crise política e o ultimato das Forças Armadas pela sua renúncia, Getúlio Vargas suicidou-se em 24 de agosto. O suicídio reverteu a opinião pública e provocou uma imensa onda de comoção e revolta. Isso obrigou Lacerda e parte de seu grupo a deixar o país. À época, milhares de revoltosos tomaram as ruas, empastelando jornais ligados à oposição e empresas americanas.

Lacerda e a posse de Juscelino

Lacerda participou ainda de nova tentativa de golpe de estado, em 1955, quando uniu-se aos militares e à direita udenista para impedir a eleição e a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek e de seu vice-presidente, João Goulart.
As manobras golpistas começaram já no período eleitoral, quando ocorreu o episódio da Carta Brandi, uma notícia falsa plantada pelos opositores no jornal de Lacerda, envolvendo João Goulart num pretenso contrabando de armas da Argentina para o Brasil.
Depois de eleito Juscelino, Carlos Luz, presidente interino à época, aliado aos militares e a Carlos Lacerda, tramaram um novo golpe, mas foram impedidos pelo General Teixeira Lott, da ala legalista do Exército. Durante anos o episódio ficou conhecido como o golpe de Lott, principalmente pela ação da mídia conservadora. Hoje se sabe que os golpistas eram os militares direitistas, associados a Lacerda e Carlos Luz.
Vencido na tentativa de golpe, Lacerda partiu para um exílio breve em Cuba, que ainda era uma ditadura conservadora, nas mãos do general Fulgêncio Batista, antes da revolução cubana.
Voltou em seguida para reassumir sua cadeira de deputado, e continuar a oposição a Juscelino Kubitschek, atacando, entre outras coisas, a construção de Brasília.
Juscelino não permitiu jamais o acesso de Carlos Lacerda à Televisão. Juscelino confessou a Lacerda, no encontro de Lisboa, em 1966, que se deixasse Lacerda falar na televisão, Lacerda o teria derrubado do governo.

O derruba-presidentes

Em 1961, fez um discurso atacando, pela televisão, o Presidente Jânio Quadros, antigo aliado. Posteriori a renúncia deste ocorreu em 25 de agosto.
Com a transferência da capital para Brasília, candidatou-se ao governo do recém-criado estado da Guanabara. Apesar do grande favoritismo inicial, Lacerda foi eleito por pequena margem, tendo sido ajudado pela divisão de votos populares que ocorreu com a candidatura de Tenório Cavalcanti ao mesmo cargo[1].
O seu governo do antigo estado da Guanabara destacou-se pela construção de grandes obras que mostraram suas habilidades de administrador e consolidaram a simpatia da classe-média. Seu Secretário de Obras foi o eminente engenheiro civil e sanitarista Enaldo Cravo Peixoto. Construiu a estação de tratamento de água do Guandu (até hoje a maior do país) e um sistema de distribuição que resolveram um centenário problema de abastecimento (a falta de água era crônica e inspirava marchinhas de carnaval como "Rio de Janeiro, /cidade que nos seduz, / de dia falta água, / de noite falta luz" - Sucesso de Vitor Simon e Fernando Martins, do Carnaval de 1954). Construiu túneis importantes para o trânsito de veículos, como o Santa Bárbara e o Rebouças, ligando a Zona Norte à Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro. Terminou a construção e reurbanização do aterro do Flamengo. Removeu favelas de bairros da zona sul e Maracanã, criando o parque da Catacumba, o campus da UEG (atual UERJ), e instalando seus antigos habitantes em conjuntos habitacionais afastados como Cidade de Deus e Vila Kennedy. Construiu inúmeras escolas e manteve um alto padrão de qualidade dos hospitais públicos.
Durante seu governo, descobriu-se [carece de fontes?] que policiais assassinavam os mendigos que perambulavam pela cidade e jogavam seus corpos no rio da Guarda, afluente do rio Guandu. O governo de Carlos Lacerda foi acusado pela imprensa de oposição de ter dado instruções aos policiais para que realizassem estes assassinatos. Lacerda demitiu o Secretário de Segurança e o envolvimento dos escalões superiores do governo nestes fatos nunca foi provado.
Foi um dos líderes civis do golpe militar de 1964, porém se voltou contra ele em 1966, com a prorrogação do mandato do presidente Castelo Branco. Segundo ele, a prorrogação do mandato de Castelo Branco levaria à consolidação do governo revolucionário numa ditadura militar permanente no Brasil, o que realmente aconteceu. Muitos[quem?] acreditam que a sua oposição à prorrogação devia-se ao fato de já se haver lançado como candidato a Presidente da República em 1965. Confiava no sucesso do governo que tinha realizado no estado da Guanabara para enfrentar o candidato de oposição Juscelino Kubitschek.

A desilusão com 1964 e a cassação

Foi cassado em 1968 pelo regime militar.
Em novembro de 1966, lançou a Frente Ampla, movimento de resistência ao golpe militar de 1964, que seria liderada por ele com seus antigos opositores João Goulart e Juscelino Kubitschek.
Morreu na madrugada 21 de maio de 1977, em uma clínica particular após ter contraído uma gripe comum. Sua morte repentina levantou a suposição de que Lacerda, e os dois ex-presidentes teriam sido assassinados pelo CIE (Centro de Informaçoes do Exército) da ditadura militar, pois todos eles faleceram em datas próximas.
Em 20 de maio de 1987, através do decreto federal nº 94.353, teve restabelecidas, post mortem, as condecorações nacionais que foram retiradas e reincluído nas ordens do mérito das quais fora excluído em 1968.

Empresário e escritor

Em 1965, fundou a editora Nova Fronteira, que publicou importantes autores nacionais e estrangeiros, inclusive o dicionário Aurélio (de 1975 até 2004).
Escreveu numerosos livros, entre eles O Caminho da Liberdade (1957), O Poder das Ideias (1963), Brasil entre a Verdade e a Mentira (1965), Paixão e Ciúme (1966), Crítica e Autocrítica (1966), A Casa do Meu Avô: pensamentos, palavras e obras (1977).
Depoimento (1978) e Discursos Parlamentares (1982) foram compilados e publicados após a sua morte.

Representações na cultura

Carlos Lacerda já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Marcos Palmeira no filme "JK - Bela Noite Para Voar" (2005) e José de Abreu na minissérie "JK" (2006).

Referências

  1. a b c DULLES, John W. F.; Carlos Lacerda - A Vida de um Lutador, v. 1 - 1914-1960. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2000

Bibliografia

DULLES, John Walter Foster. Carlos Lacerda: a vida de um lutador. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. 2 vols. Contém um CD [Primeira edição brasileira: 1992]
MENDONÇA, Marina Gusmão de. O demolidor de presidentes: a trajetória política de Carlos Lacerda, 1930-1968. São Paulo: Códex, 2002. [1]
MENDONÇA, Marina Gusmão de. “Imprensa e política no Brasil: Carlos Lacerda e a tentativa de destruição do Última Hora” In.: Histórica: Revista Eletrônica do Arquivo Público do Estado de São Paulo, no. 31, 2008. [2]

Ligações externas

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