segunda-feira, 10 de maio de 2010

MILÍCIAS NO RIO - Mudanças na cúpula


   

Mais do que um simples troca-troca, a destituição dos líderes em Rio das Pedras envolve uma disputa pelos negócios do maior e mais antigo grupo paramilitar do Rio de Janeiro, que lucra em torno de R$ 700 mil por mês

POR JOÃO ANTÔNIO BARROS


Rio - Rei preso, rei deposto. Desde que a Justiça determinou a prisão da cúpula da milícia de Rio das Pedras, um golpe de estado lento e silencioso agita os bastidores do maior e mais antigo grupo paramilitar do Rio de Janeiro. Um a um, os líderes foram substituídos na estrutura da milícia e alguns perderam inclusive o direito à famosa e polpuda mesada.
Os negócios geridos da milícia incluem o transporte alternativo, o serviço ilegal de Internet e TV por assinatura | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Mais do que um simples troca-troca, a destituição dos ex-capos é uma disputa por negócios que movimentam mais de R$ 60 milhões por ano e dão lucro em torno de R$ 700 mil por mês com o transporte alternativo, a venda de gás, o serviço ilegal de TV por assinatura e Internet, a rede segurança, comércios e casas e com as comissões sobre a venda e o aluguel de imóveis.
E quem estaria no comando da ‘virada de mesa’ em Rio das Pedras é o sargento reformado da PM e vereador de São Gonçalo Geiso Pereira Turques. E a nova fase da milícia pode ser notada nos cartazes e faixas espalhados pela comunidade, que atribuem a Geiso e à associação de moradores a autoria das benfeitorias promovidas na favela. Geiso foi indiciado por envolvimento com as milícias na Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa e pela Polícia Federal, por lavagem de dinheiro e por extorsão.

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Aliás, a associação de moradores, que segundo a apuração da CPI das Milícias sempre funcionou como o braço social do grupo paramilitar, foi um dos setores a sofrer a intervenção. Logo após deixar a cadeia, no mês passado, o então presidente Jorge Alberto Moreto, o Beto Bomba, foi informado de que seu lugar agora pertencia a Jorge Pararão. A destituição e nomeação não teve sequer eleição.
Nem mesmo os irmãos Dalmir e Dulcimer Pereira Barbosa escaparam da degola. Apontados na investigação da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) como os ‘xerifes’ de Rio das Pedras, eles perderam o trono. Foragidos desde que tiveram a prisão decretada pela Justiça na Operação Rolling Stones, além da queda do poder, eles viram murchar as gordas retiradas. Agora, os irmãos recebem apenas um percentual das taxas ilegais cobradas dos motoristas da cooperativa de vans e arrecadadas por duas pessoas, identificadas como Denise e Coutinho.


A venda de gás — um monopólio da milícia — também trocou de mãos: Jorge Macedo foi substituído por um policial civil, lotado numa delegacia especializada. A revenda de gás, junto com o transporte alternativo e a venda ilegal de sinal de TV, são responsáveis pela maior fatia dos lucros da milícia na comunidade: em torno R$ 500 mil por mês. A equipe de segurança, antes sob o comando de Paulo Eduardo Azevedo, o Paulo Barraco, tem agora dois homens à frente da cobrança junto aos comércios e residências. Eles são identificados como Arlindo e Cristiano.

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