quinta-feira, 27 de maio de 2010

DENÚNCIA - Indícios de mais fantasmas


Testemunha afirma à Polícia Legislativa do Senado que posses irregulares de comissionados são comuns. Acusadas de participar da fraude devem depor hoje


  • Josie Jeronimo - Correio Brasiliense






  • Adauto Cruz/CB/D.A Press - 19/5/10


    Faustino (alto), advogado das estudantes, é contra a acareação dos envolvidos sugerida pelo Corregedor do Senado, Romeu Tuma (acima)

    Em depoimento à Polícia Legislativa do Senado, o contínuo do gabinete do senador Efraim Morais (DEM-PB) Gilberto Rocha da Mota afirmou que a prática de nomeações fantasmas é comum na Casa. Disse ainda que conhece contínuos que prestam serviços para outros parlamentares que também são recrutados para tomar posse no lugar do comissionado que deveria ocupar a vaga. Gilberto, que assina a procuração de posse das estudantes Kelly Janaína Nascimento da Silva, 28 anos, e Kelriany Nascimento da Silva, 32 anos, revelou que foi procurador de outros funcionários do gabinete de Efraim que assumiram o cargo sem aparecer no Senado. “Não me recordo do número de servidores que tomei posse”, disse ele, no depoimento prestado no último dia 21.

    O contínuo revela que sempre era requisitado para tomar posse em nome de outra pessoa. A responsável por intermediar a ação de Gilberto no departamento de Recursos Humanos do Senado seria a funcionária comissionada Rosemary Ferreira Alves de Matos, nomeada em 2005. “Em todas as vezes que precisei tomar posse para algum comissionado, o pedido era feito pela Rosemary”, afirmou à Polícia do Senado.




    A assessoria de Efraim informou que a Rosemary é a “secretária” do gabinete e não tem privilégio de dispensa de ponto, a exemplo do que ocorria com Kelly e Mônica da Conceição Bicalho, comissionada de Efraim e suposta recrutadora das estudantes que denunciaram o esquema de contratação de servidores fantasmas. O envolvimento de mais uma pessoa do gabinete no esquema assustou os funcionários de Efraim. Rosemary é considerada funcionária “exemplar” pelos colegas. No depoimento, Gilberto afirma que “nunca viu” Mônica nem a irmã Kátia da Conceição Bicalho, que conseguiu procuração para movimentar a conta-salário das funcionárias fantasmas.

    Depoimento
    Ontem, advogados de Mônica e Kátia compareceram à Polícia do Senado para ter acesso aos autos da investigação. O advogado Paulo Braga, que representa as irmãs, não quis antecipar se as duas comparecerão ao depoimento marcado para hoje. Mônica e Kátia foram intimadas a comparecer na condição de investigadas. A expectativa da Polícia Legislativa é que elas faltem ao depoimento, mas o não comparecimento pode comprometer ainda mais a situação das investigadas.

    Apesar de as denúncias de contratação de funcionários fantasmas já atingirem diretamente cinco funcionários do gabinete do senador Efraim e indiretamente outros dois — a mãe e o irmão de Mônica, que também estão lotados e com ponto liberado —, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), ainda não pensa em abrir investigação contra o parlamentar do DEM. Apenas a constatação de uma transferência de dinheiro dos fantasmas para a conta do parlamentar poderia provar o envolvimento de Efraim no caso e levar a investigação da Polícia Legislativa para a corregedoria, informam agentes ligados à apuração do escândalo.

    Tuma ontem conversou com o diretor da Polícia Legislativa do Senado, Pedro Ricardo de Araújo Carvalho, e sugeriu realização de acareação entre Kelly, Kelriany, Mônica e Kátia, para confrontar a versão das estudantes que afirmam que suas identidades foram usadas de forma irregular e das irmãs que tinham procuração para movimentar a conta onde era depositado o pagamento das supostas fantasmas. A ideia de Tuma é criticada pelo advogado de Kelly e Kelriany, Geraldo Faustino. “Como ele quer fazer acareação se Mônica e Kátia nem prestaram depoimento ainda? E se elas não apresentarem uma versão contrária à da Kelly e Kelriany? É prematuro fazer acareação nesse momento.”

    Como ele quer fazer acareação se Mônica e Kátia nem prestaram depoimento ainda? É prematuro fazer acareação nesse momento”
    Geraldo Faustino, advogado

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