sábado, 17 de abril de 2010

PERNAMBUCO/RECIFE - Recife testa gel antideslizamento usado na guerra do Iraque



Produto foi aplicado de forma experimental no bairro Vasco da 
Gama, em Recife. Foto: Celso Calheiros/Especial para Terra Produto foi aplicado de forma experimental no bairro Vasco da Gama, em Recife
Foto: Celso Calheiros/Especial para Terra


Celso Calheiros
Direto de Recife
Às vésperas do período de chuvas na região Nordeste do País, a cidade de Recife aposta em um gel antideslizamento utilizado pelas forças armadas nas guerras do Iraque e do Afeganistão para evitar um desfecho semelhante ao testemunhado nos desbarrancamentos do Rio de Janeiro e de Niterói no início do mês. Com um custo de R$ 19 por m², o produto impermeabilizante será aplicado a partir da próxima semana em 1,5 mil m² de áreas de encosta com risco de deslizamento.
Apresentado pela prefeitura da capital pernambucana à imprensa na última semana como novidade no Brasil, o produto biodegradável e atóxico é produzido pela empresa americana Etack Environmental Solutions a partir de elementos presentes na natureza e capazes de recompor o solo. Ao ser aplicado em um terreno sem vegetação, o gel composto de cálcio, enxofre e sódio forma uma resina na superfície do solo que dificulta a absorção da água. Sem ficar molhado, o risco de deslizamento é reduzido.
Apesar da badalação em cima do produto, o prefeito Jair da Costa e o secretário de Desenvolvimento Urbano e Obras, Amir Schvartz, advertem que ele não é milagroso. Sua aplicação afasta o risco de deslizamentos, porém não o elimina. "O gel vai minimizar (o risco). Servirá para substituir a lona plástica com vantagens econômicas. No entanto, no primeiro momento, não haverá economia, porque a lona é mais barata. Mas, como a lona se desgasta rapidamente e exige pessoal para colocação e recolocação, o gel terá um custo benefício maior a longo prazo", diz Schvartz.
Antes de eleger o gel como substituto das lonas, a prefeitura do Recife o testou gel no bairro Vasco da Gama, na zona norte da cidade. Em 2007, o produto foi utilizado experimentalmente em uma barreira de 135 m² logo abaixo da casa de número 107 da rua Curitiba. Desde então, nenhum deslizamento foi registrado no local - e o mato não cresceu.
A dona de casa Nesi Maria Ferreira da Silva, 48 anos, mora na rua Curitiba há 17 anos e aprova os efeitos do gel. "Não caiu terra nenhuma, o produto cola o solo". Para ela, além de minimizar o risco de quedas de barreiras, o produto tem outra vantagem: impede o crescimento de qualquer tipo de vegetação. "É uma beleza! Sem mato, não vem os bichos que se escondem no capim alto", afirma.
De acordo com a prefeitura, os efeitos observados na primeira aplicação no Vasco da Gama ocorreram mesmo sem a repetição do produto, em menor escala, doze meses depois da primeira utilização. Pela recomendação do fabricante, o gel deve ser colocado de forma mais concentrada na primeira vez e, a cada 12 meses no prazo de 5 anos, ter uma reaplicação com 20% da carga inicial.
Além da utilização nas guerras do Afeganistão e Iraque, o site do revendedor do produto destaca a sua eficácia ao ser aplicado no deserto para construção de pistas de pouso de helicópteros e estradas para carros militares. No entanto, o fabricante não informa se o gel já havia sido usado outras vezes em encostas.

Aprovado por moradores
O vigia José Rufino, 54 anos, que mora há 31 anos no morro do Ibura - onde o produto também foi testado -, elogia a aplicação na encosta que fica acima de sua casa. Segundo ele, a terra ficou mais resistente, e a retirada da lona evita o aparecimento de pragas. "A lona facilitava a criação de baratas, escorpiões, ratos e cobras", disse. A vizinha Iraci Maria da Silva, 56 anos, vê no novo produto o fim da preocupação nos dias de chuva e afirma que a rotina de colocar colchões na sala - mais próxima da saída de casa - e ficar de sobreaviso acabou. "Vivíamos com esse medo, porque alguns moradores perderam suas casas".
O funcionário da prefeitura César Seixas é o responsável pela aplicação do gel, que ainda é manuseado de forma improvisada. Ele utiliza o tambor do produto com uma bomba d'água e uma mangueira. O único equipamento de proteção individual que usa é um par de luvas. "O produto não é tóxico", defende-se. "Viu? A água desce a encosta e não se mistura com a terra", afirma ele, para mostrar a eficácia do experimento.

Aspecto ambiental
Apesar de ser classificado como um avanço na prevenção de deslizamentos de terra, o gel pode enfrentar resistências no aspecto ambiental. Novo no mercado brasileiro, o produto não foi licenciado pelo Ibama e nem pela agência pernambucana de meio ambiente. Apenas o Instituto Tecnológico de Pernambuco (Itep) comprovou que seus componentes são naturais, biodegradáveis e atóxicos, de acordo com o secretário Amir Schvartz.
De acordo com o gerente de fiscalização da prefeitura de Recife, Iakamura Borba, o município pediu ao fornecedor que procure o Ibama e a agência de meio ambiente estadual para obter o licenciamento do produto. Até a sexta-feira, o instituto não havia recebido amostras do gel para licenciamento.


 

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