sábado, 6 de março de 2010

RIO DE JANEIRO/SEGURANÇA PÚBLICA - Elite da Polícia Civil se prepara contra o terror (via O Dia)

Core investe em treinamento para proteger o Rio na Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016. Agentes fazem cursos no exterior e contam com equipamentos modernos

POR MARIA INEZ MAGALHÃES
Rio - A casa está cercada. Lá dentro, um criminoso mantém um refém. A negociação chega à exaustão. Sem acordo, a vítima está prestes a ser ferida ou até morta. Não há mais tempo a perder. Explosivos são colocados na porta — tudo pronto para a invasão. Pelo radiotransmissor, o chefe da operação dá a ordem: “Cinco, quatro, três... Sniper!”. A bomba explode, a porta cai e o local é tomado pelos agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), grupo de elite da Polícia Civil.

A simulação de invasão é uma das muitas ações treinadas pelos policiais para combater os criminosos no dia a dia violento do Rio. Mas agora, já de olho na Copa do Mundo de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016, o grupo — formado por pouco mais de 400 agentes — intensifica os treinos, que incluem até ações contra o terrorismo. Também participam dos treinamentos agentes do Esquadrão Antibomba e do Serviço Aéreo Espacial (Saer), que tem um helicóptero blindado.

“Em função dos eventos internacionais, estamos buscando treinamentos mais específicos, principam entre as retomadas de ambientes confinados (invasão de locais fechados tomados por bandidos). Isso está acontecendo desde o Pan (Jogos Pan-Americanos de 2007)”, explica o chefe de operações táticas especiais da Core, Wagner Franco, 38 anos.

Os Jogos Mundiais Militares, em julho do ano que vem no Rio, servirão como uma espécie de laboratório para os agentes colocarem em prática o treinamento. Por enquanto, ele acontece no Centro de Treinamento da Polícia Civil, no Caju. Perto das competições, os policiais farão simulações nos locais das provas.

Preparada para combater o tráfico de drogas, a Core tem agora o desafio de treinar seus agentes no combate ao terrorismo. Há 10 anos na Polícia Civil, nove deles dedicados à Core, Wagner tem experiência adquirida em cursos fora do País. “Estudamos o comportamento desses criminosos para sabermos como agem e as questões políticas que envolvem o país onde há terrorismo. Aqui não temos essa preocupação, mas temos que estar preparados porque vamos receber pessoas de várias nações”, afirma.

Cursos no exterior são rotina na Core, unidade que se tornou uma das referências de combate à guerra urbana em outros países. Enquanto os treinos se intensificam aqui, semana passada, alguns de seus agentes, um deles delegado, foram para os Estados Unidos fazer curso na Swat. “A gente leva nossa experiência, que é única, e traz a tecnologia e a maneira de trabalhar deles, que é bem diferente da nossa”, analisa Wagner.
Helicóptero terá câmera de visão noturna
Muito usado em operações da Polícia Civil e sobretudo da Core, o helicóptero blindado ganhará, até mês que vem, câmeras com visão noturna. “Elas nos permitirão também enxergar a longa distância e enviar imagens em tempo real para as bases de operação”, explica o chefe do Saer, Adonis Lopes.

Durante a simulação no Caju, os agentes comprovaram que, mesmo do alto e dentro do veículo em movimento, eles conseguem atingir o alvo de forma certeira.
Negociação é a alternativa privilegiada durante operações
Invadir um local é a última das cinco alternativas táticas usadas pela Core em uma situação real. A primeira opção é sempre a negociação. Segundo Wagner Franco, os agentes se preparam tanto para as rápidas como para as que duram até dias. “Temos que negociar ao máximo a libertação do bandido para que o refém também seja preservado. O que se busca é o menor grau de letalidade possível”, diz o chefe de operações táticas especiais da tropa de elite da Polícia Civil.
A tática de negociar ao máximo deu certo em dois recentes episódios de repercussão: a prisão do ex-PM e miliciano Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, capturado ano passado numa casa em Paciência, na Zona Oeste; e de Marcelo Soares de Medeiros, o Marcelo PQD, ex-chefe do tráfico do Morro do Dendê, que se entregou em 2007 após cinco horas de negociação. “A decisão de entrar num ambiente confinado depende do fato. Não há uma regra”, explica Wagner.
Além de apoiar ações da Polícia Civil, a Core também treina agentes das delegacias distritais e unidades especializadas da instituição, que acabam de ganhar escudos e capacetes, antes só utilizados pela tropa de elite.
Ao todo, os policiais chegam a carregar cerca de 30 quilos de equipamentos durante as operações. “Para ser um policial da Core, tem que ser, antes de tudo, um abnegado”, define o coordenador do grupo.

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