sábado, 6 de março de 2010

RIO DE JANEIRO/NITERÓI - Violência faz Niterói pedir UPPs (via O Dia)

Ações cada vez mais ousadas de criminosos assustam moradores e comerciantes, que cobram pacificação de comunidades. Órgãos de inteligência da polícia detectam migração de bandidos do Rio e planos de invasões a favelas

POR FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Assustados com a violência na cidade, moradores e comerciantes de Niterói cobram a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora no município. Desde a chegada das UPPs em comunidades das zonas Sul e Oeste do Rio, bandidos vêm cruzando a Ponte para cometer crimes. Uma migração que é monitorada pelos órgãos de inteligência da polícia.

Embora estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostrem quedas nos índices de criminalidade em Niterói entre 2008 e 2009, a forma cada vez mais violenta empregada pelas quadrilhas assusta os moradores, principalmente nas áreas nobres. A advogada M., 50, que reside há 15 anos num prédio em Icaraí — onde o IPTU ultrapassa R$ 3 mil—, vive na pele o problema.

“Na mesma semana em que fui assaltada num bar da Rua Joaquim Távora, presenciei a fuga dos assassinos do subsecretário municipal de Transportes (Adhemar Reis, executado dia 20 de janeiro, quando saía de casa, na mesma via)”, lamenta ela. Terça-feira, da janela de seu apartamento, na Rua Ary Parreiras, M. também viu a movimentação de bandidos que fizeram um arrastão nas imediações. Eles levaram três carros, arremessaram granadas e trocaram tiros com a polícia. “Meu paraíso virou um inferno”, desabafa a advogada.

A uma quadra dali, na Praia de Icaraí, há uma cabine abandonada da PM. Uma das ruas mais valorizadas da região, a Joaquim Távora — passagem obrigatória para quem acessa o Túnel Raul Veiga, entre Icaraí e São Francisco — já é apelidada na vizinhança de ‘corredor da morte’.

Diretor da Associação Comercial de Niterói, Paulo Moreira Leite diz que os mais de 20 mil comerciantes legalizados da cidade esperam ansiosos pelas unidades pacificadoras. Desde 2008, segundo o ISP, mais de 1,3 mil lojistas foram vítimas de assaltos na área do 12º BPM (Niterói).

Segundo a Secretaria Estadual de Segurança, Niterói e São Gonçalo estão nos planos para futuras UPPs, mas não há datas definidas. O Morro do Palácio, no Ingá, seria o primeiro a ser contemplado.

Investigações indicam que sete favelas de Niterói e São Gonçalo, onde vivem mais de 40 mil pessoas, estão na mira de traficantes. Há informes de que bandidos da facção Amigos dos Amigos (ADA) planejam invadir o Morro do Mickey, enquanto criminosos do Comando Vermelho estão de olho nos morros do Palácio, Caramujo, Inferninho e Jacaré. O Departamento de Polícia do Interior (DPI) também orientou as delegacias da região a redobrar a atenção nessas regiões.

Secretário pede mais fiscalização

Na tentativa de evitar mais crimes o secretário de Segurança de Niterói, Marival Gomes, vem solicitando UPPs para a Zona Norte do município, fiscalização mais ampla da Polícia Rodoviária Federal na Ponte Rio-Niterói e operações conjuntas. “A vinda de traficantes é uma realidade. A Ponte não pode ser usada como passarela por bondes que vêm se instalar em nossas comunidades”, ressalta.

Gomes teme que se repitam invasões em massa como a que houve no dia 12 de janeiro, quando 40 traficantes cruzaram a ponte para invadir a Favela Buraco do Boi, no Barreto. Na ocasião, houve intenso confronto com a PM, que fechou a Estrada do Contorno.

O secretário e integrantes da Comissão de Segurança da Câmara cobram ainda o aumento de efetivo do 12º BPM. “Hoje, são menos de 700 homens, metade do necessário”, alega Gomes.

Tema favorito da Câmara

Na Comissão de Segurança da Câmara de Vereadores de Niterói, UPP é o assunto mais discutido pelos parlamentares. “As UPPs devem vir associadas a programas de saúde, trabalho e tecnologia nas comunidades”, diz o presidente da comissão, Renato Cariello (PDT).

“É inconcebível que Niterói, que ocupa a terceira posição entre as cidades brasileiras e a primeira no Estado no Índice de Desenvolvimento Humano, sofra com falta de segurança. As UPPs devem ser integradas aos antigos Grupamentos de Policiamento em Áreas Especiais (Gpaes), hoje abandonados”, completa Felipe Peixoto (PDT), vice-presidente da comissão.

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