A pedido de ‘O DIA’, arquitetos criam projetos de urbanização da área. Governo faz vistoria hoje na região e avalia aproveitamento para lazer
Rio - Tobogãs, deques, quiosques, ciclovias e até iluminação noturna para passeios ao luar. A pedido de O DIA, três escritórios de arquitetura idealizaram projetos para urbanizar a área do Piscinão do Alemão, formado em janeiro durante escavações para exploração de brita que acabaram atingindo o lençol freático. As sugestões incluem trilhas no morro, escalada na pedreira, área para esportes aquáticos e posto salva-vidas. A ideia é transformar o oásis tropical em ‘point’, tanto para a comunidade como para visitantes. De olho no potencial da região, o presidente da Empresa de Obras Públicas do Estado (Emop), Ícaro Moreno, vistoria hoje o piscinão para avaliar a possibilidade de anexar a área, de propriedade da empresa Lafarge, ao projeto de urbanização do Parque da Serra da Misericórdia, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na comunidade.
“A área degradada pela exploração mineral tem chance de ser aproveitada pela comunidade. Vamos avaliar se tem boa balneabilidade e se é segura, para podermos iniciar as conversas com a empresa”, afirma a secretária estadual de Ambiente, Marilene Ramos.
Coordenador executivo do AfroReggae e responsável por informar o governo sobre a existência do piscinão, que já é frequentado por banhistas e ambulantes, José Júnior está otimista: “O local está sendo usado de maneira irregular, mas pode se transformar numa Lagoa Rodrigo de Freitas, só que com qualidade de mergulho e paisagem ainda melhor. O governo precisa ouvir a comunidade”.
>> INFOGRÁFICO: Piscinão do Alemão: cartão-postal e lazer ecológico
No projeto idealizado pelo escritório de arquitetura e urbanismo CAMPOaud e o paisagista Pierre Martin, o lago foi transformado em parque aquático, repleto de deques, com acesso por teleférico, rampas e elevadores. Há ainda área de entretenimento — com tobogãs e tirolesas — e esportes, como natação, polo, saltos ornamentais e remo.
Os autores propõem que essas atividades sejam pagas e, assim, sustentem financeiramente o restante do piscinão. Áreas para piquenique e churrasco poderiam ser alugadas. “A estratégia permitiria a manutenção dos trechos públicos sem ônus excessivos”, sugerem.
MADEIRAS RECICLADAS E COLAR DE LUZES
Os arquitetos do escritório Blac comparam o ‘parque urbano do Alemão’ ao Parque Duisburg Nord, na Alemanha, construído em antiga área industrial, e apostam na ‘reciclagem’. “Os deques seriam feitos de madeira feita a partir de plástico e garrafas PET. O sistema utilizaria baterias carregáveis com energia solar e todo o sistema de irrigação, água da chuva armazenada em tanques”, explica o arquiteto João Pedro Backheuser.
>>O que deveria ter no futuro parque no entorno do Piscinão do Alemão? Opine
A arquiteta e professora da UFRJ Andréa Borde, com o arquiteto Fagner Marçal, propõe transformar o Alemão em cartão-postal, com iluminação noturna vista de vários pontos do Rio. O ‘colar de luzes’ em torno do parque aquático daria ao local visual futurista, à semelhança de um disco voador. “A situação geográfica da piscina natural cercada por encostas verdes e pedreiras cria cenário singular que poderia ser mais bem aproveitado à noite também”, diz Andréa. Em nota, a Lafarge lembra que a área é particular, com fins industriais, e que ainda não foi procurada pelo estado.
SÉRGIO MAGALHÃES: COMUNIDADE SERÁ INTEGRADA PELO LAZER
Um dos executores do Projeto Favela-Bairro, o ex-secretário municipal de Habitação do Rio, arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães apoia a integração das comunidades à cidade por meio de projetos como o do piscinão, para ajudar na promoção de maior igualdade social. Atual presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil ele pondera, porém, que, para dar certo, a proposta precisa englobar manutenção e acessibilidade.
1. Qual a importância deste tipo de ação?
A comunidade precisa ser integrada totalmente à cidade. Na medida em que o estado se ausenta nestas áreas e os bandidos tomam conta, a decadência é reforçada. Fizemos algo parecido na Penha, nas comunidades do Buriti-Congonhas. Criamos uma área florestada e esportiva. O lazer aumenta a autoestima local e atrai visitantes que movimentam a economia.
2. Investir em projetos de lazer em comunidades dá retorno?
Qualquer que seja a situação, é preciso levar em conta que a área precisa de manutenção. Isso deve ser previsto desde o início do projeto para que ele se mantenha. Ou então o lugar acaba caindo no esquecimento.
3.A área (do Complexo do Alemão) pode ser transformada em parque turístico?
É muito interessante aproveitar o local, mas ainda se sabe pouco sobre a região, é preciso estudar.
4. Qual a principal medida a ser tomada?
A área precisa ter boa acessibilidade para ser vantajosa, ou então vai ficar esquecida. Além disso, é preciso haver equipamentos que sejam realmente de desejo e de uso da comunidade.
5. Outras providências sociais no Alemão interferem no sucesso do projeto?
Se tiver recuperação, um sistema de transporte adequado e investimento em segurança também qualificam o ambiente.
Foto: Reprodução
Coordenador executivo do AfroReggae e responsável por informar o governo sobre a existência do piscinão, que já é frequentado por banhistas e ambulantes, José Júnior está otimista: “O local está sendo usado de maneira irregular, mas pode se transformar numa Lagoa Rodrigo de Freitas, só que com qualidade de mergulho e paisagem ainda melhor. O governo precisa ouvir a comunidade”.
>> INFOGRÁFICO: Piscinão do Alemão: cartão-postal e lazer ecológico
No projeto idealizado pelo escritório de arquitetura e urbanismo CAMPOaud e o paisagista Pierre Martin, o lago foi transformado em parque aquático, repleto de deques, com acesso por teleférico, rampas e elevadores. Há ainda área de entretenimento — com tobogãs e tirolesas — e esportes, como natação, polo, saltos ornamentais e remo.
Os autores propõem que essas atividades sejam pagas e, assim, sustentem financeiramente o restante do piscinão. Áreas para piquenique e churrasco poderiam ser alugadas. “A estratégia permitiria a manutenção dos trechos públicos sem ônus excessivos”, sugerem.
MADEIRAS RECICLADAS E COLAR DE LUZES
Os arquitetos do escritório Blac comparam o ‘parque urbano do Alemão’ ao Parque Duisburg Nord, na Alemanha, construído em antiga área industrial, e apostam na ‘reciclagem’. “Os deques seriam feitos de madeira feita a partir de plástico e garrafas PET. O sistema utilizaria baterias carregáveis com energia solar e todo o sistema de irrigação, água da chuva armazenada em tanques”, explica o arquiteto João Pedro Backheuser.
>>O que deveria ter no futuro parque no entorno do Piscinão do Alemão? Opine
A arquiteta e professora da UFRJ Andréa Borde, com o arquiteto Fagner Marçal, propõe transformar o Alemão em cartão-postal, com iluminação noturna vista de vários pontos do Rio. O ‘colar de luzes’ em torno do parque aquático daria ao local visual futurista, à semelhança de um disco voador. “A situação geográfica da piscina natural cercada por encostas verdes e pedreiras cria cenário singular que poderia ser mais bem aproveitado à noite também”, diz Andréa. Em nota, a Lafarge lembra que a área é particular, com fins industriais, e que ainda não foi procurada pelo estado.
SÉRGIO MAGALHÃES: COMUNIDADE SERÁ INTEGRADA PELO LAZER
Um dos executores do Projeto Favela-Bairro, o ex-secretário municipal de Habitação do Rio, arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães apoia a integração das comunidades à cidade por meio de projetos como o do piscinão, para ajudar na promoção de maior igualdade social. Atual presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil ele pondera, porém, que, para dar certo, a proposta precisa englobar manutenção e acessibilidade.
1. Qual a importância deste tipo de ação?
A comunidade precisa ser integrada totalmente à cidade. Na medida em que o estado se ausenta nestas áreas e os bandidos tomam conta, a decadência é reforçada. Fizemos algo parecido na Penha, nas comunidades do Buriti-Congonhas. Criamos uma área florestada e esportiva. O lazer aumenta a autoestima local e atrai visitantes que movimentam a economia.
2. Investir em projetos de lazer em comunidades dá retorno?
Qualquer que seja a situação, é preciso levar em conta que a área precisa de manutenção. Isso deve ser previsto desde o início do projeto para que ele se mantenha. Ou então o lugar acaba caindo no esquecimento.
3.A área (do Complexo do Alemão) pode ser transformada em parque turístico?
É muito interessante aproveitar o local, mas ainda se sabe pouco sobre a região, é preciso estudar.
4. Qual a principal medida a ser tomada?
A área precisa ter boa acessibilidade para ser vantajosa, ou então vai ficar esquecida. Além disso, é preciso haver equipamentos que sejam realmente de desejo e de uso da comunidade.
5. Outras providências sociais no Alemão interferem no sucesso do projeto?
Se tiver recuperação, um sistema de transporte adequado e investimento em segurança também qualificam o ambiente.
Reportagem de Cristine Gerk e Natalia von Korsch
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