quarta-feira, 10 de março de 2010

RIO DE JANEIRO/DIVERSÃO - Piscina formada no Complexo vira 'Alemão Water Planet'

A pedido de ‘O DIA’, arquitetos criam projetos de urbanização da área. Governo faz vistoria hoje na região e avalia aproveitamento para lazer

Rio - Tobogãs, deques, quiosques, ciclovias e até iluminação noturna para passeios ao luar. A pedido de O DIA, três escritórios de arquitetura idealizaram projetos para urbanizar a área do Piscinão do Alemão, formado em janeiro durante escavações para exploração de brita que acabaram atingindo o lençol freático. As sugestões incluem trilhas no morro, escalada na pedreira, área para esportes aquáticos e posto salva-vidas. A ideia é transformar o oásis tropical em ‘point’, tanto para a comunidade como para visitantes. De olho no potencial da região, o presidente da Empresa de Obras Públicas do Estado (Emop), Ícaro Moreno, vistoria hoje o piscinão para avaliar a possibilidade de anexar a área, de propriedade da empresa Lafarge, ao projeto de urbanização do Parque da Serra da Misericórdia, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na comunidade.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
“A área degradada pela exploração mineral tem chance de ser aproveitada pela comunidade. Vamos avaliar se tem boa balneabilidade e se é segura, para podermos iniciar as conversas com a empresa”, afirma a secretária estadual de Ambiente, Marilene Ramos.
Coordenador executivo do AfroReggae e responsável por informar o governo sobre a existência do piscinão, que já é frequentado por banhistas e ambulantes, José Júnior está otimista: “O local está sendo usado de maneira irregular, mas pode se transformar numa Lagoa Rodrigo de Freitas, só que com qualidade de mergulho e paisagem ainda melhor. O governo precisa ouvir a comunidade”.

>> INFOGRÁFICO: Piscinão do Alemão: cartão-postal e lazer ecológico

No projeto idealizado pelo escritório de arquitetura e urbanismo CAMPOaud e o paisagista Pierre Martin, o lago foi transformado em parque aquático, repleto de deques, com acesso por teleférico, rampas e elevadores. Há ainda área de entretenimento — com tobogãs e tirolesas — e esportes, como natação, polo, saltos ornamentais e remo.
Os autores propõem que essas atividades sejam pagas e, assim, sustentem financeiramente o restante do piscinão. Áreas para piquenique e churrasco poderiam ser alugadas. “A estratégia permitiria a manutenção dos trechos públicos sem ônus excessivos”, sugerem.
MADEIRAS RECICLADAS E COLAR DE LUZES
Os arquitetos do escritório Blac comparam o ‘parque urbano do Alemão’ ao Parque Duisburg Nord, na Alemanha, construído em antiga área industrial, e apostam na ‘reciclagem’. “Os deques seriam feitos de madeira feita a partir de plástico e garrafas PET. O sistema utilizaria baterias carregáveis com energia solar e todo o sistema de irrigação, água da chuva armazenada em tanques”, explica o arquiteto João Pedro Backheuser.

>>O que deveria ter no futuro parque no entorno do Piscinão do Alemão? Opine
A arquiteta e professora da UFRJ Andréa Borde, com o arquiteto Fagner Marçal, propõe transformar o Alemão em cartão-postal, com iluminação noturna vista de vários pontos do Rio. O ‘colar de luzes’ em torno do parque aquático daria ao local visual futurista, à semelhança de um disco voador. “A situação geográfica da piscina natural cercada por encostas verdes e pedreiras cria cenário singular que poderia ser mais bem aproveitado à noite também”, diz Andréa. Em nota, a Lafarge lembra que a área é particular, com fins industriais, e que ainda não foi procurada pelo estado.
SÉRGIO MAGALHÃES: COMUNIDADE SERÁ INTEGRADA PELO LAZER
Um dos executores do Projeto Favela-Bairro, o ex-secretário municipal de Habitação do Rio, arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães apoia a integração das comunidades à cidade por meio de projetos como o do piscinão, para ajudar na promoção de maior igualdade social. Atual presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil ele pondera, porém, que, para dar certo, a proposta precisa englobar manutenção e acessibilidade.
1. Qual a importância deste tipo de ação?
A comunidade precisa ser integrada totalmente à cidade. Na medida em que o estado se ausenta nestas áreas e os bandidos tomam conta, a decadência é reforçada. Fizemos algo parecido na Penha, nas comunidades do Buriti-Congonhas. Criamos uma área florestada e esportiva. O lazer aumenta a autoestima local e atrai visitantes que movimentam a economia.
2. Investir em projetos de lazer em comunidades dá retorno?
Qualquer que seja a situação, é preciso levar em conta que a área precisa de manutenção. Isso deve ser previsto desde o início do projeto para que ele se mantenha. Ou então o lugar acaba caindo no esquecimento.
3.A área (do Complexo do Alemão) pode ser transformada em parque turístico?
É muito interessante aproveitar o local, mas ainda se sabe pouco sobre a região, é preciso estudar.
4. Qual a principal medida a ser tomada?
A área precisa ter boa acessibilidade para ser vantajosa, ou então vai ficar esquecida. Além disso, é preciso haver equipamentos que sejam realmente de desejo e de uso da comunidade.
5. Outras providências sociais no Alemão interferem no sucesso do projeto?
Se tiver recuperação, um sistema de transporte adequado e investimento em segurança também qualificam o ambiente.
Reportagem de Cristine Gerk e Natalia von Korsch

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