“A propaganda política em que o ex-governador, ou melhor, o seu personagem, aparece criticando a lama em que se chafurdou Arruda é a melhor expressão de sua astúcia – ou como diriam seus críticos mais ácidos, cara de pau”
Marcos Verlaine*
Talvez o ex-senador e ex-governador do DF Joaquim Roriz (PSC) seja um dos políticos mais astutos e espertos do país. Governou Brasília em quatro períodos – 1988-1990, 1991-1995, 1999-2003 e 2003-2006. Elegeu-se senador e renunciou ao mandato parlamentar quando foi revelado seu envolvimento em esquemas de corrupção. A opção pela renúncia resguardou os direitos políticos de Roriz que agora lidera pesquisa de intenção de voto para governar Brasília.
Em seu currículo político consta que foi eleito vereador de sua cidade natal (Luziânia), deputado estadual em 1978, deputado federal em 1982 e vice-governador de Goiás em 1986, com breve passagem pela prefeitura de Goiânia em 1987, na qualidade de interventor. Em 1988, o então presidente da República, José Sarney, o nomeou governador do Distrito Federal, na época em que Brasília ainda não elegia o próprio chefe do Executivo.
O velho político se apresenta à população, sobretudo para os seus potenciais eleitores, como um tolo, um tosco. Esse é o seu personagem. Roriz o criou para ‘dialogar’ com a massa despolitizada de seus eleitores, pois assim talvez a enxerga.
O artigo do jornalista Daniel Pereira – Vossa Excelência é um fanfarrão – publicado no Correio Braziliense de sábado (27), na coluna “Nas entrelinhas”, expressa um pouco a visão que a “classe média” tem de Roriz.
O ex-governador, em seu círculo íntimo e nas rodas da sociedade que frequenta, mostra-se como ele é de fato: um homem com saber formal, seguro de si, conhecedor de seus limites e possibilidades. É também arrogante – assegurou-me um amigo que o conheceu –, pois tem poder e sabe disso.
Lembrem-se do “crioulo petista”. Em evento na cidade de Brazlândia, em fevereiro de 2002, o então governador Roriz pediu uma vaia para um cidadão que o hostilizava enquanto ele falava. Estabelecido o mal estar geral, Roriz se recompôs e o crime de racismo foi abafado.
Lembrem-se do “crioulo petista”. Em evento na cidade de Brazlândia, em fevereiro de 2002, o então governador Roriz pediu uma vaia para um cidadão que o hostilizava enquanto ele falava. Estabelecido o mal estar geral, Roriz se recompôs e o crime de racismo foi abafado.
Daí a constatação: Roriz é um político, sagaz e astuto; não está nem aí para aqueles que o acham ou imaginam um tolo ou até mesmo um idiota.
Nas eleições de 1998, Roriz perdeu no debate para o então governador Cristovam Buarque, que pretendia renovar o mandato ao GDF, mas ganhou o pleito, pois seu adversário humilhou intelectualmente o personagem de Roriz. Com pena, a população sufragou majoritariamente o ex-governador, que também ganhou porque soube explorar outras demandas da conjuntura da época, que o atual senador Cristovam Buarque (PDT) não enxergou.
Roriz, desde que despontou nas disputas de poder em Brasília, mudou a cena política local; liderou nomes políticos de vulto da cidade como o ex-senador Luiz Estevão, cassado no escândalo do TRT-SP; o empresário Paulo Octávio; e José Roberto Arruda, os dois últimos enredados e protagonistas na mais nova crise política do DF.
Dizem até que se pode enxergar as digitais de Roriz no calvário de Arruda, iniciado na política partidário-eleitoral pelo velho cacique. Em entrevista ao semanário Hoje em Dia, reproduzida pela revista Carta Capital, de 24 de fevereiro, nº 584, página 25, o ex-governador dá mostras que, para ele, a crise que derrubou Arruda não surgiu como novidade. Pelo contrário, ele até já a esperava.
A propaganda política em que o ex-governador, ou melhor, o seu personagem, aparece criticando a lama em que se chafurdou Arruda é a melhor expressão de sua astúcia – ou como diriam seus críticos mais ácidos, cara de pau – pois, a rigor, não tem nenhuma legitimidade para fazê-la, haja vista que o esquema que o atual governador liderava, nada mais seria que uma herança do governo anterior.
Sem adversários aparentes, já que Arruda está fora do páreo, Roriz já aparece liderando e favorito para governar o DF pelos próximos quatro anos.
Os discursos que exortam a moralidade pública ou que satanizam a corrupção ou até mesmo aqueles que querem fazer crer que Roriz é um idiota e fanfarrão não surtem e não surtirão efeito na grande massa de eleitores que sempre votaram no velho político goiano, que adotou Brasília e a transformou em seu curral eleitoral, inclusive contribuindo para torná-la uma cidade como outra qualquer, do ponto de vista político. Mas isso é outra história. Em outro artigo posso tratar desse assunto.
A oposição – PT, PCdoB, PSB e PDT – se quiser desbancar essa guinada conservadora da política local puxada por Roriz e seus seguidores, precisará se apresentar à população do DF como detentora de propostas concretas e palpáveis para resolver, ou pelo menos minorar, os graves problemas da cidade, com os sistemas de saúde, transporte e segurança deteriorados pelas sucessivas políticas do atual e do ex-governador.
Será preciso mostrar e provar que o velho político não é a solução da crise, mas a causa dela. Que dar-lhe novo mandato é apostar na velha máxima da política conservadora do “rouba, mas faz”.
Ou seja, se os setores progressistas e de esquerda pretendem destronar Roriz, será preciso mais ousadia nas propostas e no modo de governar. Isso no caso de essa concertação lograr êxito nas eleições de 3 de outubro próximo.
Está lançado o desafio.
* Analista político e assessor parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
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