Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

terça-feira, 23 de março de 2010

GREVE DE FOME EM CUBA - Piora estado de saúde de dissidente


Rodrigo Craveiro
Publicação: 23/03/2010 07:00



Clara Pérez Gómez vê o marido — o psicólogo e jornalista Guillermo Fariñas — desistir aos poucos da vida, em um ato de repúdio e protesto contra o governo de Cuba. “Eu não tenho medo da morte dele, mas estou muito preocupada e orei muito por nós”, afirmou a mulher ao Correio, por telefone. Segundo ela, o estado de saúde do dissidente político, em greve de fome e de sede há 27 dias, piorou muito na madrugada de ontem. A febre persistente levou os médicos a colherem material para um hemograma, sob suspeita de infecção. “A situação dele está se complicando. Reclama de dores de cabeça e nas articulações. Neste momento, está com 38,2 graus de febre, mas à noite chegou a 39”, disse Clara, às 17h de ontem (hora de Brasília).

Às 11h30, quando chegou à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Provincial Arnaldo Millian Castro, em Santa Clara (a 268km de Havana), ela encontrou o marido dormindo, sob o efeito de medicamentos. Clara diz respeitar a decisão do dissidente e começa a se preparar para o pior. “Não tenho muita esperança de que o governo de Cuba vá libertar os 26 prisioneiros políticos de consciência”, comentou. “O regime não faz concessões, não está acostumado a ceder”, acrescentou. Ela comentou ter a mesma opinião de Guillermo sobre a relação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os irmãos Fidel e Raúl Castro. “Lula está atuando como o regime cubano atua”, concluiu. Na última sexta-feira, em entrevista ao Correio, Guillermo Fariñas não poupou Lula, ao afirmar que ele é “tão assassino quanto Raúl e Fidel”.

Licet Zamora, porta-voz do dissidente político, confirmou à reportagem que Guillermo recebeu, no sábado, a visita do major Héctor de La Fé Freyre, chefe do Departamento de Atividades Contrarrevolucionárias. Foi a primeira autoridade de Cuba a se reunir com o jornalista. “O objetivo de Héctor foi solicitar que ele suspendesse a greve de fome, porque seu organismo já está muito deteriorado. Guillermo negou-se a atendê-lo. Não houve negociações. Ele não trouxe proposta alguma”, relatou. “Guillermo disse-lhe que não aceita o perigo de vida ao qual seus companheiros presos estão submetidos e pediu-lhe que fosse embora, pois estava cansado.” Ela relatou que o jornalista esboçou indignação. Segundo Licet, Guillermo reagiu com a seguinte frase: “Por que ele (Héctor) veio, se não há negociações possíveis?”, contou.

Germe
A assessora admitiu a possibilidade de Guilermo Fariñas ter contraído algum micro-organismo pela abertura do catéter que estava em seu pulso esquerdo, que precisou ser trocado. “Os médicos estudam lhe administrar um potente antibiótico. A febre é um indício de infecção”, comentou Licet. “Ele me disse que seu protesto pacífico continuará até que a demanda seja atendida.” Ela negou que a atitude de seu cliente seja uma forma de pressionar as autoridades. “Trata-se de uma questão humanitária. Não se entende que uma pessoa, apenas por pensar de modo diferente, tenha de cumprir uma pena de 25 ou 30 anos”, concluiu.

Entrevista com Clara Pérez Gomez, mulher do dissidente cubano Guillermo Fariñas


Entrevista com Licet Zamora, porta-voz do dissidente cubano Guillermo Fariñas




 


 

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