Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

domingo, 14 de março de 2010

GOVERNO LULA/ECONOMIA - Vem aí a 4ª alta de juros de Lula


Guinada da inflação no início deste ano pode levar o BC a adotar um novo arrocho na taxa Selic a partir da próxima quarta-feira. O aperto deve começar com uma alta de 0,5 ponto percentual, fazendo os juros básicos da economia passarem de 8,75% ao ano para 9,25%

Vicente Nunes
Publicação: 14/03/2010 09:38 Atualização: 14/03/2010 09:43


Se as apostas das maiores instituições financeiras do país — incluindo o Banco do Brasil — estiverem certas, o Banco Central começará, na próxima quarta-feira, o quarto ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic) (1) do governo Lula. A expectativa é de que o novo arrocho monetário comece com uma alta de 0,5 ponto percentual, dos atuais 8,75% para 9,25% ao ano. A possibilidade de esse movimento se consolidar ganhou força diante da saída de Henrique Meirelles da presidência do BC no fim deste mês. Ele começará o aperto que terá continuidade em abril, já com o banco sob o comando de Alexandre Tombini, atual diretor de Normas.

Pelos sinais emitidos dentro do BC, não há razão para o Comitê de Política Monetária (Copom) adiar a alta dos juros para conter as pressões inflacionárias que levaram as projeções para este ano a superar os 5% — como, muito provavelmente, se verá amanhã, com a divulgação da pesquisa semanal Focus, com opiniões de uma centena de analistas. A convicção é de que, mesmo não se estando diante de um surto inflacionário como os registrados em 2004 e 2008, há a necessidade de manter as expectativas dos agentes econômicos ancoradas no centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%, sobretudo em 2011.

Nas análises que estão sendo feitas dentro do BC, todos reconhecem que a inflação acumulada nos primeiros três meses do ano, que deve ficar ligeiramente acima de 2%, está “poluída” por fatores atípicos, entre eles, o reajuste das passagens de ônibus urbanos e das mensalidades escolares, além, é claro, dos alimentos, devido ao excesso de chuvas. Mas, com a atividade aquecida, levando o país a rapidamente superar o seu PIB potencial — até onde pode crescer sem gerar inflação —, o entendimento é o de que é preciso botar o pé no freio agora, para que o custo de se elevar a Selic mais à frente (em abril, por exemplo, como defende metade do mercado) não seja maior.

Ressalvas
Tal visão, porém, é acompanhada de várias ressalvas. Técnicos do Ministério da Fazenda reconhecem que há riscos no horizonte que justificam a espera de mais 45 dias para, então, o Copom iniciar o processo de alta dos juros. No mês passado, o BC mudou as regras dos depósitos compulsórios que os bancos são obrigados a fazer. A medida resultará em um “enxugamento” de pelo menos R$ 71 bilhões do sistema financeiro. Com isso, o crédito, que já está mais caro, ficará menos ofertado. As montadoras, por exemplo, atribuem a corrida que se viu nas últimas semanas por carros mais à escassez de recursos nos seus caixas, por causa dos compulsórios, do que ao fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), medida adotada no auge da crise mundial.

Também há incertezas quanto aos rumos da economia mundial, que continua fraquejando e com riscos de uma nova queda. A repetição de uma crise jogaria os preços das commodities (mercadorias com cotação internacional) para baixo, dando um forte alívio na inflação futura. “Não é à toa, portanto, que países como o Peru, o México, a Colômbia e a Turquia, que também estão crescendo com ameaça de inflação, estão preferindo esperar os ruídos diminuírem para definir se realmente há ou não necessidade de se elevar os juros”, diz um integrante da Fazenda. “De que adianta aumentar a Selic neste mês e, logo mais à frente, ter que diminuir a taxa? Um sobe e desce só criaria uma volatilidade desnecessária na economia”, acrescenta.

A economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, discorda. “Se há consenso de que os juros têm que subir, porque a inflação corre o risco de se distanciar do centro da meta(2), é melhor o BC agir logo”, destaca. Para Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra, deixar o aumento da Selic para abril é bastante temerário. Ela conta que, pelas suas coletas de preço, não está havendo o recuo esperado da inflação, depois de passados os reajustes pontuais de janeiro e fevereiro. Nas suas contas, o Índice de Preços ao Consumidor de Amplo (IPCA) de março ficará ao redor de 0,5% assim como o de abril. Com isso, já está contratada uma inflação de 5% neste ano e os riscos de a taxa de 2011 ficar acima da meta são grandes. “Por isso, mudamos nossa projeção de início do aumento dos juros de abril para março”, frisa.

Ajuste
Independentemente de o ajuste dos juros começar em março ou em abril, a aposta dos analistas não é de um choque. Pelo contrário. A Selic deverá caminhar entre 11,25%, na melhor das hipóteses, e 11,75%, na pior. Ou seja, o aumento deve ficar entre 2,5 e três pontos percentuais. Sendo assim, se confirmará o discurso de Henrique Meirelles de que, em todos os ciclos de aumento dos juros no governo Lula, o encerramento do processo se deu em um patamar inferior ao observado quando a taxa começou a cair.

“Não há a menor necessidade de o BC pesar a mão na Selic. O que ocorrerá com a política monetária será apenas um ajuste para colocá-la em um nível neutro, que não estimule o consumo além do necessário”, assinala Flávio Serrano, economista do Banco BES Investimento, que mantém a aposta de início da alta dos juros a partir de abril. Ele argumenta que as pressões inflacionárias estão sob controle e que o crescimento da economia, que se mostrou vigoroso no fim do ano passado, conforme o Produto Interno Bruto (PIB) divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última quinta-feira, está perdendo força. O avanço no quarto trimestre de 2009 ficou em 2%, taxa que, anualizada, significa avanço de 8%.

1 - Taxa Selic
O Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) é informatizado e se destina à custódia de títulos emitidos pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central, funcionando como registro e liquidação de operações com esses papéis. Esse sistema empresta o nome à taxa básica de juros, cujo percentual é definido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

2 - Variação de preços
A meta de inflação para 2010 foi definida em julho de 2008 pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). De acordo com essa determinação, o centro desse objetivo é 4,5% com dois pontos percentuais de tolerância para cima ou para baixo. Em obediência à resolução que fixou esse percentual, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, indicador oficial da variação de preços no país) terá de oscilar entre 2,5% e 6,5%.

"Se há consenso de que os juros têm que subir, porque a inflação corre o risco de se distanciar do centro da meta, é melhor o BC agir logo"
Zeina Latif, economista-chefe do Banco ING

"O que ocorrerá com a política monetária será um ajuste para colocá-la em um nível neutro"
Flávio Serrano, economista do Banco BES Investimento

O número
11,75%
Percentual máximo a que a taxa Selic pode chegar nesta nova fase de elevação
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