terça-feira, 16 de março de 2010

EMPREGOS E CONCURSOS - Mais assíduos da Academia Brasileira de Letras recebem R$ 9.000 por mês

FABIO VICTOR
da Folha de S.Paulo, enviado especial ao Rio
O que torna, afinal, uma cadeira na ABL tão concorrida e a eleição para a vaga tão renhida? "Esta é a mais equilibrada das 14 que eu já vi", segundo a acadêmica Ana Maria Machado, secretária-geral e uma das mais influentes da casa.
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Cecília Acioli/Folha Imagem
Piñon e Scliar ouvem instruções sobre leitor eletrônico
Piñon e Scliar ouvem instruções sobre leitor eletrônico
"Para mim o principal estímulo é o convívio. Onde vou encontrar esse conglomerado de inteligências? Pense na linhagem do poder. Essa casa já teve Machado [de Assis], [Joaquim] Nabuco, Euclydes [da Cunha], Rui Barbosa. Onde mais você encontraria essa plêiade de brasileiros?", opina Nélida Piñon.
"Fiz uma lista com nomes que são apontados como cotados para a academia e cheguei a 44. Mostra que a casa tem sedução, mas também a banaliza. Difícil saber onde termina o prestígio e começa o desprestígio", analisa o presidente da ABL, Marcos Vinicios Vilaça.
Para a maioria dos acadêmicos ouvidos, o que mais conta na decisão de concorrer são o prestígio e a troca intelectual.
Mas há mais. Há um salário de R$ 3.000 (chamado de "representação") para todos e jetons por presença nas sessões às quintas (R$ 1.000) e conferências às terças (R$ 500). Antes das sessões, o imortal assina a lista de presença e, ato contínuo, recebe um pequeno envelope com a féria. Cash.
Um acadêmico assíduo ganha, portanto, R$ 9.000 mensais, fora plano de saúde. Os diretores recebem um adicional e têm motorista à disposição.
Tema tabu
Trata-se de um tema tabu entre os imortais. Quase todos, a começar de Vilaça, desconversam quando questionados sobre dinheiro, sob a alegação que a ABL é uma entidade privada e que tocar no assunto é picuinha. "Não passa pela minha cabeça que alguém queira entrar aqui por dinheiro", diz Vilaça.
"Ninguém fala que a academia distribuiu R$ 5 milhões em prêmios nos últimos dez anos, dos livros que editamos, do polo cultural que temos. A imprensa não dá a mínima para essas coisas", queixa-se o ex-presidente Cícero Sandroni.
"Fingem que não querem [a remuneração], mas adoram", provoca Eduardo Portella.
Há também mimos eventuais. Recentemente, dentro da política de Vilaça de tornar a entidade "moderna sem ser modernosa", a ABL comprou cinco leitores de livros eletrônicos, que foram sorteados na sessão da última quinta.
Aluguel de imóveis
Embora o presidente se recuse em informar a receita da ABL, é fácil supor que não é pequena. Vem principalmente do aluguel de imóveis próprios, a começar de um prédio de 29 andares que pertence à academia no centro do Rio (dos quais a academia usa só dois), repleto de salas comerciais.
O edifício, chamado "Palácio Austregésilo de Athayde", em homenagem ao acadêmico que dirigiu a ABL e foi pródigo em arrecadar doações para a entidade, fica ao lado da sede antiga, o "Petit Trianon" das sessões e do chá das cinco. (Na quinta passada, além da infusão, havia frutas, tortas e biscoitos variados, sanduíches, almôndegas, queijo coalho e bolo de rolo, estes últimos uma exigência do pernambucano Vilaça.)
Na ata da penúltima sessão (de 5 de março), publicada em boletim interno da academia ao qual a Folha teve acesso, está registrado que o presidente Vilaça "disse ainda que a ABL está renovando os contratos de locação do Palácio Austregésilo de Athayde com um incremento acima de 40%".
Informa-se ali que "a ABL conseguiu algumas ajudas relevantes para romper a barreira das dificuldades". Bradesco Seguros e Previdência e Fiesp patrocinarão eventos da casa. Já com CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e Sul América, a ABL "está em negociações".

 

 

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