quinta-feira, 25 de março de 2010

CASO ISABELLA NARDONI - Termina interrogatório de Anna Jatobá


São Paulo - O interrogatório de Anna Jatobá terminou às 20h45 desta quinta-feira, no Fórum de Santana, na Zona Norte. Às 20h50, o juiz Maurício Fossen encerrou o quarto dia de julgamento do casal Nardoni, que será retomado nesta sexta-feira com debates da defesa e acusação.


A madrasta de Isabella afirmou que Ana Carolina Oliveira, a mãe da menina, vivia “infernizando” o casal. Segundo a acusada, Ana Carolina Oliveira mandava mensagens para o marido, Alexandre Nardoni, que acabava mostrando para ela. A madrasta contou que a relação mantida com a mãe de Isabella era basicamente via MSN e e-mail.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
No interrogatório, Jatobá contradisse uma das versões apresentada pelo marido. Horas depois de Alexandre ter garantido que não colocou a cabeça para fora da janela para ver a menina caída no jardim porque estava com o filho no colo, a madrasta da menina disse que ele olhou para baixo, pela janela, enquanto contava passo a passo o que o aconteceu na noite do crime.


"Assim que entramos no quarto eu vi a janela aberta e uma gota de sangue bem próxima da cama do Pietro. O meu marido foi até a janela, colocou a cabeça para fora, virou-se para mim, já branco e disse 'Carol, a Isabella está lá embaixo', disse ela, para em seguida contar como foi sua reação.


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"Comecei a gritar. Não sei se falei palavrões. Só sei que coloquei o joelho na cama e, quando vi a Isabella lá embaixo, comecei a gritar desesperadamente", disse, afirmando que tanto ela como Alexandre estariam cada um com um dos filhos no colo no instante em que foram até a janela.


Jatobá caiu novamente em contradição durante o questionamento de Cembranelli. Primeiro, ela disse que a menina já havia sido socorrida enquanto dialogava com Alexandre Nardoni e o policial que foi registrar a ocorrência. Porém, ao ser questionada sobre o que havia respondido quando Alexandre pediu para ela subir e verificar se não tinham roubado nada, ela teria respondido ao marido: "Eu não vou coisa nenhuma porque a Isabella está precisando de socorro". Percebendo que caiu em contradição, ela disse que havia se enganado. "O corpinho dela ainda estava na grama".


O promotor questionou se Anna Carolina Jatobá é uma pessoa nervosa e a ré respondeu: "nervosa não, eu tenho gênio forte. Eu chorava muito logo depois que o Cauã nasceu. Eu tinha uma casa e meus filhos para cuidar. Por isso chorava muito".


Francisco Cembranelli indagou Anna Carolina Jatobá sobre a fralda que teria sido usada para limpar o sangue no chão do apartamento dos Nardoni. O promotor estranhou ter apenas uma fralda suja no balde em uma casa com crianças pequenas. Anna Carolina Jatobá respondeu: "foi Nescau que escorreu na fralda"


O promotor disse que estranhou o fato de eles terem sido pressionados pela polícia e não terem levado isso a público. Cembranelli questionou se Alexandre Nardoni ou Antônio Nardoni teriam levado a informação para os seus advogados. Anna Carolina Jatobá disse que não se recordava se eles tinham dito aos advogados.


Cembranelli questionou se Anna Carolina Jatobá tinha conhecimento de um acordo tentado pelo delegado Calixto Calil Filho para que Alexandre Nardoni assumisse a culpa no assassinato de Isabella. Ela afirmou que não sabia do acordo, mas que sabia que Alexandre tinha sido pressionado a assumir a culpa. "O Alexandre conversou com meu sogro e os dois ficaram indignados com isso".


Com as pernas cruzadas e uma das mãos no microfone, Anna Carolina admitiu que "aumentou" e "inventou" informações durante seu depoimento à polícia. Como exemplo falou antes que apanhava de seu pai. Ela disse também que não mencionou que havia perdido a chave do apartamento. Questionada pelo promotor sobre a ausência dessa informação, afirmou que não falou sobre isso porque estava nervosa e porque “esqueceu”. Por diversas vezes, o promotor apontou contradições entre o primeiro e o segundo depoimentos dados à polícia na época da morte de Isabella.
Arte O Dia
Arte O Dia
Jatobá começou a ser interrogada às 16h30, negando todas as acusações. Por conta de sua voz embargada e fala rápida, o juiz Maurício Fossen pediu para que ela falasse mais devagar. Logo que o juiz leu a acusação e fez a primeira pergunta, a mulher de Alexandre Nardoni começou chorar diante do júri. "A senhora está ciente do crime?", questionou Fossen, antes de ver a mulher de Nardoni cair em lágrimas e dizer que a acusação era "totalmente falsa". Assim como Nardoni, Jatobá não respondeu algumas perguntas, dizendo que não se lembrava ou não sabia por que estava muito nervosa no dia, mas garantiu que não esganou a menina.


Jatobá admitiu brigas com Alexandre. "Antes de ter o Pietro, nós brigávamos muito. Depois de meu filho nascer, eu amadureci." Juiz perguntou se havia algum motivo em especial para as brigas. Ela respondeu que não. Ela contou ainda que um policial a puxou forte pelo braço para "levá-la a uma diligência". De volta ao apartamento, passaram a pressioná-la para que entregasse o companheiro. "Ele tem curso superior e fica em cela especial, você não. Você é uma filhinha de papai, tem noção de como é uma cadeia?", teriam dito os policiais.


Anna Jatobá disse que na quarta-feira anterior à morte da menina (sábado) a enteada havia pedido para que o irmão Pietro fosse na casa dela. Ela disse que ligou para Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella, e que concordou com o pedido da filha: 'Tia Carol, deixa o Pietro ir na minha casa... Eu disse que sim", contou a madrasta quase chorando.


Jatobá disse que Isabella passou o dia de sexta-feira com ela, na piscina, ao lado do irmão Cauã, filho mais novo do casal. Em seguida, juntas - as duas e uma amiguinha da menina, que seria também afilhada de Alexandre Nardoni - teriam ido buscar Pietro na escolinha.


Anna Jatobá disse que pegava com frequência Isabella no colégio e ligava para a mãe dela, explicando ao juiz que o relacionamento das duas não era ruim, como todos pensam. Anna Carolina está vestida com uma calça jeans, uma camisa azul, um tênis e o cabelo está preso. Mostrando intimidade, ela se refere à ex de Nardoni o tempo todo como "Carol" e à Isabella, apenas como "Isa".


Sobre o dia da morte da menina, ela disse que teriam que ir ao supermercado, mas antes passaram na casa da mãe de Jatobá, já que um de seus filhos com Alexandre estava com febre. Na casa da mãe, Isabella tomou refrigerante e derramou na blusa. Teve que trocar e usou uma roupa do meio-irmão.


Foram ao supermercado e na volta não houve incidente nenhum. “Não discutimos , era uma família normal”, disse. E acrescentou: "Queria deixar uma coisa bem clara; não tinha fralda nenhuma no carro. A bolsa dos meninos estava no porta-malas do carro." A fralda encontrada no balde do apartamento tinha sido usada na sexta-feira ou no sábado.


Já no estacionamento do Edifício London, Alexandre teria perguntado qual dos três filhos levaria primeiro. Mas antes de ouvir uma resposta, ele pegou a Isabella, pois ela estava atrás dele. Colocou-a no colo e saiu. Depois que Alexandre saiu com a filha, chegou um carro preto com som alto. Ela ouviu vozes de gente jovem. Quando Alexandre voltou, ela não viu mancha alguma na camiseta de Alexandre.


Após cair aos prantos no início do depoimento, Jatobá chorou mais uma vez ao ser questionada pelo juiz sobre como era sua relação com Isabella. "Era muito boa, eu cuidava dela", disse entre lágrimas.


O promotor fez questão de reforçar que Anna Carolina Jatobá mudou em vários pontos o seu discurso nos diferentes depoimentos que prestou a polícia. Cembranelli citou o fato de ela não ter citado que perdeu a chave de casa. Ela insistiu que nem todos os depoimentos a questionaram sobre o assunto. "Minha cabeça estava a mil, se alguém tivesse me perguntando se eu estava com a chave, eu responderia".


O caso


A menina Isabella tinha 5 anos quando foi encontrada ferida no jardim do prédio onde moravam o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, na Zona Norte de São Paulo, no dia 29 de março de 2008. Segundo a polícia, ela foi agredida, asfixiada, jogada do sexto andar do edifício e morreu após socorro médico. O pai e a madrasta foram os únicos indiciados, mas sempre negaram as acusações e alegam que o crime foi cometido por uma terceira pessoa que invadiu o apartamento.


O júri popular do casal começou em 22 de março e deve durar até sexta-feira. Pelo crime de homicídio, a pena é de no mínimo 12 anos de prisão, mas a sentença pode passar dos 20 anos com as qualificadoras de homicídio por meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e tentativa de encobrir um crime com outro. Por ter cometido o homicídio contra a própria filha, Alexandre Nardoni pode ter pena superior à de Anna Carolina, caso os dois sejam condenados.


Em três dias de julgamento do caso Isabella, sete testemunhas foram ouvidas pelo juiz Maurício Fossen. Nesta quarta-feira, oito testemunhas de defesa foram dispensadas pelo advogado do casal Nardoni.



 


 

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