Plano Collor: duas décadas após confisco, país tem 900 mil ações na Justiça para resgatar R$ 50 bilhões
BRASÍLIA e RIO - Em cadeia nacional de rádio e televisão, o Brasil inteiro foi pego de surpresa quando a então ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, anunciou solenemente que o governo havia confiscado as economias dos brasileiros. Nas contas bancárias, restaram apenas saldos até 50 mil cruzados novos - em valores atuais, corrigidos pelo INPC, R$ 4.142. Era 16 de março de 1990, uma sexta-feira, dia seguinte à posse do presidente Fernando Collor de Mello. A medida deixou o país em frangalhos, sem ideia de como tocaria a vida.
Duas décadas se passaram e o Plano Collor ainda é uma ferida aberta. Sobretudo nos tribunais, onde ainda tramitam 890 mil ações individuais e 1.030 coletivas, em nome de um número incalculável de poupadores de todo o país, mostra reportagem Geralda Doca e Carolina Brígido, publicada neste domingo pelo GLOBO.
A contabilidade das ações foi feita pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e refere-se a perdas causadas pela falta de correção dos valores inferiores a 50 mil cruzados novos, que ficaram nas contas bancárias ou em cadernetas de poupança. Em caso de vitória em massa, os bancos seriam obrigados a pagar R$ 50,5 bilhões aos poupadores, para compensar perdas financeiras com a medida, segundo o Ministério da Fazenda. O governo considera o valor suficiente para desestabilizar o sistema financeiro nacional. Até hoje, só R$ 1,8 bilhão foi desembolsado.
O futuro dos bancos está nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF), que julgará uma ação proposta no ano passado pela Confederação Nacional do Sistema Financeiro (Consif). A entidade pede a suspensão, por liminar, de qualquer decisão judicial referente à reposição de supostas perdas decorrentes dos planos econômicos editados entre 1986 e 1991 - Plano Collor, inclusive. Essa suspensão duraria até que o STF unificasse o entendimento da Justiça sobre o assunto. A decisão é aguardada para este ano.
Prazo para ação termina dia 30
A pendenga judicial envolve também a União, em 9.937 processos contra o BC. Segundo decisão do Supremo, cabe à autarquia responder pelos valores bloqueados, superiores a 50 mil cruzados novos. Não é mais possível recorrer à Justiça contra o Banco Central (BC), pois o prazo para essa reclamação já expirou. O prazo para entrar com ações contra os bancos, para pleitear a correção de valores inferiores a 50 mil cruzados novos, vence em 30 de março.
Apesar de incentivar as pessoas a irem à Justiça, o próprio Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) admite que o caminho é árduo. O desfecho das decisões judiciais não tem favorecido os poupadores. Das 154,4 mil ações contra o BC, relativas a vários planos, inclusive Collor, 144,5 mil foram julgadas a favor da instituição.
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