sábado, 6 de fevereiro de 2010

Veja vídeo da negociação do suborno de testemunha do mensalão do DEM

Suposto emissário de Arruda foi preso ao entregar R$ 200 mil a Sombra.
Vídeos gravados por Edson dos Santos, o Sombra, mostram negociações.
Nathalia Passarinho, Diego Abreu e Rafael Targino Do G1, em Brasília

Vídeos obtidos pelo G1 mostram as negociações da suposta tentativa de suborno do jornalista Edmilson Edson Moraes, conhecido como Edson Sombra.

Veja ao lado um dos vídeos da negociação (Tempo: 6 minutos)

Ele é considerado uma das peças-chave do mensalão do DEM de Brasília e teria sido responsável por convencer o ex-diretor de Relações Institucionais do Distrito Federal Durval Barbosa e delator do suposto esquema de propina a aliados do governador José Robeto Arruda (sem partido, ex-DEM).

Na quarta-feira (3), o funcionário aposentado da Companhia Energética de Brasília (CEB), Antonio Bento da Silva, suposto emissário do governador Arruda, foi preso em flagrante ao tentar subornar Edson Sombra. O jornalista denunciou a tentativa de “comprá-lo” à Polícia Federal e fez gravações do processo de negociação.

Em depoimento à PF, Sombra disse que Arruda, através do intermediário, teria proposto R$ 1 milhão, uma conta garantida no Banco de Brasília, e verbas para o jornal do qual é dono, em troca de apoio para prejudicar a Operação Caixa de Pandora, que investiga o suposto esquema de corrupção no DF.

Bento confirmou à PF que entregou dinheiro a Sombra. No entanto, ele disse que a articulação foi feita por Rodrigo Arantes, sobrinho e secretário particular do governador.

Os vídeos gravados por Sombra revelam a negociação de valores a serem pagos em troca de um documento no qual o jornalista afirmaria serem falsas as imagens divulgadas por Durval Barbosa, que mostram o governador, membros do governo e deputados distritais recebendo maços de dinheiro.
Confiança
Em um dos vídeos, Sombra demonstra desconfiança de que o suposto suborno seria uma armação de Arruda para “desmoralizar” a denúncia de Barbosa. Antonio Bento tenta convencer o jornalista de que ele pode confiar na proposta. O suposto emissário de Arruda se propõe a ir até o Banco de Brasília (BRB) para abrir uma conta para o jornalista.

  • Aspas Sabe o que ele falou para mim? Falou, Bento, pode falar para ele que ele pode confiar em mim. Que eu (Arruda) vou dar dois milhões para ele não prejudicar"
“Você pode confiar nele [Arruda]. Eu posso ir até o BRB agora e forçar uma barra”. Bento fala  ainda de um pagamento de R$ 2 milhões em troca de colaboração. “Sabe o que ele falou para mim? Falou, Bento, pode falar para ele que ele pode confiar em mim. Que eu [Arruda] vou dar dois milhões para ele não prejudicar’”, diz Bento. “Eu nunca vi esses R$ 2 milhões”, rebate Sombra.

À PF, o jornalista disse que a proposta inicial do suborno era de R$ 2 milhões. No decorrer das negociações o valor chegou a R$ 3 milhões, mas a proposta final ficou em R$ 1 milhão.

Em outro vídeo, Sombra reclama da demora na conclusão da negociação.
“Isso vai dar m.... Você sabe que ele [Arruda] mente com uma propriedade... Você falou segunda, terça e quarta, e você deixa pra quinta, sexta”, diz Sombra.
Garantia
Em outro trecho da gravação, Sombra afirma que o documento que precisaria assinar para receber o dinheiro pode comprometê-lo e não garante que ele vá receber quantia supostamente prometida por Arruda.

“Vai ficar eu no papel e ele na palavra. Eu vou poder cobrar essa dívida quando?” diz Sombra. “Ele [Arruda] pediu para confiar nele”, argumenta Bento.

Em uma das reniões, na casa de Sombra, Antonio Bento sugere que o jornalista escolha um local e horário para a entrega do dinheiro e fala do documento que teria de ser assinado para concretizar o acordo.


“Então, me dá a carta”, diz Bento. Sombra volta a demonstrar desconfiança: “Não dou, sei o que esse cara tá armando. Você é doido, rapaz. Como é que você que é um cara de confiança dele, ele não te entrega [o dinheiro]”.
 
“Só fala assim, tal hora, em tal lugar”, argumenta o suposto emissário de Arruda. “Não quero ninguém na minha casa não”, diz Sombra. “Onde você queria receber? Marca que horas?”, insiste Bento. “Eu não vou resolver o que se resolveu em 30 dias em 30 minutos”, recua o jornalista, que volta a alertar Bento sobre uma possível armação de Arruda.

“Antonio Bento da Silva, essa carta não sai daqui, porque se isso acontecer eu tô vulnerabilizando você, eu tô tornando você um cara super vulnerável [...] Tô te falando rapaz. Ô Bento, você não é super homem. Tá todo mundo em polvorosa, preocupado comigo”.
Valor final
Em um encontro posterior Antonio Bento relata que o governador está tendo dificuldades em angariar o dinheiro para o suborno e propõe R$ 1 milhão em parcelas de R$ 200 mil.

“Está complicando tudo. Aí ele [Arruda] falou… tá complicando tudo, pra conseguir [o dinheiro]”, diz Bento. “Em mais quatro meses te dou R$ 1 milhão”, propõe o suposto emissário do governador. “R$ 200 mil por mês. Você pode ter certeza que eu vou cumprir tudo”, promete Bento.

  • Aspas Em mais quatro meses te dou R$ 1 milhão. R$ 200 mil por mês. Você pode ter certeza que eu vou cumprir tudo"
Bento e Sombra marcaram o encontro para às 9h de quarta-feira (3) em uma lachonete no Sudoeste, bairro nobre de Brasília. O suposto emissário de Arruda foi preso ao entregar uma sacola com R$ 200 mil a Edson Sombra.
Outro lado
A assessoria do governo do Distrito Federal afirma que os depoimentos reforçam a suspeita de “armação”. Negam também que o governador tenha mandado qualquer emissário até Sombra para negociar um possível suborno. A defesa do governador afirma que a data que aparece nos vídeos não confere com a denúncia de tentativa de suborno.

A assessoria disse ser possível que Antonio Bento tenha tido alguns encontros com o sobrinho de Arruda. Isso, no entanto, seria normal porque Rodrigo Arantes é responsável por atender as pessoas que procuram o governador.

Segundo o GDF, Antonio Bento procurou Rodrigo para que este intermediasse um encontro de Sombra com Arruda. O pedido teria sido negado.

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